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Os ministros Onyz Lorenzoni (Casa Civil) e Sergio Moro (Justiça) participam de reunião com o presidente Jair Bolsonaro
Carolina Antunes/PR - 29.8.19
Os ministros Onyz Lorenzoni (Casa Civil) e Sergio Moro (Justiça) participam de reunião com o presidente Jair Bolsonaro


Quando Jair Bolsonaro estava compondo o seu ministério, uma escolha foi anunciada como um golaço: a escalação do juiz Sergio Moro como seu ministro da Justiça, justamente o homem que sintetizava a luta contra a corrupção, uma das bandeiras do presidente. Alguns meses depois, a situação mudou da água para o vinho. O presidente passou a interferir em nomeações feitas por Moro e chegou a dizer que quem mandava na Polícia Federal, por exemplo, era ele e não o ministro.

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A relação azedou e nos bastidores chegou-se a comentar que Moro estava por um fio: ou seria demitido por Bolsonaro ou o próprio Moro pegaria o chapéu e iria embora. Passados os piores momentos, os dois discutiram a relação e resolveram dar um tempo na troca de farpas. Chegaram à conclusão que a saída não era boa para nenhum dos dois lados. Moro continua alimentando o sonho de uma vaga no STF, razão pela qual precisa continuar o trabalho no Governo, e Bolsonaro chegou à conclusão de que simplesmente não poderia abrir mão do ministro mais popular de seu governo. O Datafolha aponta que 52% da população considera sua atuação como ótima ou boa.

Se em 2018, ainda na época da transição do governo, Bolsonaro dizia que o ministro teria “carta branca”, agora o presidente demonstra que a autonomia de Moro tem limites. As interferências no trabalho do ex-juiz vieram principalmente nas áreas de combate à corrupção, para as quais Moro nomeou seus homens de confiança na Lava Jato. A principal delas foi na Polícia Federal. Bolsonaro estava inconformado com a atuação do superintendente da PF no Rio, Ricardo Saadi, por entender que ele se imiscuiu na investigação sobre os negócios escusos de seu filho Flávio, sobretudo nos tempos em que foi deputado estadual fluminense.

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O diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, nomeado por Moro, bateu o pé contra a saída de Saadi, o que levou Bolsonaro a dizer que se o diretor-geral não trocasse o superintendente, ele demitiria Valeixo. “Quem manda sou eu. Moro não manda na PF ”, escrachou Bolsonaro. Sentindo-se apunhalado, Moro chegou a comentar com amigos que se Bolsonaro demitisse Valeixo, ele estaria fora. Não suportaria mais essa. Afinal, Bolsonaro acabara de demitir Roberto Leonel do Coaf, outro indicado seu e que também compôs a Lava Jato no Paraná.

Depois de muita lavação de roupa suja, na qual teve até troca de gritos, de lado a lado, Moro se acertou com Bolsonaro. Disse, na quarta-feira 28, que o diretor da PF ficaria, mas que isso também poderia mudar a qualquer momento. Paralelamente, Bolsonaro tomou uma decisão salomônica: mandará Saadi ocupar a vaga de representante brasileiro na Europol (Serviço Europeu de Polícia), na Holanda. Ficou bom para todos os lados.

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Arestas a aparar

Mas ainda há arestas a serem aparadas entre os dois, como a Lei de Abuso de Autoridade. A lei, aprovada com o apoio de Bolsonaro, irritou Moro, pois ela atinge fortemente os juízes, procuradores e delegados da PF. O ministro sugeriu que o presidente faça pelo menos nove vetos na lei, mas o presidente ainda não se comprometeu a fazer isso. Ou seja, pode vir uma nova tempestade no relacionamento dos dois. Pelo Twitter, pelo menos, os dois proclamaram uma trégua. O presidente comentou no pé de um post do ministro: “Vamos Moro!”, que por sua vez respondeu: “Estamos juntos senhor presidente, pelo Brasil e pelo futuro.” A tímida demonstração de afeto foi seguida de uma declaração mais firme por parte de Moro.

Ao ser perguntado se ficaria na pasta até o fim do governo, respondeu: “É possível, não, provável. Eu não entrei no governo para sair, entrei para ficar”, afirmou.

O que todos perguntam é o que está por trás de tamanha mudança de ventos. A resposta parece simples: o presidente, que decidiu disputar a reeleição, estaria incomodado com o fato de Moro ser mais popular do que ele. Nesta semana, por exemplo, uma pesquisa da CNT/MDA apontou que a desaprovação de Bolsonaro subiu de 28,2% em fevereiro para 53,7% em agosto. Se Moro é mais querido, o ministro lhe fará sombra em 2022.

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