O ministro-chefe da Secretaria de Governo, Carlos Marun, reconheceu nesta terça-feira (26) que o governo exige apoio de governantes à proposta de reforma da Previdência como condição para liberar financiamentos aos estados. O articulador político do Planalto, no entanto, disse que essa estratégia representa uma "ação de governo", e não uma "chantagem".
"Os financiamentos da Caixa Econômica Federal são ações de governo. Se não, o governador poderia tomar esse financiamento no Bradesco. Nesse sentido, entendemos que deve sim ser discutido com esses governantes alguma reciprocidade no sentido de que seja aprovada a reforma da Previdência , que é uma questão de vida ou morte para o Brasil", disse Marun. "Não entendo que seja uma chantagem", completou.
As declarações do ministro foram dadas a jornalistas após reunião realizada no Palácio do Planalto com o presidente Michel Temer . O encontro teve como objetivo justamente traçar as estratégias do governo para buscar votos para aprovar no Congresso o pacote de alterações nas regras da aposentadoria.
A ideia do Planalto é insistir nas investidas mesmo durante o recesso do Poder Legislativo, que só retoma suas atividades no início de fevereiro. Na véspera de Natal, por exemplo, Temer aproveitou seu pronunciamento em rede nacional de rádio e TV para pressionar os congressistas a defenderem a reforma.
"Não é questão ideológica ou partidária. É uma questão do futuro do País e para garantir que os aposentados de hoje e de amanhã possam receber suas pensões", disse Temer no vídeo.
Assim como havia feito durante reunião do Mercosul na semana passada , o presidente voltou a exaltar a aprovação da reforma da Previdência na Argentina para defender que o mesmo aconteça no Brasil.
"O nosso país vizinho, num gesto consciente e de união pelo país, deu exemplo e acaba de aprovar sua reforma. Tenho plena convicção de que os nossos parlamentares darão seu voto e o seu aval para que isso também aconteça por aqui. Tenho certeza que eles não faltarão, como não faltaram nunca, ao nosso País", apelou o presidente no pronunciamento de Natal.
Leia também: 12 momentos em que a política brasileira foi mais engraçada que a piada do pavê
A reforma que parou
O texto da reforma está pronto para ir à votação desde maio, quando o relatório elaborado pelo deputado Arthur Maia (PPS-BA) foi aprovado na comissão especial da Câmara. Mas o projeto teve sua tramitação interrompida por conta do surgimento das acusações de executivos do grupo J&F contra o presidente Temer.
Após a Câmara negar o prosseguimento das duas denúncias oferecidas pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o peemedebista, o Planalto voltou à carga para tentar a aprovação do texto, mas esbarrou na falta de apoio de sua base desgastada justamente por essas votações contra as investigações pedidas por Rodrigo Janot.
A reforma da Previdência precisa do apoio de ao menos 308 deputados para ser aprovada no plenário e seguir para o Senado. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), agendou a votação para o dia 19 de fevereiro, após o carnaval de 2018.
Leia também: PF aponta indícios de que Rodrigo Maia recebeu doações via 'caixa 3', diz jornal