Em crítica à repercussão da troca do superintendente da Polícia Federal no Rio, o presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quinta-feira que cabe a ele, e não ao ministroSergio Moro (Justiça), trocar o comando do órgão. Chegou a sugerir que poderia substituir o diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, escolhido pelo ex-juiz para assumir o cargo em janeiro. As declarações de Bolsonaro contradizem a promessa de "liberdade total" que o próprio disse ter feito ao então futuro "superministro" ao convidá-lo para chefiar a pasta, no ano passado.
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Em novembro de 2018, o presidente eleito recebeu o juiz federal Sergio Moro em sua casa na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. Ao fim do encontro, no qual ficou acertada a nomeação, Bolsonaro
declarou à imprensa que Moro poderia indicar todos os cargos do primeiro escalão do ministério, ao qual a PF está vinculada, sem que ele interferisse .
"É um superministério da Justiça", afirmou na ocasião Bolsonaro, que prometeu não intervir em assuntos na pasta mesmo em eventuais casos que envolvessem parentes seus. "Eu não vou interferir em absolutamente nada que venha a ocorrer dentro da Justiça no tocante a esse combate à corrupção. Mesmo que viesse a mexer com alguém da minha família no futuro. Não importa. Eu disse a ele. É liberdade total para trabalhar pelo Brasil", disse.
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Nesta quinta-feira, Bolsonaro deixou clara a mudança de postura ao questionar "qual seria o problema" se tirasse do comando da PF Maurício Valeixo — na semana passada, o superintendente quase pediu demissão diante da interferência de Bolsonaro no afastamento de chefes da PF, assunto historicamente restrito ao diretor-geral do órgão. A reivindicação do poder de trocar superintendentes foi vista no entorno de Valeixo como uma tentativa de diminuir o poder de Moro .
"Se eu trocar hoje, qual o problema? Se eu trocar hoje, qual o problema? Está na lei. Eu que indico, e não o Sergio Moro. E ponto final. Qual o problema se eu trocar hoje ele? Me responda", perguntou Bolsonaro a jornalistas.
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Na semana passada, sem ser perguntado, Bolsonaro disse que Ricardo Saadi, da Superintendência do Rio, deixaria o cargo por motivo de "gestão" e "produtividade". Horas depois, em claro endosso de Moro à posição da PF
, o Ministério da Justiça divulgou nota de que Saadi seria substituído por vontade própria.
O órgão anunciou em seguida que Carlos Henrique Oliveira Sousa, superintendente de Pernambuco, ocuparia a vaga, mas Bolsonaro citou Alexandre Silva Saraiva, do Amazonas. Em reação, Valeixo fez chegar a Moro a informação de que, se não pode indicar superintendentes, não teria condições de permanecer no cargo. Quando percebeu o tamanho do problema, Bolsonaro recuou.