A agenda oficial do ex-secretário de Comunicação da Presidência da República Fabio Wajngarten contradiz a versão dada por ele em seu depoimento à CPI da Covid nesta quarta-feira . Wajngarten disse que seus encontros com representantes da Pfizer foram registrados em sua agenda oficial, mas a agenda de Wajngarten disponível no site do governo federal não traz nenhum registro sobre as reuniões citadas por ele à CPI.
Wajngarten presta depoimento à CPI nesta quarta-feira depois de ter dado uma entrevista à revista Veja na qual afirmou que houve “incompetência” da equipe do Ministério da Saúde para fechar um acordo para a compra de vacinas contra a Covid-19. Em seu depoimento, Wajngarten detalhou as datas de dois encontros que, segundo ele, teriam ocorrido em seu gabinete no Palácio do Planalto , em Brasília.
Ao ser questionado pelo senador governista Eduardo Girão (Podemos-CE) sobre se os encontros haviam sido registrados em sua agenda, Wajngarten disse que sim.
— O senhor poderia fornecer esses registros dessas reuniões? Essas reuniões constaram da sua agenda oficial? — indagou Girão.
— Registro da reunião eu não tenho. Não tenho ata. E as reuniões constaram da minha agenda oficial e a reunião sempre teve testemunha, inclusive de funcionários da Secom, outros entes políticos, as reuniões todas foram de portas abertas e com muitos participantes.
Uma consulta à agenda oficial
de Wajngarten nos dias em que, segundo eles, as reuniões aconteceram mostram que não há registro dos encontros
.
O primeiro desses encontros, segundo Wajngarten, teria ocorrido no dia 17 de novembro de 2020. Nesse encontro, ele disse, estiveram presentes o próprio Wajngarten, um de seus assistentes, o então CEO da Pfizer no Brasil Carlos Murilo e uma diretora de comunicação da empresa.
Na agenda oficial, porém, não há nenhuma menção à reunião.
Você viu?
Ainda segundo Wajngarten, o outro encontro teria ocorrido no dia 7 de dezembro de 2020, em que, segundo o ex-secretário, ele teria cobrado a Pfizer para aumentar a quantidade de vacinas
a serem entregues ao país.
Mas na agenda oficial de Wajngarten disponível no site do governo no dia 7 de dezembro, os únicos compromissos listados são “despachos internos” .
Wajngarten está depondo à CPI na condição de testemunha e, por isso, não pode mentir.
Imprecisão sobre campanha
Respondendo a um questionamento do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) sobre um vídeo com o slogan "O Brasil Não Pode Parar" , que foi divulgado por aliados do governo federal em março do ano passado, Wajngarten afirmou não saber se ele era ou não de autoria da Secom:
— Eu me recordo de um vídeo circulando, (dizendo) "O Brasil Não Pode Parar". Eu não tenho certeza se ele é de autoria, de assinatura da Secom. Não sei se ele foi feito dentro da estrutura ou circulou de forma orgânica — disse ex-secretário, ressaltando que em março estava afastado, por estar com Covid-19.
Entretanto, no dia 27 de março do ano passado, a Secom divulgou nota confirmando que o vídeo foi "produzido em caráter experimental" e que seria "proposta inicial para possível uso nas redes sociais". O texto dizia, no entanto, que a peça "não chegou a ser aprovada e tampouco veiculada em qualquer canal oficial do governo federal". A secretaria também chegou a fazer duas publicações , uma no Twitter e outra no Instagram, utilizando o mesmo mote de "O Brasil Não Pode Parar", mas deletou elas depois da repercussão .