Renan Calheiros, relator da CPI da Covid
Jefferson Rudy/Agência Senado
Renan Calheiros, relator da CPI da Covid

Parlamentares governistas preparam um documento para pleitear na Justiça a parcialidade do senador Renan Calheiros (MDB-AL) como relator da CPI da Covid. Trata-se de uma coletânea de declarações dadas por Renan durante as sessões da comissão que revelariam a suposta intenção de pré-julgar o presidente Jair Bolsonaro.

A iniciativa da deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) conta com o apoio de deputados e senadores alinhados com o Planalto. Integrantes da comissão também começaram a levantar material para desenvolver um relatório alternativo, já antevendo os ataques que devem vir na proposta de Renan. Paralelamente, a Casa Civil também tem feito internamente anotações referentes a atitudes de Renan durante a CPI.

Carla Zambelli já havia tentado, por via judicial, sem sucesso, impedir que Renan Calheiros assumisse a relatoria antes de a CPI ser instalada. A nova ofensiva judicial de Zambelli contra Renan deverá ocorrer assim que o relatório do senador for apresentado.

"A CPI é 100% suspeita. O relator ameaça e fica nervoso quando o depoente não bate no presidente Jair Bolsonaro. Mesmo antes da coleta de depoimentos e do avanço das investigações, já percebemos o pré-julgamento que tem como foco o presidente, quando o relator falou, no discurso de abertura, em apurar se "houve genocídio", argumenta Zambelli, afirmando que Renan pediu a prisão do ex-secretário de Comunicação Fabio Wajngarten para ameaçá-lo e intimidá-lo.

Uma das declarações de Renan Calheiros coletadas por Carla Zambelli é referente ao discurso de abertura do relator, em 17 de abril. Disse Renan: "Na pandemia, o ministério foi entregue a um não especialista, um general. O resultado fala por si: no pior dia da Covid, em apenas quatro horas, o número de brasileiros mortos foi igual a todos que tombaram nos campos de batalha da segunda guerra". Para Carla Zambelli, essa fala configuraria "um dos pré-julgamentos" feitos por Renan.

Vice-líder do governo no Congresso, Marcos Rogério (DEM-RO) também segue a mesma linha de Zambelli.

"Pelo visto, o depoimento só é bom quando responde o que o relator quer ouvir. Se não confirma o que ele quer, então não é bom. Não serve. É nítido que o relator já tem um relatório pronto e só quer que as testemunhas preencham as lacunas da forma que lhe convém", disse o senador governista Marcos Rogério.

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Outro trecho do documento em elaboração por Zambelli trata do depoimento de Wanjgarten: "Se o secretário mentiu, terá desprestigiado e mentido ao Congresso Nacional (...) Se ele mentiu à Revista Veja e a esta comissão, vou requerer à vossa excelência a prisão do depoente". A deputada pretende usar esse trecho para argumentar que houve tentativa de ameaça e intimidação da testemunha.

Para o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), a iniciativa de Zambelli de coletar falas de Renan Calheiros durante a CPI é válida.

"Acredito que não vá ser preciso ingressar na Justiça, porque o presidente Jair Bolsonaro não cometeu crime algum. Mas é bom que seja registrada a forma totalmente parcial com que o relator tem atuado na CPI."

Procurado por meio de sua assessoria de imprensa, o senador Renan Calheiros não se manifestou sobre a iniciativa de Zambelli. Em entrevistas anteriores, Renan afirmou que o trabalho da CPI seria técnico e apartidário.

Em outra frente, senadores da CPI têm feito anotações de posicionamentos do relator para tentar já preparar um relatório alternativo, antevendo que o material de Renan terá uma linha de ataque ao governo.

A ideia é buscar já contrapontos a posicionamentos expostos por Renan nas oitivas, como críticas feitas à distribuição de cloroquina ou a acusação de atrasos na compra de vacinas. Governistas estão se preparando para rebater de pronto o que vier a ser apontado no texto final.

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