Com o apoio do presidente Jair Bolsonaro, o deputado Arthur Lira (PP-AL) chega a disputa para a presidência da Câmara com o maior bloco na composição partidária. Seu bloco reúne 11 siglas e 255 deputados. Já o de Baleia Rossi (MDB-SP) tem 10 legendas, totalizando 209 parlamentares.
Lira, no entanto, começou a corrida pela presidência com um bloco bem menor. Ao longo do tempo, mostrou habilidade para conquistar novos apoios e minar o grupo adversário.
A última cartada foi na Executiva Nacional do DEM, partido do atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ). Na noite de domingo, a legenda anunciou a ruptura com o bloco de Rossi (MDB-SP) na Casa. Maia é o principal fiador da candidatura do emedebista.
Relembra abaixo as disputas e brigas dos últimos meses:
Lira articula candidatura
O desejo de Arthur Lira (PP-AL) de ser o representante do presidente Jair Bolsonaro e do centrão à presidência da Câmara veio bem antes das definições no grupo de Rodrigo Maia (DEM-RJ). Em novembro, Lira já era chamado por “candidato do Planalto” por deputados e aliados do presidente. O deputado contava com o trunfo de influenciar na liberação e destinação de verbas dos pares no Congresso.
Veto à reeleição de Maia
A decisão do STF em rejeitar a possibilidade de reeleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Davi Alcolumbre (DEM-AP), em dezembro de 2020, deixou a disputa aberta nas duas casas. Com a recondução barrada, as siglas ganharam poder de negociação para escolher um outro nome. Enquanto o grupo de Arthur Maia (PP-AL) tentava ampliar o leque de apoios, o grupo do presidente da Câmara buscava um representante para a disputa.
Lira negocia no varejo
Arthur Lira (PP-AL) se lança oficialmente candidato com o PL, PP (seu próprio partido), PSD, Solidariedade e Avante. Depois, ganhou também o apoio do Republicanos. Ao todo, eram 166 deputados. Mas, durante o processo, ganhou não apenas o apoio formal do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), como também espaço para barganhar votos indevidamente com os deputados em troca de emendas e cargos no Executivo.
A escolha por Rossi
Com a impossibilidade de Maia disputar a reeleição, restou ao seu grupo a escolha de um candidato. Agnaldo Ribero (PP-PB), Luciano Bivar (PSL-PE), Elmar Nascimento (DEM-BA) e Baleia Rossi (MDB-SP) lutaram pela indicação, mas Baleia foi o escolhido pelo bloco, até aquele momento com 11 partidos, o equivalente a 240 votos. Um deles era o PSL que viria a rachar semanas depois.
PSL abandona Rossi
A divisão do PSL indicou o que viria a ser a disputa entre Lira e Rossi por apoios. Apesar de integrar oficialmente o bloco de Rossi, um grupo de deputados da legenda já articulavam apoiar Lira, contra a orientação do partido. Mas, em 21 de janeiro, a sigla passou a integrar oficialmente o bloco do deputado do PP na disputa pela presidência da Câmara. A reviravolta foi possível graças à adesão de mais quatro parlamentares a um grupo inicial de 15 deputados dissidentes do PSL favoráveis à candidatura de Lira.
Com isso, essa ala conseguiu 19 assinaturas, o que formou maioria em relação à bancada atual da legenda na Câmara, que tem 36 parlamentares.
Lira passa a ter maior bloco
A mudança de lado oficialmente do PSL e o apoio do Podemos ao grupo de Lira fez com que ele tivesse o maior bloco na disputa da Câmara, superando pela primeira vez seu adversário, Baleia Rossi (MDB-SP). Protocolado na Câmara, o bloco de Lira superava o do adversário e passou a contar com o apoio de 11 partidos, que somam 259 deputados: PSL, PL, PP, PSD, Republicanos, PTB, PROS, Podemos, PSC, Avante e Patriota.
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Governo tira cargos
Na reta final da campanha para a presidência da Câmara, o governo federal deu início a retaliações e retirou cargos de deputados aliados a Baleia Rossi (MDB-SP), candidato com discurso de independência do Planalto. A ideia era pressionar para que parlamentares votem em Arthur Lira (PP-AL), aliado do presidente Jair Bolsonaro. Deputados relataram ao GLOBO terem sido informados que indicados seus em postos na administração federal foram exonerados nos últimos dias.
Ramos interfere na disputa
Com a disputa cada vez mais apertada e avanço das negociações do grupo de Lira, Rodrigo Maia (DEM-RJ) chegou a ligar para o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, para reclamar da atuação do governo. Maia se queixa de que o Palácio do Planalto está interferindo para garantir a eleição do deputado governista Arthur Lira (PP-AL).
O ministro tentava criar um racha dentro do DEM, partido de Maia. Ao GLOBO, o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) afirmou que recebeu uma ligação do ministro para que concedesse sua assinatura aos dissidentes da legenda. Segundo um outro parlamentar do DEM ouvido pelo GLOBO, o governo está empenhado em "desmoralizar" Maia ao montar uma força-tarefa para rachar o partido.
DEM libera bancada
A um dia da eleição, o DEM, partido do atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), decidiu abandonar o bloco do candidato apoiado por ele , deputado Baleia Rossi (MDB-SP), na disputa pelo comando da Casa. Em nota, a sigla anunciou que vai liberar a bancada na votação. A definição foi tomada "pela unanimidade dos membros da Executiva, visando a preservação da unidade partidária".
Ao GLOBO, o líder da bancada, Efraim Filho (PB), afirmou que ele e o presidente da sigla, ACM Neto, fizeram uma "avaliação de cenário" e concluíram que a independência seria o melhor encaminhamento neste momento. O movimento foi visto como um enfraquecimento do bloco de Rossi, avalizado por Maia.
Maia ameaça impeachment
Ao ser informado que o seu partido, o DEM, deixaria o bloco de Baleia Rossi (MDB-SP) na disputa pelo comando da Câmara, o presidente da Casa, Rodrigo Maia (RJ), disse no domingo que poderia abrir um processo de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro .
Segundo um deputado que estava na reunião, em um momento tenso, Maia disse que não aceitaria a interferência do governo no próprio partido. Ele chegou a dizer que não teria outra opção, a não ser abrir um dos processos de impeachment que estão em sua mesa contra Bolsonaro.
De acordo com outro deputado, Maia argumentou que não veria o governo "comprar" colegas de partido, ao oferecer fatias do orçamento e verba às bases de deputados, sem fazer nada. Indicou que isso seria crime de responsabilidade.