O gerente-geral da farmacêutica Pfizer na América Latina, Carlos Murillo depõe à CPI da Covid
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O gerente-geral da farmacêutica Pfizer na América Latina, Carlos Murillo depõe à CPI da Covid











O gerente-geral da farmacêutica Pfizer na América Latina, Carlos Murillo,  afirmou à CPI da Covid no Senado nesta quinta-feira que o governo brasileiro não respondeu às propostas de contrato da compra de vacinas, sendo a primeira delas em 15 de agosto de 2020. Se o Brasil tivesse negociado com a Pfizer a aquisição dos imunizantes em agosto de 2020, o país poderia ter recebido 4,5 milhões de doses a mais de vacinas contra a Covid-19 . A melhor oferta feita pela empresa na época previa 1,5 milhão de doses já em 2020 e outras 3 milhões no primeiro trimestre de 2021.

Ao responder às questões do relator da comisão, Renan Calheiros (MDB-AL), Murilo disse que a negociação foi feita com o Ministério da Saúde, em especial com o ex-secretário-executivo Élcio Franco, mas houve contatos também com representantes de outros órgãos, como o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o ex-secretário de Comunicação Social Fábio Wajngarten, além de parlamentares, como os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-RO), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) para tratar sobre a venda de vacinas contra a Covid-19 para o governo brasileiro. A negociação de vacinas com a Pfizer foi uma das contradições do depoimento de Wajngarten.  

Sobre o  encontro com o  Wajngarten ,  Murillo disse que se reuniu com o ex-secretário esperando algum tipo de "coordenação" por parte dele. Apesar disso, Murillo afirmou que as negociações do contrato se deram somente com representantes do Ministério da Saúde. 

"Nossa negociação foi com o Ministério da Saúde. As conversações com o senhor Fábio Wajngarten, em nosso entendimento, foram de possível coordenação dele, mas eu não conheço o funcionamento dos órgãos governamentias e não posso exatamente indicar a função das diferentes pessoas do governo.  Mas quero enfatizar que nossa negociação foi feita com o Ministério da Saúde", afirmou o executivo.

Carlos Murillo disse não ter feito negociação paralela com Wajngarten.

"A Pfizer procurou diferentes autoridades governamentais no processo. Uma dessas pessoas, que escreveu para a matriz, eu entrei em contato, foi Fábio Wajngarten", afirmou o executivo.

Wajngarten disse ontem à CPI que seus encontros com representantes da Pfizer foram registrados em sua agenda oficial, mas a agenda de Wajngarten disponível no site do governo federal não traz nenhum registro sobre as reuniões citadas por ele à CPI. Em outra contradição, Wajngarten disse não ter discutido sobre os preços que seriam cobrados pela Pfizer pelas doses a serem fornecidas ao Brasil caso o acordo fosse firmado. 

Em entrevista concedida à revista Veja, no entanto, Wajngarten dá a entender claramente que ele teve, sim, acesso aos preços negociados pela farmacêutica com o governo brasileiro. Em determinado trecho, ao elogiar a postura da empresa, o ex-secretário diz que as negociações das quais ele participou teriam avançado e a empresa teria oferecido um valor abaixo de US$ 10 por dose. O valor é inferior aos US$ 10 dólares pagos pelo Ministério da Saúde no primeiro contrato que prevê a entrega de 100 milhões de doses ao governo brasileiro.

O senador governista Marcos Rogério (DEM-RO) afirmou que há a tentativa de construir uma narrativa mentirosa sobre as negociações com Pfizer em 2020, porque isso não seria possível na época. Ele perguntou a Murillo sobre quando conseguiu avançar com as tratativas com o governo, e o executivo respondeu que isso ocorreu com a aprovação de um projeto de lei em março de 2021 que deu segurança jurídica. A oposição, por outro lado, argumenta que o governo poderia ter editado uma medida provisória antes para resolver esse problema.

Carlos Bolsonaro

Renan questionou o ex-gerente-geral da Pfizer sobre a suposta participação do assessor da Presidência da República para assuntos internacionais, Felipe Martins e de um dos filhos do presidente Jair Bolsonaro, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), de reuniões com representantes da farmacêutica com o então secretário de Comunicação da Presidência Fabio Wajngarten em dezembro de 2020. A reunião teria o objetivo de facilitar as negociações entre a empresa e o governo brasileiro para o fornecimento de vacinas contra a Covid-19. O relator chegou a ameaçar convocar mais representantes da Pfizer para obter a resposta.

Calheiros indagou se Murillo tinha conhecimento de que Martins e Carlos Bolsonaro teriam participado das reuniões realizadas por Wajngarten no Palácio do Planalto sobre o acordo. Murillo respondeu que ele não tinha informações sobre todos os participantes das reuniões realizadas nos dias 7 e 9 de dezembro no gabinete de Wajngarten.

"Eu sei da parte da Pfizer, que foram a diretora jurídica Shirley Meschke, e a pessoa de assuntos corporativos, mas não sei de parte da Secom, em adição a Fabio Wajngarten, que outras pessoas participaram", respondeu.

Diante da imprecisão da resposta, Renan Calheiros disse que poderia convocar as duas diretoras da Pfizer para depor. O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), no entanto, pediu que Murillo tentasse obter a informação ao longo da sessão e, assim, evitar que as duas fossem convocadas. Murillo disse que iria tentar obter os dados até o final do seu depoimento.

