Na manhã do dia 25 de agosto, enquanto ouviam Glaidson Acácio dos Santos, conhecido como 'Faraó dos Bitcoins' e dono da GAS Consultoria Bitcoin , aos prantos, alegar inocência, agentes da Polícia Federal corriam os cômodos da casa arrastando uma peça cônica, com uma aba, pelas paredes, móveis e outras superfícies do imóvel.
Encontrado entre os pertences de Glaidson, o objeto era uma chave Whatlock, sistema de bloqueio magnético invisível usado para abrir compartimentos secretos. Depois de uma ampla varredura, nada foi encontrado, mantendo até hoje envolto em mistério o que estaria protegido pela fechadura magnética.
Orientado pelos advogados, Glaidson, muito nervoso, arguiu o direito de permanecer calado. Sua suposta organização criminosa, responsável pela criação de uma pirâmide financeira disfarçada de investimentos em bitcoin em Cabo Frio, na Região dos Lagos, teria amealhado 67 mil clientes, com um volume de R$ 38 bilhões em movimentação financeira de 2015 aos dias atuais.
Porém, até o momento, as autoridades só conseguiram apreender cerca de R$ 200 milhões. Do restante, é sabido apenas que Mirelis Zerpa, mulher de Glaidson que está foragida, conseguiu sacar R$ 1 bilhão em bitcoins após as prisões.
Desvendar os segredos de uma organização que tinha como principal aliada a tecnologia continua sendo, quase dois meses após a Operação Kryptos, o desafio dos investigadores da PF e do Gaeco Federal, unidade do Ministério Público Federal que está cuidando do caso.
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A chave Whatlock é apenas um dos muitos segredos ainda vigentes no rastreio dos bens da quadrilha. Além da barreira tecnológica, os investigadores enfrentam ainda a hostilidade dos investidores, ainda incrédulos com a implosão do esquema de pirâmide e a erosão de sonhos e economias de uma vida inteira.
Uma das linhas das investigações em andamento pretende entender o papel da venezuelana Mirelis Yoseline Diaz Zerpa no esquema. Já se sabe que era ela quem coordenava os trades da empresa. Como provavelmente se encontra nos Estados Unidos, para onde viajou antes da operação, o Ministério Público Federal (MPF) pediu a sua extradição.
Seu nome consta na difusão vermelha da Interpol para extradição. Porém, como dificilmente o governo americano atende a esse tipo de pedido, a esperança dos investigadores é de que ela seja expulsa dos EUA.
Procurados, os advogados de Glaidson, por meio de nota, alegaram que, como a GAS Consultoria ainda não teve acesso a todas as peças da denúncia, não pode se manifestar sobre a chave eletrônica. “Porém, vale lembrar que a GAS nunca se furtou a fornecer qualquer informação”.
Acrescentaram ainda que “como não houve lesão a cliente algum, o principal argumento da defesa é descaracterizar como fraude a operação da GAS Consultoria. Em relação a alegação de que a empresa não estava adequada às exigências regulatórias, importante destacar que, em quase uma década de operação, a GAS jamais foi notificada por órgão oficial algum sobre irregularidades”.