Gilberto Kassab continuou a receber mesada do grupo JBS mesmo após assumir o posto de ministro da Ciência, Tecnologia e Comunicações no governo Michel Temer (MDB). A acusação consta da petição enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF) pela procuradora-geral da República, Raquel Dodge, e que resultou no cumprimento de mandados contra o político nesta quarta-feira
(19).
A PGR afirma, com base nas delações dos executivos Wesley Batista e Ricardo Saud, que a JBS repassou R$ 58 milhões a Gilberto Kassab por meio de pagamentos mensais de R$ 350 mil, realizados entre 2010 e 2016, e também por meio de pagamentos ao diretório nacional do PSD.
"Parte dos pagamentos relatados coincide com o exercício atual do cargo de ministro de Estado da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, por Gilberto Kassab, cuja nomeação ocorreu em 12 de maio de 2016, e outra parte é concomitante ao exercício anterior do cargo de ministro das Cidades, cuja nomeação é de 1º de janeiro de 2015 [no governo Dilma Rousseff]”, escreveu Raquel Dodge.
O teor da petição levada ao ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no STF, está sob sigilo até o momento, mas teve parte revelada pelo jornal Folha de S.Paulo . No trecho, Dodge explica que o pagamento da mesada da JBS ao ministro se deu “através da dissimulação por intermédio de contrato fictício de consultoria com a Yape, empresa da qual foi sócio até o ano de 2014”.
O objetivo da JBS em realizar pagamentos a Kassab era, segundo a PGR, o de contar com o poder de influência do ministro em “eventual demanda futura de interesse" do grupo empresarial.
As práticas relatadas pela Procuradoria-Geral da República configuram suspeita de crimes de corrupção passiva e falsidade ideológica eleitoral.
Durante o cumprimento dos mandados autorizados pela Justiça nesta manhã, a Polícia Federal apreendeu R$ 300 mil em espécie
no apartamento do ministro em São Paulo.
Em nota, Kassab se disse "tranquilo" quanto aos mandados de busca e apreensão e afirmou que "confia na Justiça brasileira, no Ministério Público e na imprensa", e que "sabe que as pessoas que estão na vida pública estão corretamente sujeitas à especial atenção do Judiciário". Além disso, o ministro "reforça que está sempre à disposição para quaisquer esclarecimento que se façam necessários, ressalta que todos os seus atos seguiram a legislação e foram pautados pelo interesse público".
Kassab já foi anunciado pelo governador eleito em São Paulo, João Doria (PSDB), como futuro secretário da Casa Civil do Estado. Em breve nota divulgada nesta manhã, Doria deu respaldo ao seu futuro secretário, a despeito das acusações da PGR. "O governo João Doria confia na conduta da Justiça e no amplo direito de defesa do ministro para os esclarecimentos necessários", diz o texto.