Quando nomeou o deputado federal Fábio Faria (PSD-RN) ao recriar o Ministério das Comunicações, ainda em junho de 2020, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) deu mais um passo em direção oposta às promessas de campanha.
Com 23 pastas ocupando a Esplanada em Brasília , oito a mais do que as 15 prometidas antes de ser eleito, e a proximidade da eleição para as presidências da Câmara e do Senado , Bolsonaro agora já discute publicamente a possibilidade de recriar mais três postos no primeiro escalão caso seus aliados sejam eleitos na disputa pelo comando do Congresso .
Ainda em 2018, quando começou a corrida presidencial, o ainda candidato utilizava como mantra as propostas de acabar com o "toma lá, dá cá" em indicações políticas e a redução do número de ministérios. Na proposta de plano de governo entregue ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Bolsonaro dedicou duas páginas para propor um total de 23 pastas, afirmando em letras garrafais que "o país funcionará melhor com menos ministérios".
"Um número elevado de ministérios é ineficiente, não atendendo os legítimos interesses da Nação. O quadro atual deve ser visto como o resultado da forma perniciosa e corrupta de se fazer política nas últimas décadas, caracterizada pelo loteamento do Estado, o popular 'toma lá-dá-cá'", prometia o projeto.
Apesar das promessas, as críticas à estrutura do Governo Federal de Michel Temer, com 29 ministérios, agora esbarram no flerte com os partidos do centrão, grupo cada vez mais próximo do presidente. Com uma reforma ministerial prevista para depois das eleições no Legislativo, deputados do PP, PL e Republicanos já pressionam o governo por uma dança das cadeiras em ministérios do primeiro escalão, e almejam ocupar os cargos em uma eventual promoção das secretarias da Cultura, Esportes e Pesca para o status de Ministério.
"Nós temos tudo para ganhar no primeiro turno e ganharíamos três semanas para montar um ministério enxuto, com no máximo 15 ministros, que possa representar os interesses da população, não de partidos", disse Bolsonaro, em transmissão ao vivo nas redes sociais para seus eleitores em outubro de 2018.
Prevendo críticas ao possível aumento da máquina pública, Bolsonaro coloca em prática mais uma vez o discurso de que o Brasil é um país muito grande, e que "só a Amazônia é maior que toda a Europa ocidental".
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Na prática, a proposta de "fim do aparelhamento dos ministérios e inversão da lógica tradicional do processo de gastos públicos" se coloca agora à prova frente à necessidade de apoio no Congresso e a pressão para que dance conforme a música da "velha política" que condenou antes de assumir o mandato.
"Se é para aceitar indicações políticas, a raiz da ineficiência do Estado e da corrupção, aí fica difícil você apresentar uma proposta que possa realmente proporcionar dias melhores para a nossa população (...) Geralmente os grupos políticos loteiam esses cargos para se beneficiar", defendeu Bolsonaro em novembro de 2017, em entrevista ao Canal Livre.
Com a expectativa de eleger o candidato governista Arthur Lira (PP-AL) para a principal cadeira da Câmara, Bolsonaro tenta conquistar uma base de apoio mínima para aprovação de projetos de seu interesse, além de afastar a abertura de possíveis pedidos de impeachment protocolados na Casa.
Para alcançar o objetivo, o número de 26 ministérios - 11 a mais do que o prometido em campanha - parece cada vez mais próximo após os elogios aos secretários Marcelo Magalhães (Esportes), Mário Frias (Cultura) e Jorge Seif (Pesca) na manhã desta sexta-feira.
"Eu queria que hoje eu tivesse sido eleito presidente. Porque algumas coisas a mais eu faria, outras eu não faria. Por exemplo, eu tenho três secretários, Marcelo, que se eu soubesse do potencial de vocês, se eu tivesse mais conhecimento, com profundidade, seriam ministério", sugeriu o presidente.