As delações premiadas fechadas durante as investigações da Operação Lava Jato nunca foram tema simples. Hoje, que a Polícia Federal tem caminho aberto para fechar acordos independentes do Ministério Público Federal (MPF), elas têm sido questionadas até por quem está encabeçando as investigações.
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Nesta segunda-feira (30), o jornal Folha de S.Paulo publicou uma entrevista com um dos principais procuradores da Lava Jato , Carlos Fernando dos Santos Lima, que criticou dura e abertamente alguns dos acordos de delação premiada celebrados pela PF, como o do ex-ministro Antônio Palocci.
Para ele, a delação de Palocci – que foi negada pelo MPF, mas aceita pela PF – não deveria existir, por falta de provas. "Demoramos meses negociando. Não tinha provas suficientes. Não tinha bons caminhos investigativos", afirmou
"Fora isso, qual era a expectativa? De algo, como diz a mídia, do fim do mundo. Está mais para o acordo do fim da picada. Essas expectativas não vão se revelar verdadeiras. O instituto é o problema? Eu acho que a PF fez esse acordo para provar que tinha poder de fazer", disse o procurador, deixando clara a richa entre o MPF e a PF.
Para Santos Lima, o caso de Palocci foi uma "queda de braço" entre ambas as equipes, que foram classificadas por ele como a "porta da frente" e a "porta dos fundos" desses acordos. "A porta da frente dos acordos sempre será o Ministério Público. A porta dos fundos é da PF. As pessoas irão à PF se não tiverem acordo conosco", disse.
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Questionado sobre o benefício do uso das delações nas investigações, o procurador defendeu que a operação teria andado muito pouco se não fosse por elas. "Nós mal teríamos chegado à conclusão de que houve corrupção na Petrobras ", afirmou.
"Na primeira vez em que a Petrobras veio aqui, veio para nos dizer que era impossível ter corrupção na Petrobras, que todos os esquemas de controle funcionavam perfeitamente. Mas vem Paulo Roberto Costa e diz: 'Não, existia'. Ele explica tudo. Estaríamos nos batendo hoje, ainda, com uma discussão se houve ou não corrupção", disse.
Na mesma entrevista, ele admitiu que as delações de Delcídio do Amaral
e de Sérgio Machado tinham graves defeitos: “Quando você faz com excesso de rapidez, corre o risco de fazer colaborações mal feitas. Delcídio, na minha opinião, quase nem se autoincrimina. A primeira coisa é o colaborador falar os crimes que cometeu. (…) No caso do Sérgio Machado, no final das contas, o principal sequer foi denunciado"
"Aquelas conversas supostamente com membros do Congresso e ex-parlamentares, que geraram até pedido de prisão no Supremo, sequer movimentaram uma denúncia. Aquela gravação era um bom início de negociação, mas não era um fim em si mesma", disse.
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"A gente tem que tomar muito cuidado com excesso de vontade de conseguir certos documentos, provas, gravações”, afirmou o procurador da Lava Jato .