Milícia taxa manicure, chaveiro e até venda de caldo de cana no Rio
Folhas com registros de 'contabilidade' das extorsões foram apreendidas com membro da milícia de Zinho, na Zona Oeste
Trailer de caldo de cana, quiosque de venda de hamburguer, carrocinha de cachorro-quente, banca de jornal, chaveiro, manicure e até uma costureira. A apreensão de 15 folhas da contabilidade da milícia, encontradas por policiais da Polinter e do Departamento Geral de Polícia Especializada, nesta terça-feira, em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, revelam que os paramilitares cobram de tudo e de todos, em pelo menos sete localidades do bairro controladas e exploradas pela quadrilha.
De acordo com a documentação apreendida, as taxas impostas a pequenos comerciantes e camelôs variam de R$ 10 a R$ 200. O lucro com o negócio irregular serve para abastecer os cofres do grupo paramilitar chefiado por Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho. Segundo a polícia, quem não paga perde a autorização para trabalhar.
Os investigadores ainda vão analisar a papelada para ter uma estimativa do total arrecadado, semanalmente e em alguns casos mensalmente, pela milícia com o dinheiro extorquido de pequenos comerciantes e de camelôs da região. Pelo o que foi encontrado na casa onde foi preso Antônio Lúcio Fernandes Forte, o Antônio das Casinhas, de 39 anos, suspeito de ser o contador de Zinho, o valor pode não ser pequeno.
Na residência, além de roupas camufladas, uma pistola 45, munição e carregadores, os policiais encontraram R$ 10 mil em espécie. A polícia vai apurar se o valor apreendido corresponde ou não a parte das extorsões praticadas pelo bando em algumas localidades como Casinhas, Santa Maria, Iracema, Santa Rosa e Pedregoso.
Segundo os registros, R$ 10 foi o valor da taxa estipulada pelos paramilitares para, por exemplo, um chaveiro, um brechó, uma manicure e um pequeno trailer de salgados. Já quantia de R$ 20 foi cobrada pelos milicianos para uma costureira, um barbeiro, um trailer de caldo de cana, uma carrocinha de cachorro-quente e uma banca de jornal, entre outros.
Ponto de venda de sushi, food truck de churrasquinho e até um borracheiro são obrigados a pagar pelo menos R$ 30 semanais. Os valores mais altos (R$ 100 e R$ 200) aparecem nas anotações ao lado de lojas maiores como sacolões e pequenos mercados.
Além da contabilidade, da arma e da munição, a polícia apreendeu ainda o registro da pistola 45 encontrada na casa de Antônio das Casinhas. Apesar do mandado de prisão ter sido expedido em março de 2021, a arma foi registrada em nome do suspeito em setembro.
Para o delegado Mauro Cesar da Silva Junior, da Polinter, a prisão de Antônio das Casinhas vai ajudar a polícia sufocar financeiramente o grupo de Luís Antônio da Silva Braga. Antônio também é suspeito de lavar o dinheiro sujo das extorsões do grupo de Zinho.
"Antônio das Casinhas era o responsável pela contabilidade de toda organização criminosa da milícia do Zinho. E também é suspeito de ser um dos responsáveis por lavar dinheiro para o bando. A prisão pode ajudar nosso objetivo de asfixiar financeiramente o grupo", disse o delegado.
Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho, está com a prisão decretada pela Justiça. Ele substituiu o irmão Wellington da Silva Braga, o Ecko no comando de uma das principais milícias do Rio. Ecko morreu em junho numa troca de tiros com policiais. Além de Zinho, a polícia também tenta capturar Danilo Dias Lima, o Danilo Tandera.
Este último é responsável por comandar um grupo paramilitar que disputa a exploração de negócios irregulares com a milícia de Zinho, em parte da Zona Oeste do Rio, e em pontos de Nova Iguaçu, Seropédica e Itaguaí, na Baixada Fluminense.