Na última sexta-feira (16) foi a público uma entrevista com o empresário Joesley Batista, um dos proprietários do grupo J&F, controladora da JBS, feita pela revista “Época”. A conversa revela mais sobre como o executivo tratava as propinas com Michel Temer (PMDB), o qual se refere como “o chefe da maior e mais perigosa organização criminosa” do país, Eduardo Cunha e Lúcio Funaro.
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De acordo com a publicação, Joesley Batista detalha como era sua relação com Temer desde o início em 2009, 2010, quando se conheceram por meio do ex-ministro da Agricultura Pecuária e Abastecimento Wagner Rossi, que atuou durante os governos de Lula e Dilma. Segundo o empresário, nunca houve um laço de amizade, e sim “institucional”.
Para ele, o presidente o via como um empresário que “poderia financiar as campanhas dele e fazer esquemas que renderiam propina”. Mesmo com a distância afetiva, o executivo da JBS afirmou que sempre teve total acesso a Temer, os dois sempre se ligavam e trocavam mensagens para marcar encontros para conversar sobre interesses políticos, pedidos de favores ou solicitar informações.
Sem cerimônia
O executivo também afirmou que, desde 2010, Temer o pede dinheiro. “Há políticos que acreditam que pelo simples fato do cargo que ele está ocupando já o habilita a você ficar devendo favores a ele. Já o habilita a pedir algo a você de maneira que seja quase uma obrigação você fazer. Temer é assim”, disse ele durante a entrevista.
Segundo o dono da J&F, o presidente o fez diversos pedidos. Alguns eram para financiar sua campanha, oferecendo algo em troca. Mas, em outras ocasiões as solicitações vinham sem nenhuma explicação e sem oferta de favores por parte de Temer.
Joesley cita o caso do jatinho da JBS, emprestado ao peemedebista. “Eu preciso viajar, você tem um avião, me empresta aí”, contou ele, se referindo a maneira como Temer se referia a ele.
PT e PMDB
Ele também confirmou a briga por dinheiro dentro do PMDB na campanha de 2014, revelada por Ricardo Saud, outro representante da JBS, que também está colaborando com a Polícia Federal nas delações premiadas da Operação Lava Jato.
“O PT mandou dar um dinheiro para os senadores do PMDB. Acho que R$ 35 milhões. O Temer e o Eduardo descobriram e deu uma briga danada”, declarou. Após descobrirem, Cunha e Temer pediram R$ 15 milhões ao empresário, que atendeu ao pedido. Foi aí que Temer, até então afastado, voltou à Presidência do partido.
Eduardo Cunha e Lúcio Funaro
A relação do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha com Michel Temer foi sempre de subordinado. “Funcionava assim: primeiro vinha o Lúcio [o operador Lúcio Funaro]. O que ele não conseguia resolver pedia para o Eduardo. Se o Eduardo não conseguia resolver, envolvia o Michel”, disse ele.
Joesley conta que muitas doações eram tratadas diretamente com o presidente, geralmente relacionadas a disputas internas e favores pessoais, mas outras ele acertava com Funaro e Cunha. O empresário não sabe dizer como era feita a divisão da propina entre eles.
O fato do trio estar envolvido “no FI-FGTS, na Caixa, na Agricultura, todos os órgãos onde tínhamos interesses” preocupava o empresário. “Eu morria de medo de eles encamparem o Ministério da Agricultura. Eu sabia que o achaque ia ser grande. Eles tentaram. Graças a Deus, mudou o governo e eles saíram.”
Quando Cunha se tornou presidente da Câmara, ele e Funaro fizeram diversos pedidos de propinas em troca de “abafar” algumas CPIs que citariam o executivo da JBS. No entanto, nem sempre Joesley cedia.
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Organização criminosa
Ao dizer que Temer era o “chefe da quadrilha”, Joesley afirma que os peemedebistas Eduardo Cunha, Eduardo Henrique Alves, Geddel Vieira Lima, Padilha e Moreira Franco eram os membros da “organização criminosa”.
“Quem não está preso está hoje no Planalto. Essa turma é muita perigosa. Não pode brigar com eles. Nunca tive coragem de brigar com eles. Por outro lado, se você baixar a guarda, eles não têm limites. Então meu convívio com eles foi sempre mantendo à meia distância: nem deixando eles aproximarem demais nem deixando eles longe demais”, declarou.
“Refém de dois presidiários”
Durante sua delação a PF, Joesley contou que pagou pelo silêncio de Cunha e Funaro enquanto os dois estavam presos. Segundo ele, “virei refém de dois presidiários. Combinei quando já estava claro que eles seriam presos, no ano passado”.
Cunha o pediu R$ 5 milhões, dizendo que o empresário o devia. “Não devia, mas como ia brigar com ele?”. A verba foi paga ao longo de 2016, para um mensageiro de Cunha, Altair Alves Pinto. Com Funaro a relação foi parecida, assim que o doleiro foi preso, Joesley pagava o dinheiro para os irmãos dele.
Cunha e Funaro sempre diziam que estariam juntos de Joesley. Que não iriam delatá-lo nunca. “Sempre me mandando recados: ‘Você está cumprindo tudo direitinho. Não vão te delatar. Podem delatar todo mundo menos você’. Mas não era sustentável. Não tinha fim. E toda hora o mensageiro do presidente me procurando para garantir que eu estava mantendo esse sistema”. O mensageiro era Geddel, que de 15 em 15 dias o procurava.
Novo depoimento
Na última sexta-feira (16), o empresário prestou um novo depoimento à Polícia Federal, que colabora com as investigações que acusam Temer de corrupção passiva, obstrução de Justiça e organização criminosa.
Conforme decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin, o caso deverá ser concluído até a próxima segunda-feira (19). Com o resultado do inquérito, que utilizará os depoimentos de Joesley Batista e outros executivos da JBS, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot irá apresentar sua denúncia contra Temer.
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