Crises na comunicação do governo intensificaram as transmissões do presidente
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Crises na comunicação do governo intensificaram as transmissões do presidente

A notificação disparada a celulares de quem segue as redes sociais do presidente se tornou rotina: “Jair Messias Bolsonaro iniciou uma transmissão ao vivo”. Do início do mandato até a última sexta-feira, foram 137 vídeos desse tipo no Facebook, uma média de um a cada dois dias e meio. É o próprio Bolsonaro quem decide quando e como fazê-las, numa estratégia para se comunicar diretamente com o público. O resultado são pouco mais de 44 horas de vídeo, que renderam mais de cem milhões de visualizações.

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Essa estratégia foi se intensificando com o decorrer do ano: no primeiro semestre houve apenas 21 lives; no segundo, 116 até o momento. Foi uma maneira de Bolsonaro assumir o controle da comunicação, que havia sido foco de crises no início do governo. O presidente ainda aproveita as transmissões para passar recados, criticando adversários e rebatendo reportagens.

Bolsonaro não fez nenhuma transmissão nos dois primeiros meses do ano. Foi somente em março que ele retomou um costume da campanha, que havia sido abandonado: “a live da semana”, que passou a ser exibida toda quinta-feira — cronograma cumprido até aqui, com apenas uma exceção, durante a viagem do presidente à Ásia, em outubro. Até mesmo quando estava internado, em setembro, após uma cirurgia, Bolsonaro não deixou de fazê-la, ressaltando que não poderia durar mais de dois minutos por recomendação médica, mas que não queria quebrar a rotina.

Lives já foram gravadas na Argentina, nos Estados Unidos e no Japão. Há duas semanas, foi feita de dentro de um carro, enquanto Bolsonaro se dirigia ao Maracanã para um jogo do Flamengo.

Aos poucos, Bolsonaro passou a transmitir momentos de sua rotina, desde a cerimônia de assinatura de um decreto que flexibilizou o porte de armas até sua visita à Festa de Peão de Barretos. Outro tipo frequente de transmissão são as exibições das conversas que ele tem com apoiadores e jornalistas quando chega e sai do Palácio da Alvorada — na manhã da última sexta-feira, o vídeo contou até com a participação de um homem fantasiado de Papai Noel. Tudo gravado com o celular do próprio presidente, com duração média de 19 minutos.

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O próprio Bolsonaro reconheceu, numa transmissão de julho iniciada às 14h40m, que poderia parecer estranho realizar uma transmissão durante o expediente.

"Você pode achar que não é normal um presidente da República abrir uma live num horário como esse", disse, explicando que o objetivo era falar sobre uma reunião que teve com Yohei Sasakawa, embaixador da boa vontade da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a eliminação da hanseníase.

A transmissão com mais visualizações (mais de 7 milhões) foi feita em outubro, para rebater a informação de que o nome do presidente havia sido citado, em depoimento, pelo porteiro de seu condomínio, na investigação da morte da vereadora Marielle Franco (PSOL).

Corte de cabelo

Outra live simbólica foi feita em julho: Bolsonaro cancelou uma reunião que teria com o chanceler da França, Jean-Yves Le Drian, e, poucos depois do horário marcado para a audiência, apareceu no Facebook cortando o cabelo.

Nas lives semanais, há sempre convidados, geralmente integrantes do governo. O secretário da Pesca, Jorge Seif Junior, e o presidente da Embratur, Gilson Machado Neto, são alguns dos participantes mais frequentes. A decisão de quem vai participar é de Bolsonaro, assim como a palavra final sobre as pautas.A gravação é feita por um assessor do gabinete. Em geral, Tércio Arnaud Thomaz, que o acompanha desde a campanha eleitoral.

"A maioria das pautas é dele mesmo. Ele escreve os tópicos em letras grandes e desenvolve", diz Gilson Machado Neto. "Ele sempre se comunicou com muito sucesso. Se elegeu com muito pouco tempo de televisão".

Chamado pelo presidente de “o homem do fundo do mar” e de “Netuno”, numa referência ao deus dos mares e oceanos, Seif costuma ligar para Bolsonaro e oferecer assuntos para a transmissão.

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Recentemente, uma fala do secretário numa live repercutiu nas redes sociais: a de que os peixes são capazes de desviar do óleo derramado na água. Seif comemora: "houve várias consequências: piadas, defensores, materiais na internet, duas menções no “Fantástico”, apoio dos pescadores devido ao objetivo de incentivar o consumo e retirar o medo. No fim, ganhei mais de mil seguidores". 

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