Em discurso a apoiadores neste sábado, em Caruaru (PE), o presidente Jair Bolsonaro defendeu que integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF) sejam "enquadrados" e voltou a falar em "ruptura”. Em outras ocasiões, ele já atacou publicamente os ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, que também é presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Moraes é o relator do inquérito das fake news, que apura a divulgação de informações falsas, no qual o presidente da República figura como investigado.
"O nosso Supremo Tribunal Federal não pode ser diferente do Poder Executivo ou do Poder Legislativo. Se lá tem alguém que ousa continuar agindo fora das quatro linhas da Constituição, aquele poder tem que chamar essa pessoa e enquadrá-la e lembrar-lhe que ele fez um juramento de cumprir a Constituição. Se assim não ocorrer, (...) a tendência é acontecer uma ruptura", disse Bolsonaro.
O presidente continou: "Ruptura essa que eu não quero nem desejo. Tenho certeza (que) nem o povo brasileiro assim o quer. Mas a responsabilidade cabe a cada poder. Apelo a esse outro poder, que reveja a ação dessa pessoa que está prejudicando o destino do Brasil".
Bolsonaro discursou num estacionamento de um centro comercial de Caruaru, após participar de um passeio de moto pela cidade. Bolsonaro voltou a convocar seus apoiadores para manifestações antidemocráticas no feriado de 7 de setembro. Afirmou querer uma foto em Brasília e em São Paulo.
"O retrato do povo servirá para mostrar para esses que ousam não respeitá-los, que ousam não mais se submeter à nossa Constituição, eles serão colocados no devido lugar", afirmou.
Alexandre de Moraes incluiu Bolsonaro como investigado no inquérito das fake news em razão dos ataques às urnas eletrônicas e, em outros despachos, determinou a prisão preventiva de aliados do presidente sob suspeita de ameaça à democracia. O deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) e o presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, foram presos, entre outros aliados do Palácio do Planalto.
Para criticar Moraes, Bolsonaro costuma apelar a “liberdade de expressão”. O presidente já chegou a pedir o impeachment do ministro do STF, que foi arquivado pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG).
"Não estaremos lá (nas manifestações) apenas para fazer figuração. Estaremos lá para mostrar a todos que não admitiremos mais, quem quer que seja, ignorar a nossa Constituição", afirmou.
Bolsonaro também repetiu que respeita o que chama de “quatro linhas da Constituição” e que o “povo” é o poder moderador.
"Eu sou chefe de um poder. Existem mais dois poderes em Brasília. Nesses três poderes, ninguém é mais soberano que o povo. Temos um ou outro saído da normalidade. Temos um ou dois jogando fora das quatro linhas da Constituição. Nós jogamos dentro das quatro linhas. Mas o povo, como poder moderador, não pode admitir que nenhum de nós jogue fora dessas quatro linhas".
Um dia antes, em Tanhuaçu, sudoese baiano, o presidente afirmou que as manifestações da próxima terça-feira servirão como um ultimato a ministros do STF.
Presença em evento
Horas depois de falar que as manifestações marcadas para o dia 7 de Setembro serviriam para enquadrar ministros do Supremo, o presidente Jair Bolsonaro discursou a apoiadores em um evento para conservadores em Brasília e afirmou que “não invadiremos prédios”. O presidente, no entanto, criticou governadores que querem punir policiais militares que participarem dos protestos.
Um levantamento do GLOBO neste sábado mostrou que em ao menos oito estados governadores afirmam que não irão aceitar a participação de oficias nos protestos. A participação de policiais militares é polêmica e governadores temem que, com uma radicalização política do país, motins possam se espalhar em diversos estados.
"Hoje vocês veem alguns governadores ameaçando expulsar PMs que compareçam para festejar o 7 de setembro. Quem falar 'Eu não sou PM, não tenho nada a ver com isso' aguarde que sua hora vai chegar" afirmou.
Apesar de ter citado mais cedo sobre uma “ruptura”, o presidente afirmou a apoiadores que espera uma manifestação pacífica. Bolsonaro citou que deverá participar de manifestações na Esplanada dos Ministérios pela manhã e na Avenida Paulista à tarde.
Nas duas cidades, os governos locais reforçaram a segurança, sobretudo pelo fato de que também são esperadas manifestações contrárias ao governo para o mesmo dia. Na Praça dos Três Poderes, o prédio do Supremo também deverá ter sua segurança reforçada.
"Nossos PMs de serviço nunca tiveram um problema sequer (nos protestos). Nunca viram um pneu queimado. Uma agência depredada. Somos pacíficos. Nunca invadimos nem invadiremos nenhum prédio", afirmou Bolsonaro.
O presidente participou de última hora da CPAC, conferência conservadora organizada e promovida pelo seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro. Durante a manhã, Bolsonaro realizou uma motociata em Pernambuco. Ao chegar em Brasília, por volta das 16h15m, foi direto para o evento.
No discurso, o presidente estava acompanhado de diversos ministros e também ex-ministros, como Ricardo Salles, que ocupava a pasta do Meio Ambiente, e Ernesto Araujo, que comandou o Itamaraty.
Outros auxiliares do presidente também estavam presentes, incluindo o presidente da Fundação Palmares, que na semana passada foi denunciado por assédio moral e perseguição ideológica na entidade.