Ricardo Nunes (MDB), prefeito de São Paulo
Afonso Braga/Câmara Municipal de São Paulo
Ricardo Nunes (MDB), prefeito de São Paulo

Ricardo Nunes (MDB), atual prefeito de São Paulo , é alvo de uma investigação da Polícia Civil por suspeita de participar de um esquema de lavagem de dinheiro desviado da Prefeitura nos dois últimos anos em que foi vereador. Depósitos feitos nas contas bancárias da empresa de Nunes, da esposa e dos filhos dele estão sendo apurados, após alerta de órgãos de controle.

Além dos depósitos, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que emite alertas para transação em espécie em valores elevados para prevenir lavagem de dinheiro, identificou movimentações financeiras suspeitas de entidades que gerenciavam creches de São Paulo e eram comandadas por Nunes.

Uma parte dos recursos da Prefeitura enviados para essas entidades passou por contas de empresas que, para a polícia são de fachada, e depois foi parar nas contas dos gestores. A Polícia Civil avalia dois depósitos em dinheiro, no total de R$ 150 mil, feitos na conta bancária de uma dedetizadora registrada no nome do prefeito e de seus familiares.

Entenda a investigação

De acordo com o jornal O Estado de S. Paulo, a organização social Associação de Moradores Jacinto Paz recebeu R$ 20,6 milhões da Prefeitura de São Paulo entre 2019 e 2020 para gerenciar cinco creches em Santo Amaro, reduto eleitoral de Ricardo Nunes. 1,5 milhão desse dinheiro foi depositado para duas empresas: uma construtora, WMR, e uma distribuidora de material escolar, Águia – o que chamou a atenção do Coaf, já que ambas empresas são registrados como de pequeno porte.

Segundo o alerta do Coaf, a WMR e a Águia também fizeram transferências bancárias suspeitas. Foi identificada uma série de pagamentos para a conta de uma outra empresa no nome de Gilson dos Santos, presidente da associação Jacinto Paz, que depois foram parar na conta pessoal dele. Além disso, as empresas fizeram saques em espécie e compensações de cheques, que dificultam o rastreamento do dinheiro.

A associação Jacinto Paz é presidida por Gilson dos Santos e sua esposa, Andrea Miranda. Ela trabalhou na campanha que reelegeu Ricardo Nunes vereador em 2016. Ainda de acordo com o Estadão, Andrea aparece na prestação de contas da campanha entre as “despesas com pessoal”. 

A investigação da Polícia Civil envolve também a Associação Amigos da Criança e do Adolescente (Acria), uma entidade sem fins lucrativos contratada pela Secretaria Municipal de Educação, ligada ao prefeito Ricardo Nunes. O Coaf identificou que as empresas WMR e Águia fizeram 29 repasses para a entidade entre deembro de 2018 e setembro de 2020, totalizando R$ 974 mil.

A presidente da Acria, Elaine Targino, também trabalhou com o Ricardo Nunes, tendo sido funcionária de uma de suas empresas entre 2005 e 2008. Quando ele se tornou vereador, Elaine passou a ser vista pedindo votos para ele nas redes sociais. Nas eleições passadas, Elaine fez campanha para Marcelo Messias (MDB), que se elegeu apoiado por Nunes.

A polícia apura as razões das transferências para a Acria, já que a entidade não presta outros serviços além da gestão de creches para a Prefeitura de São Paulo. As entidades Acria e Jacinto Paz e as empresas a WMR e Distribuidora Águia não se pronunciaram.

O inquérito teve início em dezembro de 2020 e segue em segredo de justiça. A apuração dos fatos é uma nova frente de investigação contra Ricardo Nunes, que já foi alvo de um processo na Promotoria de Justiça do Patrimônio Público e Social de São Paulo por suspeitas com a “Máfia das Creches” - na qual não foram encontrados indícios contra ele.

Ricardo Nunes afirmou em nota ao jornal O Estado de São Paulo que “não há depósitos sem origem” na conta de sua empresa. Apesar disso, ele não informou quem fez os pagamentos que levaram o Coaf a emitir o alerta.

A Prefeitura de São Paulo nega que haja uma investigação policial contra o prefeito Ricardo Nunes. Em nota disse que Nunes não tem relações nem proximidade com as pessoas citadas na investigação e afirmou que a prefeitura “repudia veementemente as reiteradas tentativas de colocar em dúvida a reputação do prefeito”. 

A nota da prefeitura ainda afirma que Ricardo Nunes “está à disposição das autoridades competentes para prestar eventuais esclarecimentos, como já o fez em outras apurações já encerradas por não comprovarem irregularidades” e que “o prefeito sempre se pautou pela lisura e legalidade em suas atividades privadas e na sua vida pública.”

Nunes comanda a Prefeitura de São Paulo desde o início do mês, quando o prefeito Bruno Covas (PSDB) se afastou para se tratar de um câncer. Ele assumiu o cargo em definitivo na semana passada, após a morte de Covas. Antes de ser eleito vice, em 2018, Nunes foi vereador por dois mandatos, de 2012 e 2020.

- Com informações do jornal O Estado de São Paulo.

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