CPI da Covid: veja cinco vezes em que o governo recusou ofertas da Pfizer
Declarações do executivo da Pfizer na Comissão indicam que Brasil poderia ter 4,5 milhões de doses de vacinas a mais até março deste ano
O gerente-geral da farmacêutica Pfizer na América Latina, Carlos Murillo, afirmou à CPI da Covid no Senado que o governo brasileiro não respondeu às propostas de contrato da compra de vacinas, sendo a primeira delas feita em agosto de 2020.
Se o Brasil tivesse negociado com a Pfizer a aquisição dos imunizantes em agosto de 2020, o país poderia ter recebido 4,5 milhões de doses a mais de vacinas contra a Covid-19 ate março deste ano.
Propostas apresentadas ao governo brasileiro
Murillo contou à CPI da Covid que a farmacêutica fez cinco ofertas de vacinas contra o novo coronavírus no ano passado ao governo federal. De acordo com o executivo, os contatos começaram em maio e, em agosto, foi apresentada a primeira proposta, de 30 milhões de doses, e outra de 70 milhões de doses.
-
Primeira proposta: 14 de agosto
A Pfizer ofereceu 30 ou 70 milhões de doses de vacina ao governo. Os dois contratos previam a entrega de 500 mil doses ainda em 2020, 1,5 milhão no primeiro trimestre deste ano e 5 milhões no segundo trimestre.
Na proposta de 30 milhões, o governo receberia ainda 14 milhões no terceiro trimestre deste ano e outras 9 milhões entre outubro e novembro.
Caso o contrato de 70 milhões fosse levado adiante, o número de doses nos terceiro e quarto trimeste seria maior: 33 milhões (entre julho e setembro) e 30 milhões (entre outubro e dezembro).
- Segunda proposta: 18 de agosto
O governo federal não respondeu ao primeiro contato com a farmacêutica. No segundo contato, a Pfizer ofereceu a entrega de 1,5 milhão de doses ainda em 2020, aumentando a previsão de entrega no ano passado.
A empresa manteve a opção ao governo de adquirir, no total, 30 ou 70 milhões de vacinas, como no contato anterior.
-
Terceira proposta: 26 de agosto
No terceiro contato com o governo, a Pfizer voltou a oferecer 30 e 70 milhões de doses ao governo, com previsão de entrega até o fim de dezembro de 2021. A proposta também incluia 1,5 milhão de doses ainda em 2020 .
"A proposta de 26 de agosto tinha validade de 15 dias. Passados 15 dias, o governo não rejeitou e nem aceitou a oferta", disse Murillo à CPI.
-
Quarta e quinta proposta: 11 e 24 de novembro
Em novembro, após as tentativas frustradas de agosto, houve duas novas ofertas de 70 milhões, das quais 2,5 milhões seriam no primeiro trimestre de 2021 e 6,5 milhões no segundo.
O executivo da Pfizer disse que o Brasil não respondeu a oferta de vacinas em agosto. Ele também discordou da avaliação feita pelo ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello que justificou não ter fechado acordo em razão da cláusulas "leoninas". Afirmou ainda que são os mesmos termos dos acordos firmados com mais de 100 países.
"Nossa oferta de 26 de agosto tinha, como era vinculante e estávamos nesse processo com todos os governos, tinha validade de 15 dias. Passados esses 15 dias, o governo do Brasil não rejeitou, mas tampouco aceitou a oferta", disse o executivo.
Proposta aceita pela governo: 15 de fevereiro
Em 2021, a Pfizer fez nova oferta em 15 de fevereiro. Desta vez, a empresa propõs um contrato para a entrega de 100 milhões de doses, 8,7 milhões no segundo trimestre. Houve uma repactuação em março, que aumentou o total dos meses de abril, maio e junho para 14 milhões.
Há ainda um segundo contrato, de mais 100 milhões de doses, previstas inicialmente para o terceiro trimestre — 30 milhões — e quarto — 70 milhões.
O executivo da Pfizer disse que, em razão da logística, após conversa com o Ministério da Saúde, houve uma mudança e tudo será entregue apenas no quarto trimestre.