Policiais da 17ª DP (São Cristóvão) fazem desde o início da manhã desta quarta-feira, dia 21, uma operação contra um esquema de lavagem de dinheiro do tráfico de drogas usando uma cooperativa de reciclagem de resíduos. Segundo as investigações, traficantes do Complexo do Caju, na Zona Norte do Rio, usaram a cooperativa de recicladores ambientais Transformando e seus dirigentes para movimentar, entre 2018 e 2021, mais de R$ 50 milhões. Até agora, três pessoas foram presas.
De acordo com a polícia, apenas na Transformando, que tem sede dentro da favela do Caju, os traficantes lavaram R$ 18 milhões. O restante dos valores passou pelas contas de Francisca Erica Abreu Carlos, presidente da cooperativa, Valdir Marques da Silva Filho, tesoureiro da Transformando, e Paulo Sérgio da Silva, que não tem vínculo com a cooperativa. Apenas a conta pessoal deste último movimentou, no período investigado, mais de R$ 4 milhões.
Francisca Erica, segundo os investigadores da 17ª DP, tem rendimentos declarados no Imposto de Renda de R$ 2.826.No entanto, sua conta no Banco Brasil movimentou R$ 18.463.370 entre 15 de agosto de 2018 a 15 de maio de 2020. Entre maio e outubro de 2020, mais R$ 5.987.299 circularam por sua conta corrente, totalizando uma movimentação no período de 2018 a 2020 de R$ 24.450.669.
Beneficiário do auxílio emergencial
Valdir, que além de tesoureiro da cooperativa é companheiro de Francisca Erica, foi beneficiário do auxílio emergencial do governo federal. Apesar disso, movimentou em sua conta pessoal, no período de 2019 a 2021, R$ 4.579.401. Segundo a polícia, Valdir foi preso em 2017 por receptação dentro da própria cooperativa.
Paulo Sérgio, conhecido como Baixinho, realizou 20 saques na conta da cooperativa apenas entrre junho de 2020 e fevereiro de 2021, totalizando R$ 1.488.000. Além disso, de acordo com a polícia, ele movimentou em sua conta pessoal, entre agosto de 2019 e setembro de 2020, R$ 3.695.693. Paulo Sérgio, que não tem anotação criminal e trabalha como motoboy, é responsável por transportar os valores sacados em espécie.
Durante as investigações, foram identificados vários repasses de dinheiro a parentes de chefes da facção que atua tanto no Complexo do Caju como no Complexo da Maré. Uma das filhas de Edmilson Ferreira dos Santos, o Sassá ou Coroa — um dos maiores traficantes de drogas do estado do Rio de Janeiro, ele atualmente cumpre pena na Penitenciária Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte. Outro repasse foi para a companheira de Cicero Fernandes Bezerra da Silva, o Lobo, foragido do sistema prisional. Ele estaria escondido no Complexo do Caju.
As transferências bancárias de Francisca Erica beneficiaram, segundo a polícia, o traficante Paulo Cesar de Andrade Lima, o Motoca, condenado em 2020 por traficar drogas no Complexo do Caju. Ele recebeu R$ 100.000.
O tráfico de drogas do Complexo do Caju é chefiado por Luis Alberto Santos de Moura, o Bob do Caju. De acordo com a polícia, mesmo preso em Bangu IV, no Complexo de Gericinó, na Zona Oeste do Rio, ele continua comandando o tráfico de drogas na comunidade.