Novos trechos das conversas entre o ministro e o procurador foram divulgados nesta quarta-feira
Aloisio Mauricio/Fotoarena/Agência O Globo
Novos trechos das conversas entre o ministro e o procurador foram divulgados nesta quarta-feira

Depois da  reportagem divulgada no último domingo (9), sobre as  trocas de mensagens de integrantes da força-tarefa da Lava Jato e diálogos entre o procurador Deltan Dellagnol e o atual ministro da Justiça, Sérgio Moro, entre 2015 e 2018, o Jornal The Intercepet revelou, na noite desta quarta-feira (12), trechos estendidos da conversa .

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Na publicação, o jornal afirma que as mensagens são de "interesse público" e que divulgou apenas os trechos que basearam as revelações do último domingo. Além disso, ressaltaram que não se trata do conteúdo completo da conversa entre Moro e Dallagnol porque outras apurações estão sendo feitas e alguns dos trechos são de cunho pessoal.

"Nossa missão é proteger a intimidade dos citados, publicando apenas o que é de interesse público", afirmou o The Intercept.

Conversas entre Moro e Dallagnol

As conversas cobrem um conteúdo iniciado em 16 de outubro de 2015 até 11 de setembro de 2017. Os principais trechos, que mostram a relação de amizade entre o atual ministro da Justiça e o procurador da Lava Jato ganharam novos detalhes.

Em outubro de 2015, eles trataram sobre investigações envolvendo acusados no caso de Pasadena. Em uma das conversas, Moro revela que decretou "nova prisao de tres do odebrecht, tentando nao pisar em ovos. Receio alguma reacao negativa do stf. Convem talvez vcs avisarem pgr (sic)", no que é respondido por Dallagnol: "show, ficou ótima a decisão".

Em um dos trechos mais marcantes da reportagem, Moro teria tentado intervir na condução da Lava Jato, em fevereiro de 2016. "Olá Diante dos últimos . desdobramentos talvez fosse o caso de inverter a ordem da duas planejada (sic)". 

"O problema é o risco de nos atropelarem em SP ou em BSB. Queríamos antes, mas tem a festa do PT… Uma semana pode fazer diferença para SP especialmente. Em BSB com o acordo feito às pressas e depoimentos do senador de madrugada receamos também que adiantem algo", respondeu Dallagnol.

Já em março, Deltan cobre o ex-juiz de elogios, parabenizando-o pelo apoio popular que vinha recebendo após cada uma das decisões e operações da Lava Jato.

"Você hoje não é mais apenas um juiz, mas um grande líder brasileiro (ainda que isso não tenha sido buscado). Seus sinais conduzirão multidões, inclusive para reformas de que o Brasil precisa, nos sistemas político e de justiça criminal. Sei que vê isso como uma grande responsabilidade e fico contente porque todos conhecemos sua competência, equilíbrio e dedicação", declara Dallagnol.

Na sequência, Moro responde: "Ainda desconfio muito de nossa capacidade institucional de limpar o congresso. O melhor seria o congresso se autolimpar mas isso nao está no horizonte. E nao sei se o stf tem força suficiente para processar e condenar tantos e tao poderosos".

Outro dos pontos que recebeu novos dados foi o trecho que trata da crítica de Moro sobre o tempo sem operações da Lava Jato. Agora, Dallagnol aparece explicando o motivo da demora: "O problema é que as operações estão com as mesmas pessoas que estão com a denúncia do Lula. Decidimos postergar tudo até sair essa denúncia, menos a op do taccla pelo risco de evasão, mas ela depende de Articulacao com os americanos".

Por fim, há maior detalhamento sobre as acusações da Odebrecht. Deltan lista 301 políticos brasileiros na relação, além de outrs 72 estrangeiros. "Tudo isso corrupção e lavagem ou muitos casos de cx2 (caixa dois)?", questiona Moro.

"Para dizer, teria que olhar um a um. Não temos esse levantamento ainda. Intuitivamente, com base nas leituras e análises: 30% claramente propina: eles e nós reconhecemos 40% zona cinzenta: depende de diligências ou análises 30% claramente caixa 2 e nós concordamos. As doações via caixa 1 sem indícios de contrapartida não entram nisso. Ficam fora", responde Dallagnol.

"Opinião: melhor ficar com os 30 por cento iniciais. Muitos inimigos e que transcendem a capacidade institucional do mp e judiciário. Reservado obviamente", finaliza Moro.

Mara Gabrili

Mais uma das conversas que ganhou expansão foi a mensagem enviada pela deputada Mara Gabrili sobre uma possível testemunha do caso do assassinato de Celso Daniel, ex-prefeito de Santo André.

Agora, a mensagem mostra mais detalhes do texto enviado pela deputada e encaminhado por Moro a Dallagnol. Ela descreve uma visita ao Presidio de Contagem e uma conversa com Marcos Valério, que teria revelado detalhes do caso. Dallagnol finaliza o trecho da conversa dizendo que checará os fatos.

MPF critica decisões do STF

Em outra conversa, de 16 de outubro de 2015, denominada 'Chat MPF 2', Dallagnol discute com outros procuradores da Lava Jato, que criticam decisões do STF.

"MPF STJ mantendo e STF soltando", dispara o procurador Roberson Pozzobon, ao falar sobre a soltura de diretor da Odebrecht que acompanhava o ex-presidente Lula em viagens.

"Vergonha", responde Diogo Castor de Mattos.

Na sequência da conversa, Deltan confirma soltura de Alexandrino e revela que já tinha outra denúncia a ponto de sair, afirmando que pediria a prisão com base em fundamentos adicionais.

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"Caros, não acho que é o caso de ficarmos quietos com essa decisão. Se fossem traficantes, estariam presos indefinidamente, e essa situação é mais grave. Nada mudou, fundamentos permanecem, inclusive empresa que empregava corrupção sistematicamente. Não colaboram com as inv, não apresentaram contas do exterior etc. Caso fatiado e agora soltando em 4 meses? Creio que devemos fazer uma reação refletida, mas temos que reagir. Se continuarmos quietos, apanharemos como cachorro sem dono. Não estou pregando nada precipitado, mas podemos fazer uma reação por nota à imprensa, bem firme", finaliza.

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