A defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
pediu ao juiz Sérgio Moro o depoimento do advogado hispano-brasileiro Rodrigo Tacla Durán, que trabalhou para a Odebrecht e fez acusações neste mês, em entrevistas à Folha de S.Paulo
, contra um amigo pessoal do juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba.
A petição foi apresentada nesta terça-feira (29) pelos advogados de Lula
no âmbito da ação penal da Lava Jato que apura pagamento de propina da Odebrecht ao ex-presidente por meio da compra de um terreno para instalação do Instituto Lula
e de um apartamento em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista.
Tacla Durán revelou à Folha que o advogado Carlos Zucolloto Junior , padrinho de casamento de Moro e ex-sócio da esposa do juiz, o procurou para oferecer benefícios num eventual acordo junto à força-tarefa de procuradores da Operação Lava Jato.
Durán, que trabalhou para a Odebrecht entre 2011 e 2016 e chegou a ser preso na Espanha em novembro do ano passado a pedido de Moro, afirmou que Zucolloto o ofereceu abrandamento de sua pena e multa mais barata em troca do pagamento de propina.
O hispano-brasileiro disse ter registros dessas conversas com Zucolloto e revelou que ex-executivos da empreiteira fraudaram documentos para apresentar aos procuradores da Lava Jato apenas parte dos valores irregulares movimentados pela empresa.
Além de ser amigo pessoal de Sérgio Moro , Zucolloto também representou, até a quinta-feira passada (24), o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, integrante da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, em ação que tramita no Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Apesar desse fato, o Ministério Público Federal alegou em nota divulgada no domingo (27) que "nenhum dos membros da força-tarefa possui ou já possuiu relacionamento pessoal ou profissional com o advogado Carlos Zucolotto Junior".
Já o juiz Sérgio Moro confirmou ser amigo do defensor, apontado por ele como "advogado sério e competente". "Lamento que o seu nome seja utilizado por um acusado foragido e em uma matéria jornalística irresponsável para denegrir-me", condenou o magistrado.
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Justificativas da defesa
Os advogados de Lula afirmam no pedido entregue a Moro que os fatos revelados por Tacla Durán são "relevantes" à ação penal pois "tocam a idoneidade e a legalidade de processos de
colaboração premiada de executivos e ex-executivos do Grupo Odebrecht".
A defesa do ex-presidente também aponta o que considera um "erro factual" indicado pelos procuradores da Lava Jato ao negarem existência de relação com Zucolloto Junior. Para a defesa, isso "reforça a necessidade de esclarecimento dos fatos, na medida em que apresentam reflexos no quadro probatórios desta lide penal".
Os advogados de Lula asseguram no pedido de depoimento que a defesa não está interessada em "reflexos, penais ou administrativos, eventualmente relativos a alusões feitas às autoridades", mas sim na "investigação sobre fatos reais que possam influir na decisão da ação penal".