O vereador de São Paulo Arnaldo Faria de Sá (PP) fez uma declaração racista durante um discurso no plenário virtual da Câmara Municipal, nesta segunda-feira, e causou indignação dos colegas. Ele usou as expressões "negro de alma branca" e "negro de verdade" para se referir ao ex-prefeito Celso Pitta, durante um pronunciamento sobre o Projeto de Intervenção Urbana do Setor Central.
"Eu me preocupei com um negro, que era o Pitta, o prefeito da capital, que estava escorraçado, estava sendo atacado, vilipendiado. Derrotei o impeachment, ele levou seu mandato até o final. Eu estava preocupado com um negro de verdade, negro de alma branca, como as pessoas costumam dizer", disse Faria de Sá.
A declaração provocou repúdio imediato dos colegas, e Faria de Sá se desculpou publicamente pelo que havia dito. Ao fim da sessão, vereadores foram à tribuna para repreender o comentário e manifestar solidariedade à luta antirracista.
"Não resta dúvidas de que foi uma fala absolutamente repugnante, racista, e, corrigindo aqui o vereador Adilson Amadeu, não foi somente ofensiva, foi absolutamente criminosa. É inadmissível em um país que passa e sofre com racismo constantemente, de maioria negra", declarou Fernando Holiday (Novo), que é negro.
A conservadora Sonaira Fernandes (Republicanos), apoiadora do presidente Jair Bolsonaro e também negra, também pediu espaço para resposta e lembrou que racismo é crime.
"Eu quero deixar registrado aqui o meu repúdio às palavras do vereador. Independente da posição que cada um esteja, independente da discussão acalorada, das desavenças que nós temos aqui, das discordâncias, nós não podemos de maneira nenhuma proferir frases que eu prefiro não repetir. Não podemos passar pano para o racismo. Não podemos admitir que o racismo seja naturalizado. Eu aprendi uma coisa com a minha vó: a boca fala do que o coração está cheio. Não aceitamos o racismo, racismo é crime", afirmou Sonaira.
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Brancos, o vereador Eduardo Suplicy (PT) e Xexéu Tripoli, líder da bancada do PSDB, manifestaram apoio aos colegas negros e disseram não haver espaço para o racismo na Casa.
"Com muita tristeza eu venho aqui em nome da bancada do PSDB, num lugar que nem é lugar da minha fala, da fala do branco. Não podemos deixar passar, não podemos, como a Sonaira falou, passar pano. O nosso país tem a maioria preta e a gente está aqui tentando reverter tudo o que o nosso passado fez. (Devemos) repudir esse tipo de fala em qualquer local, na rua, na escola, na sua casa", disse Tripoli.
Paula Nunes, covereadora negra do mandato coletivo Bancada Feminista do PSOL, afirmou que o partido vai entrar com uma denúncia na corregedoria da Câmara contra Faria de Sá, por quebra de decoro, e também fazer uma representação criminal no Grupo Especial de Combate aos Crimes Raciais e de Intolerância, do Ministério Público de São Paulo.
Milton Leite (DEM), presidente da Câmara, afirmou em nota que a Casa "não vai tolerar ato de racismo" e que "nesta luta contra o racismo estamos juntos, não há ideologia ou partido que nos separa".
"Como negro que sou, a fala racista do vereador Arnaldo Faria de Sá machuca, atinge nossa população e é inadmissível", disse Leite.