O ex-deputado Rodrigo Rocha Loures admitiu, em depoimento na última quarta-feira (7) , que sabia que a mala que recebeu de Ricardo Saud há um ano e meio tinha conteúdo ilícito. O ex-assessor de Michel Temer, porém, afirmou que nunca a abriu para verificar o que havia dentro.
A explanação contraria os advogados de defesa de Rocha Loures , que disseram que o cliente jamais soube o que teria recebido do diretor executivo da J&F no dia 28 de abril de 2017.
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Em imagens do relato do réu ao juiz da 15ª Vara Federal de Brasília, Jaime Travassos, obtidas pelo jornal O Globo , Rocha Loures diz que sentiu medo ao receber a mala e, por isso, correu.
“Quando estou saindo ele diz assim ‘Rodrigo, Rodrigo’. Eu vou até ele, aí ele pega, com esta mala na mão, diz assim ‘olha a sua mala, pega que você vai perder o avião, corre que você vai perder o avião’. Naquele momento Excelência... Eu entrei em pânico, no meio da rua, e saí correndo”, explicou o ex-assessor de Temer.
A entrega dos R$ 500 mil a Loures foi efetivada em abril do ano passado por meio do executivo da J&F Ricardo Saud, que levou o dinheiro ao então assessor da Presidência em uma pizzaria na capital paulista. O episódio foi filmado pela Polícia Federal, que fora informada sobre o evento pelo próprio Saud.
De acordo com a PGR, o valor entregue foi oferecido pelo empresário Joesley Batista, um dos donos da JBS, e representava apenas uma fração do montante total que a empresa pretendia pagar ao presidente Michel Temer: até R$ 38 milhões ao longo de nove meses.
Rocha Loures volta a dizer que não abriu a mala
Logo após a explanação, o juiz perguntou ao ex-deputado sobre o sumiço de R$ 35 mil (de um total de R$ 500 mil), mas Rocha Loures afirmou que nunca abriu a mala e que, portanto, não tem explicação sobre o destino do dinheiro faltante.
O ex-assessor de Temer virou réu em dezembro do ano passado por corrupção passiva no caso da mala de R$ 500 mil. Na mesma denúncia, a Procuradoria-Geral da República (PGR) acusou Michel Temer de corrupção passiva, mas o prosseguimento do caso foi barrado pela Câmara dos Deputados.
O ex-deputado chegou a ser preso preventivamente por um mês no ano passado, e foi solto por ordem do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), em julho de 2017. Desde então, cumpria uma série de medidas cautelares alternativas , como a obrigação de ficar em casa à noite, e usava a tornozeleira eletrônica.
Rocha Loures , porém, se livrou da tornozeleira na última quinta-feira (8), já que o juiz Travassos avaliou que, com o fim da instrução do processo de corrupção passiva, era necessário "reavaliar a necessidade" de manter tais medidas.