Petistas temiam exposição de Lula como preso comum em caso de transferência
Heinrich Aikawa / Instituto Lula
Petistas temiam exposição de Lula como preso comum em caso de transferência

Aliados do ex-presidente Lula temiam que a transferência dele para o presídio de Tremembé, no interior de São Paulo, poderia promover uma exposição que caracterizasse o líder petista como um presidiário típico . Na época da prisão, em abril do ano passado, a defesa negociou com a Polícia Federal para que não houvesse uma imagem marcante de Lula dentro da cadeia. O temor da cúpula petista é a de que Lula, numa penitenciária comum, perderia a chancela de preso especial, consequentemente, desidrataria o discurso de que o petista se transformou num preso político desde que foi levado para Curitiba.

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Entre as condições pedidas à época, estava a garantia de que  Lula  não tivesse a sua barba raspada. Em Tremembé, os presos, em geral, têm o cabelo e a barba cortados ao chegaram ao local. Havia preocupações também com as condições que seriam enfrentados no local. Ao contrário da Superintendência da Polícia Federal do Paraná, em Curitiba, o banho, no local, por exemplo, é frio

Desde o início a sua trajetória como presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, nos 1970, Lula tem a barba como uma das marcas de sua imagem. Nos anos recentes, o petista só ficou sem ela em 2012, quando fez quimioterapia como parte de um tratamento para um câncer na laringe.

Outro ponto que angustiava os petistas, antes da decisão do STF, era o fato de Lula ficar em um sistema prisional que está sob o comando da gestão do tucano João Doria, um ferrenho adversário político do PT . Nesta quarta-feira, ainda em meio à discussão sobre a transferência, Doria disse que Lula, em São Paulo, "terá a oportunidade de fazer algo que jamais fez na vida: trabalhar”.

Em Curitiba, Lula conquistou algumas benesses. Conseguiu a liberação de uma esteira para manter sua rotina de exercícios. Lá, também tem geladeira com água gelada e uma TV para se entreter com filmes e assistir a reuniões do PT por meio de pen drives que são levados pelos advogados.

No presídio de Tremembé 2, por regra, não há celas individuais. O local possui 608 vagas e abriga 533 detentos, uma penitenciária considerada em boas condições num sistema que padece com a superlotação.

Pegos de surpresa com a decisão da juíza Carolina Lebbos determinando a transferência, os petistas viveram momentos de muita "tensão e medo" na quarta-feira, nas palavras de uma liderança, até que o Supremo Tribunal Federal (STF) barrasse a decisão, no final da tarde.

No ano passado, além da preservação da barba, foi negociado, enquanto o ex-presidente se refugiava no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que a PF só usasse veículos descaracterizados na prisão. Também foi pedido que Lula se entregasse num local fechado para que helicópteros de emissoras de televisão não fizessem imagens.

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A Polícia Federal aceitou, na ocasião, que o ex-presidente se entregasse num galpão ao lado do sindicato e concordou em usar os carros sem logotipo e sirene luminosa. Na viagem entre São Paulo e Curitiba, a opção foi por um avião de pequeno porte, também sem logotipo. A única imagem registrada do ex-presidente foi na chegada à Superintendência da Polícia Federal do Paraná, mesmo assim de longe.

Três aliados (o então deputado Wadih Damous, o tesoureiro do PT, Emídio de Souza e o advogado Sigmaringa Seixas) foram à sede da PF em São Paulo negociar as condições para que Lula se entregasse. A avaliação dos petistas é que isso não ocorreria dessa vez.

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