O presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, rebateu a declaração do presidente Jair Bolsonaro (PSL) a respeito do desaparecimento de seu pai, Fernando Santa Cruz, durante o período de ditadura militar no Brasil (1964-1985).
Em uma série de mensagens publicadas no Twitter, o presidente da OAB disse que as declarações do presidente são "inqualificáveis" e expressam "crueldade e falta de empatia".
"O mandatário da República deixa patente seu desconhecimento sobre a diferença entre público e privado, demostrando mais uma vez traços de caráter graves em um governante: a crueldade e a falta de empatia. É de se estranhar tal comportamento em um homem que se diz cristão", escreveu Felipe Santa Cruz .
Felipe é filho de Fernando Santa Cruz , integrante do grupo Ação Popular (AP) dado como desaparecido em 1974, durante a ditadura militar . Bolsonaro citou Fernando ao reclamar da atuação da Ordem durante investigações acerca do pagamento aos advogados de Adelio Bispo de Oliveira , autor da facada ao então candidato do PSL, em setembro passado.
"Um dia, se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, eu conto pra ele. Ele não vai querer ouvir a verdade. Conto pra ele. Não é minha versão. É que a minha vivência me fez chegar e essas conclusões naquele momento. O pai dele integrou a Ação Popular, o grupo mais sanguinário e violento da guerrilha lá de Pernambuco e veio desaparecer no Rio de Janeiro", disse Bolsonaro .
O presidente da OAB rebateu: "Lamentavelmente, temos um presidente que trata a perda de um pai como se fosse assunto corriqueiro – e debocha do assassinato de um jovem aos 26 anos. Meu pai era da juventude católica de Pernambuco, funcionário público, casado, aluno de Direito. Minha avó acaba de falecer, aos 105 anos, sem saber como o filho foi assassinado. Se o presidente sabe, por 'vivência', tanto sobre o presente caso quanto com relação aos de todos os demais 'desaparecidos', nossas famílias querem saber".
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Felipe se manifestou também a respeito da reclamação de Bolsonaro sobre o recurso apresentado pela OAB para impedir que o telefone do advogado de Adelio fosse periciado pela Polícia Federal. O advogado disse que a OAB permanecerá "irredutível" na garantia do sigilo da comunicação entre advogado e cliente, destacando que isso é uma garantia do cidadão, e não do advogado.
"Vale salientar que, no episódio citado na infeliz coletiva presidencial, apenas o celular de seu representante legal foi protegido. Jamais o do autor, sendo essa mais uma notícia falsa a se somar a tantas", disse Felipe.
"Por fim, afirmo que o que une nossas gerações, a minha e a do meu pai, é o compromisso inarredável com a democracia, e por ela estamos prontos aos maiores sacrifícios. Goste ou não o presidente", finalizou.
De acordo com o jornalista Lauro Jardim, do jornal O Globo , o presidente da OAB já constituiu um advogado, Cesar Brito, para representar contra Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF) em razão das declarações do presidente da República.