O presidente Jair Bolsonaro é contra a possibilidade de federalizar a investigação do assassinato da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco e de Anderson Gomes , que na ocasião trabalhava como motorista, mortos em março do ano passado. Na sua avaliação, isso poderia ser interpretado como uma tentativa de blindá-lo. Bolsonaro tem uma casa no Rio de Janeiro no mesmo condomínio onde mora um dos homens acusados pelo assassinato. Um porteiro que trabalha lá chegou a citar o nome do presidente em depoimento dado na investigação, mas depois recuou.
Leia também: Bolsonaro critica "abuso" do MP em investigação contra o filho Flávio
A decisão da federalização deverá ser tomada em 2020 pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Se houver a federalização, o processo sairá da Justiça Estadual e irá para a Justiça Federal. Com isso, a investigação passaria da Polícia Civil e do Ministério Público do estado para a Polícia Federal (PF) e para o Ministério Público Federal (MPF).
"Fala-se muito em trazer para esfera federal o caso Marielle. Mas se trouxer vai dar um indicativo, né, acho que seria bom, mas vai dar indicativo que querem me blindar com a Polícia Federal", disse Bolsonaro .
Há no Superior Tribunal de Justiça (STJ) um pedido feito em setembro pela ex-procuradora-geral da República Raquel Dodge para federalizar a investigação, que posteriormente foi endossado pelo atual procurador-geral, Augusto Aras . A relatora do processo, ministra Laurita Vaz, decidiu não incluir o tema para julgamento em 2019, jogando-o para 2020.
Leia também: Bolsonaro é o presidente com mais Medidas Provisórias barradas desde 2003
Há divisão entre os ministros sobre o tema, e ela deseja procurar um consenso para o caso. Na sexta-feira, o presidente do STJ, João Otávio de Noronha, defendeu a investigação conduzida no estado do Rio de Janeiro, destacando que os assassinos estão presos, numa referência ao sargento reformado da Polícia Militar Ronnie Lessa e ao ex-PM Elcio Vieira de Queiroz.
Bolsonaro também ligou a tentativa de relacioná-lo ao caso Marielle com esforços para atrapalhar as investigações. Nesse caso, a apuração para saber se está ocorrendo obstrução de justiça já está a cargo da PF.
"Eu acho que tem de ir para o Rio de Janeiro, a PF tem que ir para cima lá no Rio de Janeiro para quem está com essas medidas buscando obstruir a Justiça. Querem envolver o Renan (filho do presidente), namorou a filha do cara que tava lá. Perguntei ao Renan. Tá com 21 anos o Renan. Ele riu: "pai, namorei, né, para não falar outra coisa, metade das meninas do condomínio". Nem sei se ele tinha, nem sei, nesse caso, se tinha menina, se não tinha. talvez tenha namorado ela sim, talvez...", afirmou.
Leia também: Indulto vai ter capítulo especial para policiais, diz Bolsonaro
Em outubro, o ministro da Justiça, Sergio Moro , solicitou a Aras a abertura de inquérito para apurar as circunstâncias em que houve citação ao nome do presidente Jair Bolsonaro na investigação do assassinato de Marielle, ocorrido em março de 2018. Moro disse que pode ter ocorrido "eventual tentativa de envolvimento indevido do nome do Presidente da República no crime em questão, o que pode configurar crimes de obstrução à Justiça, falso testemunho ou denunciação caluniosa".