O clima de guerra que assustou moradores da Zona Oeste do Rio logo depois da morte de Wellington da Silva Braga, o Ecko, no último dia 12, pode ter sido causado por uma aliança entre rivais do miliciano e matadores do Escritório do Crime. A Polícia Civil investiga se Danilo Dias Lima, o Tandera, e o policial civil Rafael Luz Souza, conhecido como Pulgão, se uniram para tentar invadir as áreas que estão sendo controladas pelo irmão do inimigo, Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho.
Ecko extorquia moradores e comerciantes, monopolizava atividades comerciais e serviços, e emprestava dinheiro com cobrança de juros abusivos, em diversos bairros da Zona Oeste do Rio e de municípios da Baixada Fluminense e da Costa Verde. A prática rendia mensalmente ao miliciano um lucro milionário.
As primeiras tentativas de invasão aconteceram horas depois da morte de Ecko, em Campo Grande e Paciência. Para tentar explorar essas regiões, Tandera tem financiado os ataques com armamentos e soldados, e estaria contado com a ajuda de Ygor Rodrigues Santos da Cruz, conhecido como Ygor Farofa, que compõe o grupo Escritório do Crime, segundo informações policiais.
Farofa foi apontado como um dos quatro suspeitos de assassinar o contraventor Fernando Ignnácio, em 2020. Ele teria entrado na guerra entre os grupos de milicianos, por conta da proximidade do novo chefe da quadrilha de matadores de aluguel, o Pulgão, com Tandera.
Ambos se tornaram inimigos declarados de Ecko. Em 2018, o serviço de inteligência da Polícia Civil chegou a constatar que havia no grupo de Ecko uma promessa de recompensa de R$ 500 mil para quem matasse Pulgão. Já Tandera rachou com o miliciano no final de 2020, depois de não devolver mais de 20 fuzis emprestados pelo antigo comparsa.
A dupla tinha o objetivo de matá-lo, no entanto, com a sua morte durante a operação Dia dos Namorados, passou a querer o que era do rival. A polícia apura se depois de investirem contra a comunidade de Manguariba, eles estariam agora tentando tomar a comunidade Cesar Maia, em Vargem Pequena.
Mas se de um lado Tandera tenta expandir seus territórios, do outro Zinho tenta defender o reduto da família. Ele seria a terceira geração dos Braga que controla a milícia. Logo após a morte de Ecko, ele foi apontado pela Polícia Civil como um dos quatro sucessores do paramilitar.
Zinho foi solto após pagar propina, diz colaborador
Informações de um colaborador, que constam em denúncia do Ministério Público, indicam que Luiz Antônio Braga, conhecido como Zinho, chegou a ser detido pela equipe da 36ª DP (Santa Cruz), em 2017, e solto após pagamento de propina.
Na época, a delegacia era comandada pelo delegado Rodrigo Santoro, que tinha como homem de confiança o inspetor Delmo Nunes. Ambos foram presos depois, acusados de corrupção.
Na prisão de Zinho, os dois estavam de férias. Mas Delmo, ao tomar conhecimento da detenção do miliciano, teria ido pessoalmente pedir desculpas a Carlinhos Três Pontes, então chefe da milícia.
A soltura de Zinho teria ocorrido por ordem do delegado Thiago Martins, que teria exigido R$ 20 mil de propina. Martins teria separado R$ 4 mil em um armário para entregar a Santoro e Delmo.
O depoimento de Zinho chegou a ser incluído no sistema da Polícia Civil, mas deletado. Ele foi recuperado na investigação.