Neste domingo 8, Jair Bolsonaro passará pela quarta cirurgia desde que sofreu um atentado enquanto fazia campanha em Juiz de Fora, no estado de Minas Gerais, em setembro de 2018. O novo procedimento deve corrigir uma hérnia incisional que se formou no lado direito de seu abdômen, próxima da região em que sofreu a facada, no atentado cometido por Adélio Bispo de Oliveira – hoje internado em um manicômio judicial.
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Ainda que a operação seja usual em casos como o do presidente, não deixa de exigir atenção. A hérnia se formou por causa da alta pressão que a região afetada pela lesão sofreu durante o tratamento e as operações anteriores. Isso fez com que uma pequena saliência se formasse na barriga do presidente. Por mais que seja apenas uma deformação ínfima, apenas a intervenção cirúrgica pode corrigir o problema em definitivo.
A natureza da ferida já fez o presidente cumprir um calvário nos hospitais. Bolsonaro já foi submetido a uma operação para colocar uma bolsa de colostomia, outra para desobstruir uma alça do intestino delgado e a uma terceira para remoção da bolsa – esta, em janeiro deste ano. O procedimento de agora é considerado simples, porém de médio porte. Exige a aplicação de anestesia geral e um período de recuperação que dura entre sete e dez dias. Bolsonaro afirmou que a cirurgia é menos invasiva do que as outras, mas que sempre se trata de um risco. “Eu, que já estive do outro lado da morte, vou passar por um momento igual novamente”, declarou na segunda-feira 2.
O anúncio da nova cirurgia foi feito pelo próprio presidente , através de suas redes sociais, após uma consulta com os médicos Antônio Macedo e Leandro Echenique, os mesmos que acompanharam sua recuperação no hospital Albert Einstein, para onde foi transferido após a primeira operação. A intervenção será no Hospital Vila Nova Star, também em São Paulo.
De olho na ONU
Como Bolsonaro é Bolsonaro, o que poderia ser um afastamento médico rotineiro, ainda que delicado por envolver um chefe de Estado, quase se tornou uma crise institucional. A vice-presidência informou que o mandatário não se licenciaria do cargo, não transferindo as funções para o vice, Hamilton Mourão, durante os dias em que ficará internado. Isso foge do protocolo e gerou estranheza. Uma hipótese é que o presidente não desejasse transferir o poder, mesmo que provisoriamente, ao vice, de quem se afastou desde o início do mandato. Um dia depois, os porta-vozes de Bolsonaro negaram. Disseram que tudo não passou de um “mal entendido”.
Outra questão sensível envolve o esforço do presidente de desfazer a crise de imagem internacional com as queimadas na Amazônia. A cirurgia pode impedir sua presença na Assembleia Geral da ONU, em Nova York, em 24 de setembro. O discurso de abertura é tradicionalmente feito pelo presidente brasileiro. Mesmo com o prazo apertado de recuperação, Bolsonaro afirmou que não vai perder a cerimônia. “Vou comparecer à ONU nem que seja de cadeira de rodas ou de maca”, disse.
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O evento pode trazer embaraços ao presidente. O discurso é aguardado após as ofensas de Bolsonaro a líderes mundiais, como ao presidente da França, Emmanuel Macron, e à chanceler alemã, Angela Merkel. Independentemente das condições médicas, é aconselhável que Bolsonaro esteja em sua melhor forma, pois estará sob intenso escrutínio da comunidade internacional – onde age de forma impulsiva e antidiplomática.