O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco, afirmou nesta quarta-feira (17) que sua relação com Roberto Derziê de Sant'Anna, um dos vice-presidentes afastados da Caixa Econômica Federal , tem "natureza profissional", e que quaisquer indagações feitas por ele ao executivo se deram no "âmbito funcional". Uma auditoria independente contratada pelo banco estatal, revelada nessa terça-feira (16) pelo Jornal Nacional (TV Globo), apontou que Derziê teria repassado informações internas da empresa pública ao ministro e ao próprio presidente Michel Temer (MDB).
"Sempre tive com o vice-presidente Derziê uma relação de natureza profissional. Qualquer solicitação... qualquer pergunta... qualquer indagação [ao executivo da Caixa ], elas sempre estiveram no âmbito funcional", disse Moreira Franco durante evento em Valparaíso de Goiás (GO). "Minha biografia nunca foi manchada por qualquer tipo de atitude que gerasse qualquer envergonhamento", completou.
A investigação interna na Caixa Econômica Federal apontou uma série de suspeitas acerca das relações de integrantes da administração do banco com agentes políticos. Quatro dos doze vice-presidentes da empresa foram afastados pelo presidente Michel Temer após recomendação do Banco Central.
Além de Derziê, que é vice-presidente de Governo, também foram afastados de suas funções Deusdina dos Reis Pereira (vice de Fundos de Governo e Loterias), Antônio Carlos Ferreira (vice Corporativo), e José Henrique Marques da Cruz (vice de Clientes, Negócios e Transformação Digital). Os afastamentos serão mantidos "até a conclusão da apuração dos fatos", conforme decreto publicado na edição desta quarta-feira do Diário Oficial da União
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"Cabeça Branca"
Os auditores que investigaram irregularidades na Caixa disseram ter colhido documentos que "podem indicar" o "atendimento de pedidos" ou "fornecimento de informações de operações em trâmite na CEF" por parte do vice-presidente Derziê em favor de Temer e Moreira Franco. Um dos elementos que embasa essa tese é o depoimento de um ex-servidor que trabalhava para Derziê e disse ter sido indagado pelo executivo sobre operações em andamento no banco.
A apuração independente realizada pelo escritório Pinheiro Neto também apontou que Derziê Sant'Anna e o ministro da Secretaria-Geral mantinham relação de "proximidade", e que o executivo se referia a Moreira Franco usando os codinomes "cabeça branca" e "CB" em seus e-mails.
Conforme reportou o Jornal Nacional
, Derziê declarou aos auditores que nunca presenciou o cometimento de irregularidades no banco. Ao esclarecer sua relação com o presidente Michel Temer, o vice-presidente da Caixa disse que o emedebista "percebeu sua utilidade em termos de gestão dos repasses nas emendas parlamentares".
"Pressão" de Eduardo Cunha para "rentabilizar o seu mandato"
Outro vice-presidente afastado, Antônio Carlos Ferreira disse aos auditores que foi pressionado pelo então deputado federal Eduardo Cunha (MDB-RJ) para repassar informações sobre operações internas em tramitação na Caixa.
Cunha, conforme relatou o executivo, teria condicionado a manutenção de Ferreira em seu cargo à realização de reuniões semanais para que o vice-presidente prestasse contas e mantivesse o deputado informado sobre operações aprovadas e prestes a serem liberadas. O então parlamentar, ainda segundo a auditoria, foi "agressivo" com Antônio Carlos Ferreira e disse que as operações na Caixa o "ajudaria a rentabilizar o seu mandato".
Ferreira disse aos auditores que não atendeu aos pedidos do deputado e que procurou o presidente Michel Temer para falar sobre essa situação. O emedebista então o teria "tranquilizado" afirmando que Cunha é "controverso".
O expediente de fazer reuniões semanais para saber sobre o andamento de projetos na Caixa já fora adotado por Cunha no período de 2011 a 2015, segundo reconheceu o ex-vice-presidente do banco Fábio Cleto. A confissão de Cleto se deu no âmbito da ação penal da Operação Sépsis na qual o Ministério Público Federal (MPF) pediu condenação de 386 anos de prisão a Eduardo Cunha .
Antes da recomendação do Banco Central e da divulgação da auditoria na Caixa, o MPF já havia recomendado que o governo promovesse trocas
na cúpula da empresa. Os procuradores do Distrito Federal justificaram o pleito alegando haver "diversas figuras proeminentes na administração da CEF em casos investigados" e "perene influência política sobre funções que deveriam ser essencialmente técnicas". O MPF disse ainda que existe "aparente comprometimento" de executivos da Caixa para esconder os crimes cometidos