A Câmara dos Deputados decidiu realizar uma auditoria no contrato assinado em 2015 pelo então presidente da Casa, deputado Eduardo Cunha (MDB-RJ)
, com a empresa britânica de investigação Kroll Advisory Solution. O pedido de análise desse contrato foi apresentado pela deputada Eliziane Gama (PPS-MA) há dois anos e meio, mas o relatório elaborado pelo deputado Nilton Capixaba (PTB-RO) só foi aprovado nessa quarta-feira (25) pela Comissão de Fiscalização Financeira e Controle.
A Kroll foi contratada em fevereiro de 2015, sem licitação, pelo valor de R$ 1,18 milhão com o objetivo inicial de auxiliar os trabalhos da CPI da Petrobras mediante a identificação de contas bancárias suspeitas e de repasses ilegais feitos no exterior para investigados na Operação Lava Jato. A contratação foi defendida por Eduardo Cunha , que meses após fechar o acordo determinou que os detalhes do contrato e os resultados das investigações da empresa fossem mantidos sob sigilo pelo período de cinco anos.
A contratação da empresa privada de investigação era tratada por Cunha como uma "medida de contenção" da Lava Jato
, de acordo com ex-executivos da Odebrecht.
Em depoimentos à Procuradoria-Geral da República (PGR), o ex-presidente da construtora Marcelo Odebrecht e o ex-diretor Fernando Luiz Ayres da Cunha Santos Reis relataram que, no início de 2015, o então presidente da Câmara afirmou em uma reunião realizada em sua casa que a Kroll deveria encontrar "inconsistências" nas colaborações premiadas do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef. Cunha acreditava que essas "inconsistências" permitiriam a anulação das investigações da Lava Jato.
Obstrução à Justiça
A acusação motivou a abertura de um processo por tentativa de obstrução à Justiça contra o emedebista, que está preso desde 2016 no Complexo Médico-Penal em Pinhais, no Paraná. Por decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin
, esse processo está sob os cuidados da Justiça Federal em Brasília.
As intenções de Cunha ao contratar a Kroll já haviam sido anteriormente denunciadas pelo lobista Júlio Camargo, apontado como responsável por repassar propina ao ex-deputado no esquema envolvendo a compra de navios-sonda pela Petrobras.
Ainda em 2015, o então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, relatou ao STF que Eduardo Cunha se valeu da empresa de investigação para "tentar tirar a credibilidade de colaboradores da Operação Lava Jato".