"Durante a minha vida enfrentei batalhas em diferentes arenas. Eu sou pentacampeã brasileira de esgrima e estou preparada para ser vereadora na maior cidade do hemisfério sul sem usar um centavo de dinheiro público para fazer campanha. Entrar para a política não estava nos meus planos, mas depois de entender a engrenagem e ver de fato com funciona, eu vi que nós temos muito potencial. Mas ainda precisamos de renovação
e seriedade nesse debate que é tão importante para várias pessoas", é o que diz a jovem Naira Sathiyo, de 24 anos, em um vídeo de divulgação da sua campanha à vereadora de São Paulo pelo partido Novo
, com destaque para uma agenda liberal.
"Eu decidi entrar porque eu vi que as decisões ali tomadas são muito impactantes, principalmente na vida das pessoas que mais precisam. Temos candidatos que estão indo para a reeleição pela sexta vez. Eu enxergo que a alternância do poder é fundamental para o exercício da democracia e, na minha opinião, ter pessoas jovens, bem intencionadas, antenadas e sem vícios é muito importante para o desenvolvimento do nosso país", disse a candidata do Novo em entrevista ao iG .
Formada em direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e pós-graduanda em gestão pública no Insper, a candidata se apresenta como ativista da educação.
Com trabalhos realizados no Ministério Público, na Defensoria Pública, no Tribunal de Justiça e na Assembleia Legislativa de São Paulo, onde atuou como assessora parlamentar do deputado estadual Daniel José (Novo), a jovem candidata defende educação baseada em evidências, gestão pública eficiente, corte de privilégios e se opõe aos altos impostos, à burocracia, aos projetos pessoais e a chamada " velha política
", muito embora afirme que "nova política não é sinal de qualidade, como vimos em 2018".
"Velha política é construir um projeto de poder e de interesses pessoai s e não um projeto de país ou projeto de cidade. É trazer propostas puramente eleitoreiras, que não necessariamente são factíveis e baseadas em evidências, e que não vão trazer um resultado positivo para a vida das pessoas", conta.
Naira não está sozinha nesta busca. A jovem Leticia Gabriella da Cruz Silva (PDT), também de 24 anos, baseia a sua primeira candidatura a uma mandato eletivo no lema " nada sobre nós sem nós ". A campanha da jovem moradora do extremo leste de São Paulo, presidente da Ação da Mulher Trabalhista da Capital de São Paulo e integrante do movimento negro do partido ao qual integra, busca a renovação por meio da volta de uma mulher negra à Câmara Municipal, após mais de 15 anos sem representante .
Falta de mulheres negras
A atual legislatura da cidade de São Paulo possui a maior bancada feminina de sua história , com 11 mulheres eleitas dentre os 55 vereadores que compõe a Câmara Municipal, que só foi ter a primeira vereadora negra em 1969, com o mandato de Theodosina Rosário Ribeiro, 20 anos anos após a eleição da primeira mulher.
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A cidade só teve 2 mulheres negras legislando no decorrer da história. Leticia Gabriela conta que esse retrato de desigualdade na vereança se reflete em sua tentativa de se eleger na primeira candidatura.
"Nós mulheres negras, jovens e da periferia enfrentamos múltiplos desafios
para sustentar nossas candidaturas e construir uma campanha competitiva, a desigualdade histórica no sistema político nos coloca na subrepresentação
, isso influencia na baixa de visibilidade, falta de recursos financeiros e baixos apoios de peso", diz Letícia.
"A campanha olho a olho, pé na rua e com diálogo conquista as pessoas, faz muita diferença, mas não é o suficiente para quebrar totalmente a velha política , por isso a importância da conscientização, a população também está cansada do mais do mesmo, de ser enganada, de promessas, então as propostas que apresentam renovação, propósitos e compromissos quebram boa parte dos feudos nos territórios", aponta.
Ela enfatiza que a sua candidatura se difere das convencionais por estar baseada em baixo custo, transparência , ética e por contar com uma base forte de apoiadores.
Campanha sem grana
A foto de Keitiele, a Keit Lima (PSOL), de 29 anos, foi tirada em frente à ponte improvisada montada em cima de um corrégo do bairro da Brasilândia, zona norte de São Paulo. Assim como Leticia Gabriela, a candidata do PSOL enfrenta desafios em sua primeira candidatura
por pautar a renovação em sua experiência de mulher, jovem, negra, periférica e gorda
.
"Meu maior desafio nessa primeira candidatura é seu uma mulher negra e periférica. Eu disputo com campanhas milionárias , dentro do meu partido inclusive, recebendo R$ 9 mil enquanto homens brancos já eleitos recebem R$ 98 mil. Esse é um grande desafio. Não se faz campanha sem grana. Isso reflete muito até onde a sua campanha vai chegar e o quanto isso vai refletir na sua candidatura. Ninguém vota em quem não conhece", afirma.
Formada em administração e na segunda graduação em direito, Keit Lima já atuou como assessora parlamentar da Mandata Ativista, candidatura coletiva
de codeputados da Assembleia Legislativa de São Paulo, e na Secretaria Municipal de Direitos Humanos de São Paulo. Ela integra a Marcha das Mulheres Negras e foi a primeira mulher coordenadora da Educafro.
Keit afirma que a única forma de garantir a renovação, a mudação de composição da Câmara Muncipal de São Paulo e a elegibilidade mulheres negras periféricas, passa pelo " partido rever em quem estão investindo dinheiro e nós nos fortalecermos adquirindo consciência votando em mulheres negros. Ser antirracismo é ação e prática. É no dia 15 levar álcool em gel, máscara, título e depositar o antirracismo na urna ".
Ela aposto em um diálogo descomplicado e franco com a população para alcançar os objetivos. "O jeito que eu disputo com coronéis e caciques é dialogando olho a olho. O que me difere deles é que a minha história fala por mim, eu sou ativista desde os 13 anos", conclui.