O ex-ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, afirmou que "não torce contra" o futuro governo do presidente eleito, Jair Bolsonaro, mas garante que as políticas defendidas pelo político do PSL "não vão dar certo". "Não deu em outros países, não vai dar aqui", afirmou o petista.
Leia também: "Vamos tomar o poder, que é diferente de ganhar a eleição", diz José Dirceu
Em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo , publicada nesta quarta-feira (19), José Dirceu afirmou que a equipe de Bolsonaro possui "declarações contraditórias", mas que ele quer ver como serão as coisas depois que o capitão reformado assumir a Presidência.
"Quero que ele comece a governar, tomar decisões, porque senão fica parecendo que você está torcendo para dar errado, né. Não estou torcendo para dar errado; só estou dizendo que não vai dar certo", afirmou.
Ainda sobre o presidente eleito, o ex-ministro afirmou que quer ver quais decisões Bolsonaro tomará no Poder, pois a cadeira presidencial , segundo ele, "queima". "Vamos deixar o Bolsonaro sentar na cadeira. Aquela cadeira queima; queima aquela cadeira de presidente. Ele vai ter de tomar várias decisões em janeiro e fevereiro", disse.
As declarações do ex-ministro do governo Lula se deram em uma conversa iniciada por um alarme falso. Afinal, com o celular da mão e o olhar concentrado na tela do aparelho, Dirceu começou a entrevista declarando: “Acho que vou ser preso". A ligação que recebia, porém, era do seu advogado, Roberto Podval.
Condenado a 41 anos de prisão na Lava Jato, o ex-ministro falou com a reportagem do jornal também a respeito da crise ética do PT. Segundo ele, que milita mesmo após ser enquadrado também no Mensalão
, o partido não pode ser condenado pela pessoas que o compõem.
"Você conhece os vereadores do PT? Os deputados, os prefeitos? Alguém enriqueceu na política? A Luiza Erundina enriqueceu? O (Fernando) Haddad? A Marta (Suplicy) enriqueceu na política? Não tem. Problema de caixa 2 de eleição, relações com empresas, é uma coisa; outra é enriquecimento pessoal e corrupção", afirmou.
Leia também: Bolsonaro tem hoje sua primeira reunião com todos os futuros ministros
"Uma coisa é a responsabilidade nossa, dos dirigentes, pelo caixa 2, pela relação com as empresas, pelo custo das campanhas. Outra coisa é o partido. Você não pode condenar um partido", disse.
O ex-ministro também se posicionou mais uma vez contra as delações premiadas, afirmando que "toda a construção política da Lava Jato é em cima das delações, e a maioria delas em cima do terror psicológico".
"O problema nosso foi ingenuidade de não fazer um pente-fino nessas leis (delação premiada, organização criminosa e antiterror) e não perceber que o modo aberto em que se deixou várias questões permitia o que está acontecendo", continuou.
"A lei de delação é tão absurda que, se a deleção for anulada, continuam valendo as provas. O delator perde os benefícios, mas continua valendo a delação. Como pode fazer delação preso? Delação é pessoa solta, em liberdade", exclamou. "Erramos ao não nos darmos conta de que vários pontos podiam ser usados de maneira antidemocrática, ser instrumentos de repressão e não de Justiça", afirmou o petista.
Leia também: Bolsonaro diz que espera pelo menos 500 mil pessoas na cerimônia de posse
Além disso, o ex-ministro de Lula comentou sobre o legado do líder petista, que está preso em Curitiba desde o início do ano. "O Lula tem um legado e domina 40 milhões de votos. O PT não só tem de defender a liberdade do Lula e a inocência dele, como também o legado dele". Ainda segundo Dirceu , "o problema do Lula independe do governo Bolsonaro".