O ex-procurador da República Marcelo Miller chegou à sede da Procuradoria Regional da República (PRR) na tarde desta sexta-feira (8) para prestar depoimento. Miller é acusado de ter agido ilegalmente a favor da empresa J&F durante o processo de delação premiada, na Operação Lava Jato. O depoimento do ex-procurador durou cerca de dez horas. Quando foi liberado, Miller já havia tido sua prisão preventiva pedida pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
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As declarações de Marcelo Miller
poderão influenciar na decisão do Ministério Público Federal (MPF) sobre revisar ou não a delação premiada dos executivos do grupo J&F, Joesley Batista, Ricardo Saud e Francisco Assim e Silva. Isso porque os depoimentos dos empresários começaram a ser questionados desde que gravações de conversas entre Joesley e um dos sócios da J&F, já que demonstram uma possível proximidade entre o ex-procurador e os executivos.
Depois da assinatura das delações, o ex-procurador foi contratado para representar a defesa do grupo pelo escritório de advocacia Trench, Rossi e Watanabe. De acordo com uma nota da Procuradoria Geral da República, em uma das gravações – que tem mais de quatro horas de duração – Joesley Batista e Ricardo Saud conversam sobre uma suposta atuação de Miller no processo de delação. Joesley é dono da JBS e Saud é diretor do grupo.
Esclarecimentos
De acordo com uma nota do Ministério Público Federal, alguns fatos sobre as delações e as gravações precisam ser esclarecidos ainda. Segundo o MPF, um dos áudios, aparentemente gravado em 17 de março deste ano, traz uma conversa entre os colaboradores Joesley Batista e Ricardo Saud e que, mesmo que partes do diálogo “tenham apenas elucubrações, sem qualquer respaldo fático, inclusive envolvendo o Supremo Tribunal Federal e a própria Procuradoria-Geral da República, há elementos que necessitam ser esclarecidos”, declarou.
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Por outro lado, a controladora da JBF afirma que “conforme declarou à própria PGR, em nota oficial, o diálogo em questão é composto de ‘meras elucubrações’ sem qualquer respaldo fático. Ou seja, apenas cogitações de hipóteses – não houve uma palavra sequer a comprometer autoridades”.
Ex-braço direito de Janot
O ex-procurador – que atuava como braço-direito do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, até março deste ano, e participava do Grupo de Trabalho da Lava Jato – passou a trabalhar no escritório de advocacia que negociou os termos da leniência do grupo JBS com a Procuradoria-Geral da República.
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A decisão de Marcelo Miller de deixar o MPF veio ao público no dia 6 de março, véspera da conversa entre Joesley e o presidente da República, Michel Temer (PMDB), gravada pelo empresário e utilizada na delação. Antes disso, era um dos mais duros procuradores do Grupo de Trabalho do Janot, um núcleo de procuradores especialistas em direito penal recrutado pelo procurador-geral em 2013 para atuar na Lava Jato.
*As informações são da Agência Brasil