Bandeira estaria em um dos carros de som da passeata e também foi vestida por manifestantes
Vídeo do Twitter / Reprodução
Bandeira estaria em um dos carros de som da passeata e também foi vestida por manifestantes

Ostentada em um trio elétrico na manifestação de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro na Avenida Paulista, em São Paulo, neste domingo, uma bandeira rubro-negra com um tridente, associada a um grupo nacionalista ucraniano com ideário de extrema-direita, está sendo investigada pela polícia como um possível símbolo neonazista.

O próprio secretário executivo da Polícia Militar (PM) de São Paulo, Coronel Camilo, chegou a dizer, em entrevista à CNN Brasil, que um dos apoiadores de Bolsonaro portando uma “bandeira neonazista” teria sido um dos causadores do conflito deste domingo, ao se dirigir até o grupo de manifestantes antifascistas para fazer provocações.

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Mais tarde, em entrevista ao GLOBO, Camilo recuou sobre o fato do episódio ter sido o estopim da confusão, mas não confirmou a associação com a bandeira. De acordo com Camilo, três participantes do ato pró-Bolsonaro foram até o grupo formado por torcedores organizados para fazer provocações.

"Quando chegou a primeira informação disseram que eles também estavam com bandeiras. Isso eu não consegui confirmar. Confirmei que essas pessoas foram lá, teve provocação e, além de bate-boca, essas pessoas se envolveram em agressões físicas".

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Em seguida, ainda nas palavras do coronel, essas pessoas foram retiradas do local por intervenção da polícia, mas não houve prisão. A partir, os ânimos começaram a se acirrar entre os dois grupos que passaram a tentar avançar sobre a linha de divisão montada pela PM.

O grupo a favor de Bolsonaro teria recuado diante do reforço policial. Já os que se opunham ao governo começaram, segundo o secretário executivo da PM, a atirar pedras, levando os policiais a regirem com bombas de efeito moral e gás lacrimogênio.

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Camilo diz que serão analisadas imagens para tentar identificar se bandeiras neonazistas realmente foram levadas para a manifestação. "Se forem identificadas pessoas com bandeira neonazistas como foi falado, pessoas atentando contra a democracia, os responsáveis vão responder por isso".

Derivado de símbolos usados na mitologia grega, e posteriormente convertido na imagem da santíssima trindade para os cristãos, o tridente presente na bandeira rubro-negra passou a ser usado pelos habitantes da Ucrânia durante a Idade Média, em um período de conversão da população ao cristianismo.

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De acordo a embaixada da Ucrânia no Brasil, a bandeira rubro-negra simboliza "a nossa terra e o sangue de nossos heróis derramado por Liberdade, Independência e Soberania da Ucrânia".

Em nota, a embaixada explica que a bandeira "foi usada desde o século XVI pelos cossacos ucranianos nas lutas contra invasores estrangeiros". O tridente é o brasão oficial do Estado ucraniano com a conversão do país ao Cristianismo pelas mãos do Príncipe Vladimir, no ano 988.

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Ao longo dos séculos, o tridente agregado à bandeira vermelha e negra ganhou a conotação de liberdade aos ucranianos em meio às inúmeras guerras pela soberania daquele território.

A associação com grupos de extrema-direita ficou mais clara a partir da Segunda Guerra, quando a bandeira virou símbolo do Exército Insurgente da Ucrânia, um movimento nacionalista e militar formado em 1941.

O grupo aliou-se com a Alemanha nazista até a invasão da Ucrânia por tropas nazistas, dois anos mais tarde. Ao fim da guerra, a bandeira rubro-negra foi usada por tropas ucranianas em lutas contra União Soviética e Polônia. Com a incorporação da Ucrânia à União Soviética, o símbolo perdeu força.

O prestígio voltou décadas mais tarde, já num contexto de Ucrânia independente após o fim da União Soviética. Em 2013, com a fundação do partido de extrema-direita Pravyi Sektor ("setor direito" em português) no contexto de insatisfação com o governo de Viktor Yanukovytch, presidente ucraniano alinhado com o colega russo Vladimir Putin.

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A revolta popular ao governo de Yanukovytch, acusado de corrupção, levou à queda do governo em 2014. Embora seja comparado a um grupo neonazista por cientistas políticos fora da Ucrânia, os líderes do Pravyi Sektor negam afiliação com nazismo ou fascismo.

Atualmente o partido comanda um braço paramilitar com operações na fronteira da Ucrânia com a Rússia. Na última eleição parlamentar da Ucrânia, em 2019, o partido teve 2% dos votos e ficou de fora do Parlamento.

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