Passando longe dos extremismos e alheio às pressões e cobranças nas redes sociais, o governador de São Paulo, João Doria ( PSDB), naturaliza qualquer questionamento sobre o contexto político das eleições 2018. Sobre a aproximação com o presidente Jair Bolsonaro , a quem declara publicamente tantas críticas quanto apoios, ele minimiza os questionamentos resumindo: “ Bolsodoria foi um movimento espontâneo de quem não queria entregar São Paulo para a esquerda e o PT”.
Em entrevista exclusiva ao Portal iG , Doria garante que não tem problemas declarados contra o governo federal e que apoiará toda e qualquer decisão que, em sua visão, beneficiem o País e a população. E dispara: “os brasileiros querem bons resultados, medidas concretas que tragam emprego, renda, prosperidade e bem-estar”.
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O discurso é carregado de posicionamentos, ainda assim, o governador tucano faz questão de afastar os anseios presidenciais do horizonte. “Não é hora de falar de eleição”, pontua.
Confira a entrevista completa:
Depois de se eleger com o mote “Bolsodoria”, o senhor disse que não é bolsonarista. Por quê?
Bolsodoria foi um movimento espontâneo de quem não queria entregar São Paulo para a esquerda e o PT. Nasceu no interior e acabou tomando corpo na reta final da eleição. No segundo turno ou você está de um lado ou de outro. Não concordo com as ideias socialistas e esquerdizantes, muito menos compactuo com a corrupção ocorrida nos governos do PT.
Mas, durante o governo, o senhor apoiou as medidas do presidente Jair Bolsonaro...
Apoiei a reforma da Previdência, inclusive quando muita gente do governo se pronunciava com ressalvas. Apoio a Nova Previdência porque ela corrige distorções que beneficiavam alguns grupos privilegiados e porque ela ajuda o Brasil a resolver seu problema fiscal e a recuperar a confiança dos investidores. Apoiarei todas as propostas do governo que forem boas para o Brasil e para os brasileiros.
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A política segue polarizada entre grupos que se enfrentam o tempo todo nas redes. É possível que seja diferente?
As pessoas estão percebendo que o radicalismo atrasa o Brasil. Os extremistas, de direita ou de esquerda, têm uma agenda ideológica que se sobrepõe aos interesses do País. Eles não conseguem governar pensando no que é o melhor para o brasileiro, para o cidadão que precisa de emprego e da melhoria nos serviços públicos. Aqui em São Paulo, nós pensamos diferente. Nosso pensamento é centro-liberal-democrático, com visão moderna, digital, inovadora e pró-mercado. Defendemos um Estado menor e mais eficiente.
O senhor acredita que a economia vai mudar o clima de disputa política?
Recebo muitas manifestações de quem está cansado do radicalismo estéril, que só produz conflitos e não ajuda o Brasil a resolver seus problemas. Cada vez mais pessoas percebem que os radicais jogam dinheiro fora. Foi isso que o PT fez ao financiar obras em Cuba ou na Venezuela. Jogou fora o dinheiro do povo brasileiro. Como consequência de algumas posições mais radicais, estamos deixando de receber investimentos e afugentando a colaboração de países amigos. Defendo, por exemplo, que o Brasil possa receber recursos de países e ONGs sérias que queiram investir na proteção do meio ambiente.
O senhor foi bastante crítico do discurso do presidente Bolsonaro na ONU. Por quê?
Porque nesse ponto tenho uma visão diferente da dele. E da mesma forma que apoio medidas positivas do governo, faço algumas ressalvas com o objetivo de ajudar o Brasil. O discurso do Presidente Bolsonaro foi inadequado para uma plateia de chefes de Estado, diplomatas e para a direção da ONU. Foi um discurso direcionado para o Palácio do Planalto, dirigido a entusiastas bolsonaristas.
Mas, em sua opinião, o discurso prejudica de alguma forma o agronegócio do Brasil?
Os fatos mostram que o posicionamento inicial do governo não ajudou o País. Quase perdemos recursos do Fundo da Amazônia e também vimos alguns países usando a queimada como desculpa para tentar barrar produtos brasileiros. Mas vejo agora que o ministro e o presidente estão empenhados em melhorar a percepção externa sobre o trabalho dos produtores brasileiros. O agro é muito relevante para nossa economia. Temos de defender as boas práticas e expandir a produtividade, sem devastar o meio ambiente. As ações de fiscalização precisam ser rotineiras, como fazemos em São Paulo.
O senhor diz que faz uma política liberal. Na essência, não é o que está sendo feito pelo ministro Paulo Guedes?
Sim, o ministro Paulo Guedes tem adotado medidas que vão na direção correta. Em São Paulo, temos um programa de desestatização e desburocratização que tem atraído investimentos do mundo todo. Com autorização da Assembleia Legislativa, aprovamos medidas para incentivar a modernização da indústria automobilística e para reduzir o tamanho do Estado, extinguindo estatais que ficaram obsoletas e perderam sua função. Não estamos criando nenhuma estatal nova.
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Somos o Estado que mais criou empregos com carteira assinada neste ano. Foram 210 mil até agora. Seis das 15 montadoras instaladas em São Paulo estão fazendo novos investimentos. Abrimos fábricas que estavam fechadas. Ganhamos disputas internacionais por novas fábricas no setor do agronegócio, agregando valor e modernizando nossa produção. Conseguimos doações de empresas para reformar o novo Museu do Ipiranga, que será o mais moderno museu do País em 2022. Não propusemos aumento de impostos, ao contrário, reduzimos impostos, desde que haja investimentos e novos empregos.
Considerando todo o seu discurso, é possível dizer que o senhor já está em campanha?
Não é hora de falar de eleição. O que interessa para as pessoas é saber quem está fazendo a gestão correta, eficiente, desestatizante e liberal, prometida na campanha do ano passado. Os brasileiros querem bons resultados, medidas concretas que tragam emprego, renda, prosperidade e bem-estar. Nosso esforço aqui em São Paulo é para atrair investimentos e melhorar a qualidade de vida das pessoas, especialmente das mais pobres e vulneráveis.