O ministro da Justiça, Osmar Serraglio, reconheceu nesta sexta-feira (23) que a indicação de Daniel Gonçalves Filho para o cargo de superintendente do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) no Paraná, em 2007, partiu da bancada do PMDB na Câmara dos Deputados. Daniel é apontado pelos investigadores da Polícia Federal como "líder do esquema" envolvendo frigoríficos e agentes fiscalizadores, que foi alvo da Operação Carne Fraca na semana passada
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Em nota, o ministro Osmar Serraglio apontou o então deputado Moacir Micheletto, morto em 2012, como responsável por levar aos demais parlamentares do PMDB no Paraná o nome de Daniel Gonçalves Filho.
"O nome de Daniel Gonçalves Filho, em 2007, surgiu do então deputado Moacir Micheletto e foi chancelado pela bancada do PMDB do Paraná e lá permaneceu nos governos Lula e Dilma", diz o ministro no texto.
Em depoimento à Polícia Federal, o ex-assessor do deputado Sérgio Souza (PMDB-PR) Ronaldo Souza Troncha disse que a indicação de Daniel foi apoiada por sete parlamentares do partido, entre eles Serraglio (que era deputado até ser nomeado ministro da Justiça pelo presidente Michel Temer, no início deste mês). A informação é do jornal O Estado de S. Paulo
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O substituto de Alexandre de Moraes no Ministério da Justiça afirmou que qualquer assunto envolvendo o superintendente do Mapa no Paraná era tratado com o governo "em nome da bancada, nunca de forma individualizada".
"Ótimo superintendente"
Segundo Serraglio, a senadora Kátia Abreu, então ministra da Agricultura, só manteria o superintendente no cargo se o nome de Daniel fosse apoiado por senadores do PMDB. "No caso, para o Paraná, ela exigiu a concordância do senador Roberto Requião, o que de fato ocorreu. Assim, Daniel foi ratificado", diz o ministro.
O senador Requião negou ter apoiado a indicação de Daniel e disse que as afirmações de Serraglio nada "nada mais são que uma tentativa de livrar-se do patrocínio da indicação do chefe da quadrilha" (leia nota ao fim do texto).
Kátia Abreu, por outro lado, afirma que, enquanto ministra, "não cedeu à pressão exercida por alguns deputados do Paraná para manter Daniel na função de superintendente do Mapa". A senadora alega ainda que, à época da exoneração de Daniel, ocorrida em abril do ano passado, ela sofreu "grande pressão" por parte de Serraglio e de Sérgio Souza.
A senadora diz que chegou a enviar ao gabinete de Serraglio na Câmara, a pedido dele, uma cópia física do processo contra Daniel, que foi exonerado por supostamente ter atuado para aliviar a punição de um servidor acusado de desvio. "Serraglio e Souza argumentaram com a ministra que Daniel Filho era um ótimo superintendente e que as acusações contra ele eram, na realidade, revanche ou retaliação por parte de alguns servidores que resistiam à sua ativa e eficiente forma de trabalhar", diz Kátia Abreu em nota.
O deputado Sérgio Souza classificou as acusações contra ele como "infundadas" e argumentou que "quem conhece a ministra sabe que ela não é de aceitar e muito menos ceder às pressões".
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"Grande chefe"
Os investigadores da Polícia Federal descrevem Daniel Gonçalves Filho como "pessoa de grande poder e influência no âmbito da superintendência regional do Mapa, mantendo contato direto com parlamentares, seus assessores, e com diversos empresários do ramo agropecuário".
Nas investigações que deram origem à Operação Carne Fraca, a PF grampeou uma conversa entre Daniel e Osmar Serraglio . Na ligação telefônica, o ministro inicia a chamada exclamando "grande chefe. Tudo bom?".
Os dois conversam a respeito da ameaça de interdição de um frigorífico em Iporã (PR), e Osmar Serraglio aparenta querer a ajuda de Daniel para que isso não ocorresse.
Leia nota do senador Roberto Requião sobre as alegações de Serraglio:
O ministro Osmar Serraglio mente. Conforme a própria ex-ministra Kátia Abreu declarou, foram o então deputado Osmar Serraglio e o deputado Sérgio Souza que pressionaram para a nomeação de Daniel Gonçalves Filho.
O senador Roberto Requião opôs-se à indicação de Daniel e sugeriu à ministra Kátia que indicasse um funcionário de carreira do Ministério para o cargo.
Esta é a verdade. Logo, a insistência do ministro Osmar Serraglio de agora eximir-se da responsabilidade pela nomeação nada mais é que uma tentativa de livrar-se do patrocínio da indicação do chefe da quadrilha.