O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), arquivou nesta segunda-feira (26) o processo em que o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB),
Felipe Santa Cruz
, pediu explicações ao presidente Jair Bolsonaro (PSL). O motivo da ação foi uma declaração de Bolsonaro sobre o desaparecimento durante a ditadura militar de
Fernando Augusto de Santa Cruz
Oliveira, pai do presidente da OAB. Barroso explicou que, como o chefe do Planalto já se explicou, não haveria mais motivo para deixar o processo
aberto.
“O pedido de explicações, previsto no artigo 144 do Código Penal, tem por objetido permitir ao interpelado esclarecer eventuais ambiguidades ou dubiedades acerca de manifestações consideradas ofensivas. Uma vez prestadas as explicações, não é cabível qualquer avaliação por este juízo acerta do seu conteúdo. O requerente tem acesso direto às explicações prestadas no processo eletrônico, de modo que tenho por cumprida a finalidade cautelas e julgo extinto o feito”, escreveu o ministro sobre o processo de Santa Cruz contra Bolsonaro .
Na sexta-feira (23), em resposta à ação do presidente da OAB, Bolsonaro enviou ofício ao STF
dizendo que não teve a intenção de ofender ou de acusar Fernando Augusto de Santa
Cruz Oliveira de crime quando falou publicamente sobre seu o caso.
A fala de Bolsonaro em tom desrespeitoso foi: “Um dia, se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, conto pra ele. Ele não vai querer ouvir a verdade. Conto pra ele. Não é minha versão. É que a minha vivência me fez chegar nas conclusões naquele momento. O pai dele integrou a Ação Popular, o grupo mais sanguinário e violento da guerrilha lá de Pernambuco e veio desaparecer no Rio de Janeiro”.
No ofício enviado ao STF, Bolsonaro esclareceu que atribuiu a violência ao grupo de esquerda
, e não a Fernando Santa Cruz
. “Como se percebe, não imputei qualquer crime ao pai do
interpelante (não tendo sido apontado qualquer ato específico de violência por ele praticado) ou ao próprio requerente, sendo certo que a característica negativa a que me referi
dirigia-se ao grupo e não à pessoa do pai do interpelante”.
'Não tive a intenção de ofender'
Bolsonaro acrescentou que a participação do pai do presidente da OAB no grupo Ação Popular era fato inquestionável.
“Portanto, a participação do pai do interpelante em grupo de esquerda, contrário ao regime militar, não parece ser fato passível de maiores dúvidas, enquanto a periculosidade do
grupo pode ser percebida por notas históricas. Assim, minhas declarações dizem respeito ao grupo em si, e não à pessoa do pai do interpelante, que sequer tive a oportunidade de
conhecer”.
O presidente da República também afirmou que não teve a intenção de ofender ninguém com suas declarações. “No tocante à forma pela qual teria ocorrido a morte do pai do
interpelante, limitei-me a expor minha convicção pessoal em função de conversas que circulavam à época", disse.
"Considerando que essa percepção da realidade não se alinha a documentos oficiais, a mesma foi anunciada pela mídia em tom de grave ofensa. Contudo, não imputei fato previsto
como crime ao pai do interpelante. Por fim, não tive qualquer intenção de ofender quem quer que seja, muito menos a dignidade do interpelante ou de seu pai”, acrescentou
Bolsonaro
.