O Ministério Público Federal apresentou à Justiça nesta quinta-feira (13) novo pedido de prisão preventiva do ex-ministro Geddel Vieira Lima, que ganhou ontem o direito à prisão domiciliar
por decisão do desembargador Ney Bello, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1).
Os procuradores incluíram na petição, entregue ao Juízo da 10ª Vara Federal de Brasília, novos elementos contra Geddel Vieira Lima , que até então era acusado de pressionar a esposa de Lúcio Funaro, Raquel Pitta, para tentar evitar eventual acordo de delação premiada do lobista. Agora, o MPF apresentou também novo depoimento de Funaro sugerindo que o ex-articulador político do governo Temer alegava "exercer influência criminosa sobre o Poder Judiciário". A ação configura crime de exploração de prestígio, conforme entendimento dos procuradores.
Funaro disse aos investigadores que, após ele decidir substituir o advogado Daniel Gerber pela advogada Vera Carla em sua defesa, o ex-ministro Geddel enviou mensagens a Raquel reclamando da troca.
"Geddel mandou mensagem via WhatsApp dizendo, ao que se recorda: 'que porra é essa' e reclamou da troca de advogado de Lúcio, e disse que o advogado era bom e estaria fazendo tudo certinho, que estaria tudo certo para a saída dele, mas que com a entrada de Vera Carla tinha 'ficado ruim para o juiz'", aponta a transcrição do depoimento.
Para os procuradores da República, as declarações de Funaro indicam que Geddel "não só tentava monitorar o ânimo de Lúcio Funaro em fazer possível colaboração premiada como também alegava, perante ele e sua família, exercer (direta ou indiretamente) influência sobre decisões que interessariam à defesa" do lobista.
"Em troca dessa influência no Poder Judiciário, Geddel Vieira Lima pretendia de Lúcio Bolonha Funaro o benefício de não ser por este delatado em acordo de colaboração premiada", escrevem os procuradores Anselmo Henrique Cordeiro Lopes e Sara Moreira de Souza Leite na petição.
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"Receio sobre a segurança de sua esposa e filha"
O novo pedido de prisão contra o ex-chefe da Secretaria de Governo inclui conclusões de peritos da Polícia Federal que analisaram o aparelho celular de Raquel Pitta. De acordo com a análise, a esposa de Funaro recebeu 16 ligações de Geddel e efetuou uma única chamada ao ex-ministro em apenas 19 dias, no período entre 13 de maio e 1º de junho deste ano.
Em audiência de custódia realizada na última quinta-feira (6), Geddel confirmou ter conversado com Raquel em algumas ocasiões , mas negou que o assunto fosse uma eventual delação de Funaro. O ex-ministro disse que algumas das ligações não se completaram e que, em ao menos uma ocasião, ele ligou a Raquel por engano ao tentar telefonar para a pediatra de seu filho.
Funaro disse em depoimento que acreditava na influência do ex-ministro, apontado como "membro do primeiro escalão do governo e amigo íntimo do presidente Michel Temer", para prejudicá-lo na Justiça caso ele firmasse acordo com os investigadores. O lobista afirmou ainda que as ligações de Geddel à sua mulher "provocavam sentimento de receio sobre algum tipo de retaliação contra sua família".
"O declarante [Funaro] sempre orientou sua esposa a atender os chamados de Geddel e informar que estava calmo e tranquilo, justamente para transmitir a ideia de que não tinha a intenção de firmar acordo de colaboração", aponta a transcrição do interrogatório do lobista à PF.
"Essas comunicações reiteradas de Geddel geravam no declarante o sentimento de que estava sendo monitorado e em dado momento passou a ter receio sobre a segurança de sua esposa e filha, já que faziam deslocamentos para o presídio da Papuda [onde Funaro está preso]~em estrada pouco movimentada."
O novo pedido de prisão de Geddel será analisado pelo juiz Vallisney de Souza Oliveira, mesmo magistrado que mandou prender o ex-ministro e negou posteriormente pedido de liberdade apresentado pela defesa . Geddel foi detido na segunda-feira passada (3) e conseguiu ontem (12) o direito à prisão domiciliar.
A suposta preocupação do ex-ministro com eventual delação de Funaro decorre das investigações das operações Sépsis e Cui Buono, que apuram repasses irregulares feitos pela Caixa Econômica Federal a diversas empresas que pagavam propina a agentes públicos. Já são réus na ação penal advinda dessas investigações o operador Lúcio Funaro, os ex-deputados Eduardo Cunha e Henrique Eduardo Alves e mais dois ex-funcionários da Caixa. Ex-vice-presidente do banco público, Geddel Vieira Lima também é investigado por suposto envolvimento no esquema, mas ele não é réu.
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Geddel Vieira Lima chorou em audiência; assista: