Em meio ao clima de mal-estar no Supremo Tribunal Federal (STF) causado em torno da nomeação de Kassio Marques para substituir Celso de Mello, que se aposenta no dia 13, o ministro Dias Toffoli contou que ele e Gilmar Mendes foram surpreendidos com a escolha do desembargador para a vaga na semana passada.
Na última terça-feira, Toffoli esteve em um jantar na casa de Gilmar Mendes, com a presença de Marques e do presidente Jair Bolsonaro — que, na ocasião, apresentou seu escolhido aos dois ministros.
Toffoli negou que ele e Mendes tenham participado do processo de escolha do novo ministro do Supremo. Ele disse desconhecer qualquer mal estar causado em outros ministros. A interlocutores, o presidente da Corte, Luiz Fux, disse que estaria incomodado com o excesso de diálogo de Toffoli e Mendes com o Planalto.
"Não participei do processo de escolha (de Kassio Marques). Quando fui informado, ele já tinha sido escolhido. Foi uma surpresa para mim e para o Gilmar (Mendes) ", disse Toffoli ao GLOBO neste domingo.
Ontem, em novo evento social, Toffoli recebeu em sua casa o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), Marques e outros convidados para um almoço. Um chef foi contratado para preparar espaguete com frutos do mar. De entrada, foram servidas casquinhas de siri.
Depois, Toffoli telefonou para Bolsonaro para convidá-lo a participar do evento. Assistiram juntos a um jogo de futebol pela televisão e, à noite, pediram carregamentos de pizza.
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"Eu sou um cara que gosta de unir as pessoas, que todo mundo se divirta. Confraternizar. Foi uma confraternização, ninguém falou de trabalho. Não estávamos aqui para discutir assunto sério", disse Toffoli ao GLOBO no sábado, depois do encontro.
Embora o chef tenha sido contratado previamente, Toffoli disse neste domingo que o encontro de ontem não foi previamente planejado:
"O Davi estava aqui (em casa) e chamei o presidente para ver o jogo com a gente. As pessoas foram chegando de última hora".
Na chegada de Bolsonaro, Toffoli e o presidente deram um abraço amistoso. A imagem do encontro foi criticada por aliados do presidente nas redes sociais. Os comentários incomodaram a família Bolsonaro, que respondeu publicamente alguns deles.
Antes de tomar posse no STF, Kassio Marques precisa ser submetido a sabatina na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. Depois, precisa ser aprovado em votações na CCJ e no plenário da Casa. Toffoli disse que não foi discutida nenhuma estratégia para essas fases nos dois encontros que ele teve com Marques.
O ministro também negou que tenha sido discutido o destino no inquérito que investiga o presidente Jair Bolsonaro no Supremo nas reuniões. O caso está sob a relatoria de Celso de Mello. O caminho natural seria Marques herdar a relatoria do processo.
No entanto, entre a aposentadoria do decano e a posse do novo ministro, Fux pode determinar sorteio de um novo relator para o caso, entre os atuais ministros do STF.