O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luís Roberto Barroso, afirmou nesta quinta-feira que jamais foi documentado um episódio de fraude nas eleições realizadas com as urnas eletrônicas e que o discurso de "se eu perder houve fraude" é um discurso de quem "não aceita a democracia", uma vez que o atual sistema consagra a democracia, já que permite a alternância de poder.
As falas do ministro ocorrem no mesmo dia em que Bolsonaro prometeu revelar, em sua live semanal, supostas “provas de fraude” na contagem de votos do segundo turno da eleição presidencial de 2014, quando Dilma Rousseff (PT) foi reeleita, vencendo Aécio Neves (PSDB).
"Em 2014, o partido do candidato derrotado pediu auditoria do sistema, que foi feita, e o próprio candidato reconhece que não houve fraude. Isso não aconteceu. Nunca se documentou, por que o dia que se documentar, o papel da Justiça Eleitoral é imediatamente apurar. Uma fraude exigira que muita gente no TSE estivesse comprometida. Ia ser uma conspiração de muita gente. Não há precedente e não há razão para se mexer num time que está ganhando", disse Barroso.
O ministro participou da solenidade de inauguração da nova sede do Tribunal Regional Eleitoral do Acre, e foi homenageado com a medalha da ordem da Justiça Eleitoral do estado. Em seu discurso, com fortes recados em defesa da democracia e do atual sistema eleitoral brasileiro, o presidente do TSE reafirmou a segurança das urnas eletrônicas e disse que a democracia é um "espaço de convivência de pessoas que pensam diferente".
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"[Na democracia] só não tem lugar para a intolerância, para a pressão, para a violência. Tudo nessa vida pode ser feito com respeito e consideração pelo outro. Uma causa que precise de ódio, de mentira, de desinformação, de agressividade, de grosseria não pode ser uma causa boa —, afirmou o ministro, que vem sendo alvo de ataques por parte de Bolsonaro em razão do trabalho institucional que vem fazendo em defesa da urna eletrônica."
Segundo o presidente do TSE, há uma crença de pessoas de boa fé de que o voto impresso apenas traria um mecanismo a mais de auditoria. um argumento que, na visão do ministro, parece lógico, mas não é verdadeiro. Na avaliação dele, porém, o voto impresso não pode ser usado como mecanismo de auditoria pela "singela razão de que o voto impresso é menos seguro do que o voto eletrônico". O ministro citou problemas como transporte, fraude, sigilo, custo e licitação tormentosa.
"É um consenso de que essa é uma mudança para pior. E essa é a única razão que nos motiva a defender o sistema pelo qual foi eleito o presidente Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, Dilma Rousseff, do PT e Jair Bolsonaro, do PSL. É um sistema que consagra a democracia, por que uma das características da democracia é a alternância de poder. É reconhecer a possibilidade de que quem pensa diferente pode vencer", ressaltou.
Presente na solenidade em que Barroso foi homenageado, o governador do Acre, Gladson Cameli (PP), tido como aliado de Bolsonaro, disse confiar na "legalidade das urnas eletrônicas e da vontade popular" e agradeceu o poder Judiciário no combate à pandemia de covid-19.