Sergio Moro na CCJ do Senado
Pedro França/Agência Senado - 19.6.19
Sergio Moro na CCJ do Senado

Sabatinado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado nesta quarta-feira, o ex-juiz federal e Ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro fala a senadores sobre as mensagens supostamente trocadas entre ele e o procurador Deltan Dallagnol, do Ministério Público Federal (MPF), sobre os bastidores da Operação Lava-Jato.

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Na primeira parte da sessão, Moro reiterou que não pode garantir a autenticidade dos diálogos divulgados pelo site "The Intercept Brasil" na última semana. Moro reafirmou que considera comum a relação entre magistrados e as partes de um processo (ao ser questionado sobre a ação em que condenou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT) e classificou como criminosos os hackers que atacaram o celular dele e de outras autoridades.

Veja, ponto a ponto, como foi a primeira parte da sabatina de Moro no Senado .

Hackers agiram com 'vilania e baixeza'

O ataque hacker ao celular do ministro Sergio Moro, no início de junho,teria envolvido três ligações telefônicas recebidas pelo aparelho, segundo o ex-juiz. O identificador de chamadas teria mostrado o próprio número de Moro, que afirma não ter atendido aos telefonemas e informado a Polícia Federal (PF) sobre o episódio. Esse seria um sinal de que a linha pode ter sido clonada, conforme afirmou o ministro;

Moro garantiu que entregou o celular à PF logo após o ataque e que não teria motivo para se recusar a deixar o aparelho sob os cuidados dos investigadores;
De acordo com o ministro, outras autoridades também entregaram seus celulares para a perícia da PF (não houve, porém, menção ao nome de quem tenha ou não feito isso);

Parlamentares e jornalistas também teriam sido alvos de ataques hacker, conforme afirmou Moro. Ele preferiu, no entanto, não mencionar nomes, uma vez que as investigações correm sob sigilo. Sabe-se, porém, que um jornalista do GLOBO teve a conta no Telegram invadida;

Segundo Moro, não há como ele ter acesso às mensagens, uma vez que deixou de utilizar o Telegram, aplicativo em que elas teriam sido trocadas, em 2017 —  a política de privacidade da empresa, porém, indica que o conteúdo pode estar preservado se uma das partes não o tiver apagado;

O ministro ressaltou diversas vezes acreditar que o "Intercept" deu uma interpretação sensacionalista aos diálogos e defendeu que o veículo de imprensa entregue o material às autoridades;

O ex-juiz ressaltou acreditar que os ataques vieram de um grupo criminoso. Moro se disse surpreso com a "vilania" e a "baixeza" dos autores dos ataques: "Não é um adolescente com espinhas na frente do computador, mas sim um grupo criminoso estruturado", afirmou.

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Contato com partes seria 'comum'

 Moro reafirmou que não pode assegurar a autenticidade das mensagens, cogitou elas podem ter sido adulteradas total ou parcialmente;
O ministro garantiu que ele e outras pessoas que as leram as mensagens divulgadas pelo "Intercept" não viram qualquer infração nos diálogos. Segundo ele, é comum que magistrados se comuniquem com policiais, procuradores e advogados;

Em resposta ao senador Rogério Carvalho (PT-SE), Moro garantiu que não tratou com magistrados de tribunais superiores sobre questões relativas a processos da Lava-Jato — e afirmou que supor que isso tenha ocorrido seria, por parte do parlamentar, fazer uma grave acusação a ministros de tribunais superior;

Ao comentar a frase "In Fux we trust" (que ele teria enviado a Dalagnoll em referência à confiança de ambos na atuação do ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal), Moro afirmou que não vê nada demais no trecho e que, se autêncio, demonstra apenas uma crença na lisura da Corte. 

Imparcialidade reafirmada

Moro afirmou que sua conduta à frente dos processos da Lava-Jato foi imparcial e que a operação atingiu "vários agentes políticos de bandeiras diferentes", de espectros de esquerda e direita;

Em resposta ao senador Humberto Costa (PT-PE) sobre o que teria sido um pedido para que a força-tarefa não melindrasse o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Moro ressaltou que o processo em questão (sobre um suposto caixa dois na campanha tucana à presidência em 1996) tramitava em São Paulo e não passou por suas mãos;

Na réplica de Costa, o parlamentar sugeriu que a situação seria ainda mais grave caso Moro tivesse manifestado opinião sobre um processo que sequer tramitava em Curitiba. O senador sugeriu que a atuação do ex-juiz foi seletiva. Moro classificou as perguntas e afirmações como seletivas e disse que preferia não respondê-las;

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Ao responder o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) sobre eventuais excessos cometidos à frente da Lava-Jato, Moro afirmou que considera normal que uma operação na qual atuou por quatro anos seja alvo de opiniões divergentes. Ele ressaltou considerar normal que isso tenha acontecido principalmente no caso do ex-presidente Lula, por se tratar de um ex-presidente com alta popularidade, mas disse que o trâmite do processo obedeceu o que estava determinado em lei.

Convite antes do segundo turno

Questionado pelo senador Weverton Rocha (PDT-MA) sobre o convite para integrar o governo Bolsonaro, Moro afirmou que foi sondado pelo agora Ministro da Economia Paulo Guedes antes do segundo turno das eleições, em outubro do ano passado.
De acordo com Moro, o primeiro contato dele com o presidente Jair Bosonaro teria acontecido apenas em 1º de novembro do ano passado, já após a votação do segundo turno.

Desconfiança de aplicativo russo

Moro disse que parou de utilizar o aplicativo Telegram em 2017, mas não soube especificar em que mês isso ocorreu. Segundo o ministro , o principal motivo para abandonar a utilização do serviço foi a suspeita de que tenha havido interferência da Rússia nas eleições dos Estados Unidos daquele ano. Como o Telegram é um serviço de origem russa, como destacou Moro, ele teria decidido deixar de enviar mensagens através do serviço;

Ao responder um questionamento do senador Marcos do Val (Cidadania-ES) sobre possíveis interferências de outros países, aos quais os hackers poderiam estar a serviço, Moro disse que nenhuma hipótese está descartada e que acredita que o "grupo criminoso" tem alto poder aquisitivo, não tem caráter amador e é bem articulado.

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