O governador Wilson Witzel em pronunciamento no Palácio Laranjeiras após ser afastado do cargo
Gabriel Monteiro / Agência O Globo
O governador Wilson Witzel em pronunciamento no Palácio Laranjeiras após ser afastado do cargo

Presos por quase um ano acusados de corrupção, cinco deputados que reassumiram seus mandatos em maio também disseram "sim" ao prosseguimento do processo de impeachment do governador afastado por crime de responsabilidade. Wilson Witzel é apontado como chefe da organização criminosa que desviou milhões dos cofres do estado do Rio durante a pandemia de Covid-19.

André Corrêa (DEM), Luiz Martins (PDT), Marcus Vinícius Neskau (PTB), Marcos Abrahão (Avante) e Chiquinho da Mangueira (PSC) foram presos na operação Furna da Onça, deflagrada em novembro de 2018 pela Polícia Federal como um desdobramento da operação Lava Jato no Rio. Eles foram acusados de receber um mensalinho do governo para votar a favor de projetos do Poder Executivo. O esquema teria movimentado pelo menos R$ 54 milhões, segundo a PF.

A operação recebeu a alcunha Furna da Onça por causa do nome de uma sala ao lado do plenário da Alerj onde deputados se reuniam para discutir as ações.

Chiquinho da Mangueira

Segundo a denúncia do Ministério Público Federal, Chiquinho da Mangueira, por exemplo, recebeu mais de R$ 3 milhões e usou verba para um desfile da Mangueira. Ele havia acabado de ser reeleito para o quarto mandato e era o corregedor parlamentar da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). A este cargo, curiosamente, cabe a decisão de abrir investigações e presidir inquéritos contra parlamentares.

Chiquinho foi eleito com 45 votos favoráveis, cinco contrários e duas abstenções. Ao ser escolhido, afirmou: “Pretendo exercer a função de forma justa, avaliar os casos que forem necessários, conforme é exigido do parlamentar”.

Anos antes, o próprio Chiquinho foi alvo da corregedoria. Em 2003, foi absolvido pela Mesa Diretora da Alerj após ser acusado de quebra de decoro parlamentar por suposto envolvimento com traficantes de drogas do Morro da Mangueira, seu reduto eleitoral por promover ações sociais. Ele foi presidente da escola de samba verde e rosa. Na política, ocupou ao cargos de secretário de Esportes na gestão da prefeitura de Eduardo Paes, à época MDB, de 2009 a 2010; de secretário estadual de Esporte, de 2003 a 2006; e de presidente da Suderj, de 1999 a 2006.

André Corrêa

André Corrêa foi acusado pelo MPF de receber R$ 100 mil mensais para votar a favor do governo. Foi reeleito para o quinto mandato com a sétima maior votação desta legislatura e já se considerava virtual candidato à presidência da Assembleia.

Entre 2015 e 2016, foi secretário de Meio Ambiente de Luiz Fernando Pezão (MDB) e já havia ocupado o cargo entre 1999 e 2002. Chegou a mergulhar no Piscinão de Ramos para provar que a água era limpa e, mais recentemente, na Baía de Guanabara para mostrar que a água supostamente estava própria para receber provas da Olimpíada de 2016.

Luiz Martins

Luiz Martins foi acusado pelo MPF de receber mensalmente o valor de R$ 80 mil, além de R$ 1,2 milhão para a campanha eleitoral em 2014. Como líder do partido na Alerj, foi reeleito para o segundo mandato com mais de 38 mil votos. Foi empossado pela primeira vez em 2010 e relatou a CPI das Armas de 2016.

No ano passado, reportagens mostraram que Martins, do PDT, foi um dos beneficiários de doações de campanha feitas pelo então presidente da Casa, Jorge Picciani (MDB), outro acusado.

Marcos Abrahão

Marcos Abrahão, segundo o MPF, recebia o valor de R$ 80 mil por me^s, além de R$ 1,5 milhão para a campanha eleitoral em 2014. Ele foi eleito para o quinto mandato como deputado. Antes foi sargento da Polícia Militar, onde ingressou na década de 80. Em sua descrição no site da Alerj, dizia que "se caracteriza principalmente pelo dinamismo e lealdade aos seus companheiros".

Levantamento feito pela imprensa em 2018 mostrou que Abrahão (Avante) era o deputado mais faltoso da Alerj. Em 2014, foi denunciado como mandante do homicídio de um ex-pastor da Igreja Universal. A vítima foi morta com 19 tiros.

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Marcus Vinicius Neskau

Marcus Vinicius Neskau, de acordo com o MPF, recebia R$ 50 mil mensais no esquema da Alerj . Vindo de Barra do Piraí, o deputado do PTB foi secretário estadual na gestão de Sérgio Cabral, depois de cumprir um mandato como deputado estadual.

Os cinco deputados foram candidatos à reeleição em pleito que ocorreu dias antes da operação. Já presos, eles foram empossados no ano seguinte na cadeia, fato inédito na história da Alerj. Uma liminar do Tribunal de Justiça, entretanto, impediu a posse, mas foi derrubada pelo ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF). A Alerj foi notificada pelo Tribunal de Justiça da decisão e disse que cumpriria a determinação.

Os parlamentares foram soltos em outubro de 2019 pela própria Alerj, em sessão extraordinária. A votação também tinha sido determinada pelo STF, através da ministra Carmen Lúcia. Na ocasião, a ministra atendeu ao pedido da defesa dos presos e considerou que as assembleias estaduais têm o mesmo poder do Congresso de votar a libertação de parlamentares.

Cronologia do caso

outubro de 2018: 70 deputados são eleitos para Alerj

novembro de 2018: 5 deles são presos na Furna da Onça, desdobramento da Lava Jato

março de 2019: presos são empossados na cadeia

março de 2019: apesar da posse, suplentes assumem os mandatos

abril de 2019: Justiça suspende posse dos presos

outubro de 2019: STF manda Alerj votar possível libertação

outubro de 2019: Alerj decide soltar os cinco presos

novembro de 2019: Soltos, eles pedem para retomar os mandatos

maio de 2020: STF derruba liminar e determina que deputados retomem os mandatos

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