O governo Jair Bolsonaro passou a noite desta quinta-feira articulando para tentar evitar a prorrogação da CPMI das Fake News . A operação, no entanto, fracassou. Embora alguns senadores tenham recuado do apoio à extensão dos trabalhos do colegiado, outros parlamentares assinaram o requerimento para que ela funcione até outubro. Encerrado o prazo às 23h59 de ontem, a oposição garantiu o número necessário de assinaturas para que as investigações sobre o impulsionamento de mentiras continue. O temor do governo é que o colegiado se concentre nos filhos de Bolsonaro.
O requerimento para prorrogação foi apresentado com 37 assinaturas de senadores e 209 de deputados. Eram necessárias 27 no Senado e 171 na Câmara. Ao fazer a leitura do documento na sessão, o deputado Marcos Pereira (Republicanos-SP), primeiro vice-presidente do Congresso, informou que as assinaturas foram conferidas e aceitas. Regimentalmente, depois dessa leitura, senadores e deputados têm até 23h59 para retirar apoios. Sob comando do líder do governo no Congresso, Eduardo Gomes (MDB-TO), e do ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, o Planalto
passou a atuar para que parlamentares retirassem sua assinatura.
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Segundo relatos, o governo concentrou a operação no Senado, porque precisaria retirar menos assinaturas que na Câmara. Enquanto o Planalto agia de um lado, os interessados na prorrogação disparavam mensagens e telefonemas para tentar impedir que senadores desistissem do apoio e ganhar novos aliados. A guerra de telefonemas durou até o último minuto. O governo conseguiu convencer 10 senadores a retirarem o apoio à prorrogação. A oposição e o centrão, no entanto, conquistaram sete assinaturas. Somando 34 apoios, sete a mais que o necessário. Assim, a CPI, que acabaria em 13 de abril, foi prorrogada por 180 dias.
"Confirmadíssima (a prorrogação). Neutralizamos as retiradas", comemorou o presidente do colegiado, Angelo Coronel (PSD-BA).
Ontem, o líder do governo, senador Eduardo Gomes (MDB-TO), disse que questionará a viabilidade da manutenção da CPMI em meio à pandemia do coronavírus.
"É impossível pensar que estamos sem (reuniões da) Comissão de Constituição e Justiça e comissões de saúde. Não é questão de mérito. É do funcionamento da Casa", disse Gomes.
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Desde a criação da CPI, o governo trabalha para obstruir seu trabalho. Eles acusam a oposição de querer torná-la um "tribunal de exceção" contra Bolsonaro. Em depoimentos, ex-aliados do presidente, como a ex-líder de governo Joice Hasselmann (PSL-SP), disseram que o Planalto mantém uma organização para espalhar mentiras. Há pedidos de convocação do vereador do Rio Carlos Bolsonaro.
A CPMI ainda esbarrou no deputado Eduardo Bolsonaro (SP). Dados encaminhados pelo Facebook mostraram que um perfil investigado por supostamente publicar fake news em apoio a Bolsonaro foi movimentado pela rede da Câmara. Além disso, o email cadastrado para a criação da conta é de Eduardo Guimarães, assessor parlamentar de Eduardo Bolsonaro.
A última reunião da CPI ocorreu em 4 de março. A seguinte estava marcada para o dia 11 também do mês passado, com extensa pauta de requerimentos de convocações, quebras de sigilo e determinação de providências a autoridades. O encontro foi desmarcado depois do avanço do coronavírus no país, que levou ao esvaziamento do Congresso.
Sessões remotas
A paralisação dos trabalhos ocorreu em um momento que a comissão havia ganhado fôlego novo, com a divulgação de que as redes do Senado e da Câmara foram usadas para a movimentação de contas investigadas por supostamente espalhar notícias falsas . Esses perfis acessados são conhecidos pela defesa do presidente Jair Bolsonaro.
Sem saber quando será possível retomar as sessões presenciais, parte dos integrantes da comissão defende que a CPI também se reúna remotamente, como tem ocorrido com as sessões plenárias da Câmara e do Senado.
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"A prorrogação dos trabalhos da comissão será por seis meses, o que é um tempo importante para a continuidade das investigações. Com a crise de saúde, pode ser necessário definir um novo formato de funcionamento virtual provisório, como nas sessões do Congresso. O importante é que a comissão não pare, até mesmo porque estamos identificando a disseminação de fake news sobre o próprio tema do coronavírus. Isso tem impacto na saúde de nossa população e deve ser combatido. É um tipo de desinformação que pode matar", diz a deputada Natália Bonavides (PT-RN).