Passageiros de ônibus sofreram tentativa de assalto na Avenida Brasil, e policial reagiu
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Passageiros de ônibus sofreram tentativa de assalto na Avenida Brasil, e policial reagiu


Rodoviário há 40 anos, o motorista Josézimo Soares dos Santos, da Viação Rio Minho, já vivenciou várias situações de violência na carreira trafegando pelo Rio de Janeiro. Mas, na manhã desta quinta-feira (17), viu a morte de perto . Um ladrão, ferido por um tiro disparado por um policial durante uma tentativa de assalto dentro do ônibus que dirigia, caiu na escada dianteira ao seu lado e apontou-lhe uma arma . Exigia que abrisse a porta. Em pânico, Santos demorou a atender a ordem e quase levou um tiro .


Portas abertas, o bandido correu, mas caiu morto cerca de 50 metros adiante, na pista central da Avenida Brasil, no sentido Centro, na altura da Penha. O assalto aconteceu menos de dois dias após  outro roubo a passageiros de um ônibus da linha 712 na Avenida Brasil, que culminou com um tiro na cabeça do enfermeiro Luiz Otávio Rodrigues da Silva, de 27 anos. Seu estado de saúde no Hospital Estadual Getúlio Vargas é gravíssimo.

"Foi uma manhã de livramento . Infelizmente, o nosso sistema psicológico fica abalado, mesmo estando acostumado com a violência no Rio de Janeiro. Foi um livramento não só para mim, mas acredito que para todos os passageiros. porque eles entraram no ônibus já anunciando assalto e tocando terror, dizendo que se alguém se mexesse iam matar todo mundo. Ouvi tiros e o homem caiu na escada ao meu lado. Apontou uma arma e me obrigou a abrir a porta. Esbarrei nas manetes e as duas portas, da frente e a traseira, se abriram. Fui quando passageiros começaram a descer do ônibus em movimento. E uma mulher acabou quebrando a perna", contou o motorista.

A tentativa de assalto aconteceu na manhã desta quinta-feira, em frente ao mercado São Sebastião. No momento de tensão, o motorista acabou abrindo também a porta traseira. Foi quando muitos passageiros apavorados desceram do coletivo em movimento. Uma delas quebrou a perna ao saltar do ônibus. Enquanto isso, o comparsa do bandido morto foi pego pelos passageiros e dominado e espancado.

Moradores de uma favela próxima pegaram o criminoso e o amarraram , mais machucado ainda, num poste próximo.

Dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) mostra que houve uma redução de roubos em coletivos durante a pandemia. Mas, em julho, quando começaram as medidas de flexibilização das restrições para o combate à Covid-19 , o número de crimes dobrou.

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Em janeiro foram 1181 casos registrados. Em fevereiro, 1298; em março, 984; já em abril, foram 489 casos; em maio, 420; em junho, o mesmo; em julho, 846, mais que o dobro ; em agosto, uma leve queda 671 registros.

O presidente do Sindicato dos Rodoviários do Rio, Sebastião José da Silva, se diz descrente em relação aos dados do ISP. Segundo ele, os números estão subestimados porque a maioria das vítimas não vai a uma delegacia registrar o crime.

"O número de ônibus em circulação e de passageiros caiu 50%, 60%. Os dados oficiais são muito precários. Quando se assalta somente bolsas e celulares a maioria dos passageiros não quer ir para a delegacia. E o motorista também, se não levarem as férias do dia. Os dados são muito subestimados por conta dos registros que são feitos oficialmente. A polícia disse que as vítimas podem fazer registros pela internet, mas só fazem aqueles que têm o celular no seguro. A maioria dos usuários não acreditam em investigações da polícia. Sempre que me questionam sobre os dados estatísticos eu digo que são muito subestimados. Com certeza, menos da metade é registrado. Esses dados representam 50% da realidade e na pandemia os roubos caíram mais 50%, que foi o que caiu de demanda. É uma descrença do cidadão ", diz.

Ele reclama de uma interligação entre as empresas de transporte e as polícias na divulgação de imagens de todos os assaltos ocorridos, mesmo os que não tiverem registros, para que sejam investigados.

"Nós tivemos uma corrida do setor rodoviário nos últimos anos para instalar câmeras nos coletivos com alegação de que isso inibiria assaltos, controlaria mais a atividade do motorista. Essa é uma estrutura que deveria estar a serviço da Segurança Pública. Mas vejo mais as imagens sendo usadas para punir motoristas na justiça do trabalho do que para a segurança dos usuários. Qual é o sistema de integração que tem com a segurança pública? A tecnologia está aí disponibilizada e deveria ser usada para diminuir essa insegurança nos ônibus ", argumenta Silva, cuja entidade tem 35 mil rodoviários urbanos cadastrados.

Por meio de nota, a Polícia Militar informou que as imagens de câmeras são para a investigação de outra corporação.

"A Polícia Militar é responsável pelo policiamento ostensivo, que contempla as prisões em flagrante e a manutenção da sensação de segurança no perímetro urbano. Como os números reunidos pelo Instituto de Segurança Pública (ISP) apontam, houve queda na incidência da referida modalidade criminosa, e a Polícia Militar trabalha com esse intuito. Imagens de câmeras de segurança são objeto para perícia e procedimento investigativo, atribuições fora da esfera da Polícia Militar", diz a nota. A Polícia Civil ainda não respondeu .

Gerente de Planejamento e Controle da Fetranspor, o engenheiro Guilherme Wilson da Conceição disse que a empresa criou, em 2015, uma ferramenta virtual que possibilita às forças de segurança a acessarem vídeos de assaltos em coletivos , mesmo os casos em que não houve registros de ocorrência em delegacias, e informações pormenorizadas sobre os criminosos, como modo de agir, local para onde fugiram, onde embarcaram e tudo mais que possa auxiliar nas investigações. O nome da plataforma é Sistema de Acompanhamento de Frotas em Emergência (Safe).

"Quando percebemos o aumento do índice de roubos em coletivos em determinada área, procuramos os batalhões e oferecemos ajuda. Isso já ajudou a diminuir muitos casos em determinadas áreas. O que falta é institucionalizar uma parceria para que todas as forças de segurança tenham acesso a essas informações, desde que servidores sejam devidamente cadastrados e com a senha que podemos oferecer. Na região do Instituto de traumatortopedia (Into), por exemplo, o número de assaltos cresceu muito e informamos isso ao comandante do 4º batalhão (São Cristóvão)", afirmou.

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