Após ser chamado de 'ingrato' pelo senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) por conta da CPI da Covid, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), ligou para o primogênito de Jair Bolsonaro e o convidou para participar de uma agenda privada no Rio de Janeiro nesta sexta-feira (30). O telefonema foi feito na quinta-feira (28) e teve como objetivo buscar uma reaproximação com Flávio e com o núcleo presidencial.
Na ligação, nem Pacheco nem Flávio chegaram a pedir desculpas um ao outro. Mas o gesto do presidente do Senado, de convidar o '01' para uma agenda no Rio, reduto eleitoral de Flávio, foi apreciado pelo primogênito de Bolsonaro. Em tom amistoso, o senador recusou o convite por já ter compromissos agendados em São Paulo nesta sexta-feira, mas combinou de, na semana que vem, conversarem pessoalmente. A reaproximação é estratégica para ambos.
Na terça-feira, Flávio reclamou publicamente de Pacheco pela suposta falta de critério ao acatar decisão do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, para instalar a CPI da Covid e, dias depois, ignorar decisão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal que buscava impedir Renan Calheiros (MDB-AL), crítico do Planalto, de assumir a relatoria da Comissão Parlamentar de Inquérito. Pacheco se elegeu presidente do Senado com o apoio do governo e de parte dos senadores de oposição e, desde então, vem equilibrando pratos para manter portas abertas com os dois campos.
"Entendo que houve ingratidão do presidente do Senado", disse Flávio, na terça-feira. Nas redes sociais, deputados bolsonaristas chegaram a comparar Pacheco ao ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ), com quem Bolsonaro travou sucessivos embates.
Movimento estratégico
A reaproximação de Pacheco com Flávio é estratégica para ambos. Mesmo após a instalação da CPI da Covid, Bolsonaro ainda precisa de Pacheco para aprovar projetos no Senado e impedir o crescimento de agendas da oposição. Pacheco, por sua vez, vê como um ativo eleitoral o fato de transitar com facilidade entre governo e oposição e não quer perder essa pecha de conciliador entrando em rota de colisão com Planalto.
Na quarta-feira, um dia após ser criticado pelo núcleo do presidente , Pacheco conversou com Bolsonaro durante reunião do comitê de enfrentamento à Covid-19 e fez questão de divulgar o encontro. Nele, Pacheco argumentou que não teria agido com falta de critério porque às duas decisões judiciais abordariam questões diferentes. A mesma explicação já havia sido dada a Flávio em troca de mensagens por WhatsApp.
"Conversei com o presidente Bolsonaro sobre a importância da manutenção de um ambiente de colaboração entre os Poderes e união de propósitos para a superação da crise de saúde", escreveu Pacheco em uma rede social.