Capitã Cloroquina

Em sua apresentação, o executivo da Pfizer mostrou alguns números sobre os contratos fechados com o governo federal em 2021. Segundo ele, são 13,5 milhões de doses de vacina no primeiro trimestre, 86,5 milhões no segundo, e mais 100 milhões no quarto. Esse último lote faz parte de um segundo contrato fechado na última terça-feira com o Ministério da Saúde.

Questionado pelo relator, Renan Calheiros (MDB-AL), ele disse que, nas negociações com os governos, a empresa sempre tentou um acesso equitativo, sem priorizar um país sobre o outro. Disse também que os preços negociados variam, de acordo com a renda do país. 

O depoimento do gerente, que teve início às 10h28, deve ajudar os senadores a construir uma "linha do tempo" sobre as negociações e contatos entre a companhia e o governo federal. O principal objetivo será esclarecer relatos de que o Ministério da Saúde rejeitou, mais de uma vez, oferta de 70 milhões de doses para aquisição de vacinas. O executivo esteve à frente do braço brasileiro da farmacêutica durante parte da pandemia.

Antes de Murilo começar a falar, a comissão aprovou a convocação da secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, conhecida como "Capitã Cloroquina" . Conforme revelou o GLOBO, ela foi a responsável pelo planejamento de uma comitiva de médicos que difundiu o uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra o novo coronavírus em Manaus dias antes de o sistema de saúde do Amazonas entrar em colapso, em janeiro último. O depoimento foi dado ao Ministério Público Federal (MPF) no Amazonas.

Ainda foi aprovado o requerimento do relator Renan Calheiros (MDB-AL) para convocar Jurema Werneck, representante do Movimento Alerta, para falar de mortes durante a pandemia.Também foi aprovado convite para que a médica Nise Yamaguchi, defensora da cloroquina, preste depoimento. Segundo o presidente da CPI, senador Omar Aziz, a própria Yamaguchi o procurou para falar à comissão.

A CPI também aprovou requerimentos de requisição de informações. Dois deles, de autoria do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), são dirigidos ao Ministério das Relações Exteriores (MRE) e à Agência Brasileira de Inteligência (Abin) "das declarações do Presidente da República sobre a possibilidade de estar em curso uma guerra não declarada, promovida por nação estrangeira, por meio de 'guerra, química, bacteriológica e radiológica'".


Fake News

Dois requerimentos do vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues, têm como alvos a propagação de "fake news" sobre a pandemia no Youtube.

Um deles é para que o Google forneça informações de registro desses vídeos. O outro é para que a Secretaria de Comunicação Social (Secom) do governo federal forneça "todos os documentos, comunicações e informações sobre os canais no You Tube listados em anexo durante o período de 2020 a 2021".

Há ainda requerimento de Randolfe para que o MRE forneça "todas as informações, telegramas e documentos sobre a obtenção de cloroquina/hidroxicloroquina para o Brasil durante a pandemia da covid-19, seja por meio de aquisição pelo governo ou por empresas, doação, liberação de remessas ou outra modalidade".

O senador ainda solicitou ao MRE "todas as comunicações, telegramas e documentos enviados ou recebidos sobre a obtenção de vacinas contra a Covid-19 para o Brasil".Ainda para o MRE, a CPI aprovou requerimento de Rogério Carvalho (PT-SE) para que sejam fornecidos telegramas e outras comunicações formais às embaixadas brasileiras no exterior, organismos internacionais e empresas "solicitando agilização ou intervenção no processo no aquisição, importação ou fornecimento de medicamentos supostamente indicados ao tratamento da infecção causada pelo novo Coronavírus e, ainda, de vacinas".

Um outro requerimento aprovado, de autoria de Randolfe, é dirigido à Fundação Oswaldo Cruz para fornecer o contrato firmado com o laboratório AstraZeneca, que produz a vacina de Oxford. Outra empresa farmacêutica, a EMS, deverá fornecer informações sobre a produção de alguns medicamentos do chamado "kit covid", que originalmente são destinados a outras doenças, mas foram utilizados sem eficácia comprovada no tratamento da Covid-19. Esse requerimento é de autoria de Omar Aziz.

Carta da Pfizer

Na quarta-feira, CPI ouviu o ex-secretário de Comunicação Social da Presidência da República Fabio Wajngarten, que afirmou que uma carta da Pfizer, enviada ao governo federal para consultar a intenção da compra de doses da vacina da farmacêutica, ficou dois meses sem respostas. O documento, segundo afirmou, foi enviado após outras tentativas de contato serem ignoradas pela cúpula do governo Bolsonaro.

A carta foi entregue a Bolsonaro, ao vice-presidente, Hamilton Mourão, a três ministros — Paulo Guedes, da Economia, Eduardo Pazuello, então chefe da pasta da Saúde, e Walter Braga Netto, na época na Casa Civil — e ao embaixador embaixador do Brasil para os Estados Unidos, Nestor Forster. Leia a íntegra do texto, que reafirma a segurança da vacina, testada em pelo menos 30 mil voluntários na época, e reforça que estavam "no caminho certo para buscar a aprovação do imunizante com as agências reguladoras em outubro de 2020. 

A oitiva atende ao pedido do presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), e deve ser abastecida com informações expostas por Wajngarten. A compra dos imunizantes da Pfizer pelo Ministério da Saúde só foi feita em março deste ano. No entanto, a farmacêutica disse, em comunicado, que três propostas de contrato foram enviadas ao governo federal, sendo a primeira delas em 15 de agosto de 2020.

Após o depoimento de Murillo, os senadores vão votar requerimentos de informações e convocações para depoimentos na comissão.

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