Raul Jungmann, ministro da Segurança Pública, lamentou, em um fórum organizado pelo jornal O Estado de S. Paulo , a maneira como os assuntos de sua pasta são conduzidos no Brasil de forma geral. Para ele, o país carece de uma política nacional unificada sobre o tema, de forma a atacar os principais gargalos que impedem a melhoria dos indicadores criminais e sociais.
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"O Brasil não tem política nacional de segurança pública. Se olharmos as sete Constituições [que já vigoraram no país], nunca conseguimos ter um rumo para a segurança pública, ela sempre foi concebida como responsabilidade dos Estados", criticou o ministro Raul Jungmann .
Para o ministro, o foco desta política deveria ser a prevenção da criminalidade nas periferias das grandes cidades. Jungmann chamou a atenção para o contexto social que cerca as práticas criminosas no país.
"Fala-se muito de repressão, mas o coração da tragédia está localizado numa juventude de periferia de 15 a 24 anos. Eles têm três vezes mais capacidade de matar e morrem três vezes mais. Têm baixa educação, pouca renda e geralmente vêm de lares desagregados", explicou o ministro.
Outro dos gargalos, lembrou Jungmann, é o próprio sistema prisional brasileiro. Controlado por facções criminosas, eles funcionam como local de arregimentação de novos membros.
"Quando entra no presídio, todo jovem para sobreviver tem de fazer um juramento e fazer parte de uma facção", lamentou Jungmann.
Raul Jungmann comenta intervenção, caso Marielle e desarmamento
Outro dos participantes do colóquio organizado pelo jornal O Estado de S. Paulo , o coronel reformado da Polícia Militar José Vicente da Silva Filho sugeriu “municipalizar a ação policial” como forma de efetivar o combate ao crime no país.
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Ele também falou sobre a impunidade no país. De acordo com o coronel, “apenas 5%” dos que cometem homicídio no Brasil acabam presos.
Silva Filho também criticou a forma como se deu a intervenção militar na segurança pública do Rio de Janeiro. "Temos que tomar muito cuidado com esse modelo de intervenção fortemente repressiva e militarizada", comentou o militar.
Sobre a investigação do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, assassinados no centro do Rio de Janeiro, o ministro disse que ainda não há provas de que os dois acusados presos – o policial militar reformado Alan de Morais Nogueira e o ex-bombeiro Luis Cláudio Ferreira Barbosa – tenham envolvimento no crime.
“Quando o crime organizado controla territórios, começa a ter uma projeção na política, na polícia, nos órgãos de controle”, acrescentou Jungmann.
Por fim, o ministro Raul Jungmann disse não acreditar que a liberação do porte de armas seja a solução dos muitos problemas da segurança brasileira. Ele afirma que ajustes pontuais podem ser feitos ao Estatuto do Desarmamento, mas é contra o projeto que revoga o estatuto, que tramita no Congresso Nacional.
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