A Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e Maricá (DHNSGI) faz, na manhã desta quarta-feira (19), uma megaoperação para encontrar um cemitério clandestino usado pela maior facção criminosa do Estado do Rio e que estaria localizado em Itaóca, em São Gonçalo, na Região Metropolitana. O local seria utilizado para enterrar desafetos e moradores que se opõem a traficantes que atuam na região e em todo o Complexo do Salgueiro - que fica em Itaóca. Um agente foi ferido na ação.
De acordo com as investigações, pelo menos 42 covas existem no local. A ordem para a criação do cemitério clandestino teria partido do traficante Antônio Ilário Ferreira, o Rabicó, chefe do tráfico de drogas do Complexo do Salgueiro, que está foragido da Justiça.
Utilizando técnicas da milícia – que mata e oculta os cadáveres das vítimas – traficantes da região decidiram que não deixariam rastros de seus homicídios. Por ordem de Rabicó, os criminosos da região passaram a sumir com os corpos das vítimas. A Polícia Civil descobriu a prática criminosa há pouco mais de um mês, durante um desdobramento de um homicídio que está sendo investigado na DHNSGI.
Na manhã desta quarta, cerca de 200 policiais - entre eles agentes da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), a tropa de elite da Polícia Civil - com a ajuda de cães farejadores e de militares do Corpo de Bombeiros estão no Salgueiro com o objetivo de encontrar possíveis corpos e ossadas. Por ser uma região tomada por criminosos, a Polícia Civil utiliza três blindados. Uma retroescavadeira também está sendo usada.
Os investigadores descobriram os números de homicídios estavam caindo nos últimos anos em Itaóca. Durante a apuração, notaram que havia uma subnotificação das mortes . Muitos casos estavam entrando nos registros da Polícia Civil como desaparecimentos. Na verdade, segundo a corporação, o traficante Rabicó, mesmo preso numa penitenciária federal, mandava que seus subordinados desaparecessem com os corpos das vítimas. Por isso, há pelo menos três anos o grupo criminoso usa esse método.
Segundo a Polícia Civil, a ordem dos assassinados e o sumiço dos corpos partem de Ricardo Severo, o Faustão; Rayane Nazareth Cardozo da Silveira, a Hello Kitty; Alessandro Luiz Vieira Moura, o Vinte Anos; e John Lennon Correa, o John John ou Skeik. Todos esses criminosos têm mandados de prisão em aberto e estão foragidos da Justiça.
Por medo de outros membros da família serem assassinados, de acordo com a DH, os parentes das pessoas mortas nunca registram os crimes.
Rabicó deveria estar na prisão
No final do ano passado, por quatro votos a um, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) determinou a volta de Rabicó para a prisão. Chefe do tráfico de drogas no Complexo do Salgueiro, ele já havia sido condenado na primeira e na segunda instâncias e tinha uma ordem de prisão preventiva, mas estava solto graças a uma decisão do ministro Marco Aurélio Mello.
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Rabicó teve a prisão preventiva decretada em janeiro de 2015 por um juiz criminal. Em agosto de 2016, Marco Aurélio mandou libertá-lo, mas depois voltou a ser preso. Em abril de 2019, a a Sétima Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ), que compõe a segunda instância, confirmou a condenação já imposta na primeira instância, embora tenha reduzido a punição.
Determinou também que a execução da pena deveria ocorrer depois do trânsito em julgado, ou seja, quando não fosse mais possível apresentar recurso. Mas não se pronunciou sobre a manutenção da prisão preventiva, decretada na primeira instância em razão do risco de voltar a cometer crimes e de integrar uma facção criminosa, e para garantir a ordem pública.
Antes de ir ao STF, a defesa recorreu ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), mas sem sucesso. No STF, conseguiu a liberdade graças a uma decisão liminar de Marco Aurélio, que a levou agora para análise da Primeira Turma. Mas os outros quatro ministros — Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso, Rosa Weber e Luiz Fux — entenderam que a prisão de Rabicó é necessária para a garantia da segurança pública.
Antes de ser solto, ele estava na penitenciária federal de Campo Grande (MS). O traficante possui condenação em três processos criminais por tráfico de drogas e associação para o tráfico. Em nenhuma delas, no entanto, a sentença é considerada definitiva. A defesa de Rabicó ainda está recorrendo na Justiça para tentar diminuir as penas ou absolver o traficante.
Em dois dos processos respondidos por Rabicó , a Justiça já havia autorizado que o chefe do tráfico no Salgueiro esperasse o julgamento dos recursos em liberdade. Ele ainda era mantido preso em um último processo, em andamento na 40ª Vara Criminal do Rio, e no qual o criminoso foi condenado a 10 anos de prisão. Foi nessa ação que o ministro Marco Aurélio deu decisão favorável a Rabicó.
O magistrado argumentou que era grande a possibilidade de o STF mudar seu entendimento sobre a execução provisória da pena, como acabou ocorrendo no dia 7 de novembro. Nessa data, a Corte determinou que a prisão só pode ocorrer após o trânsito em julgado, e não mais após decisão em segunda instância.
Rabicó ainda responde em liberdade a outros dois processos nos quais ainda não foi condenado. Ele também foi absolvido em outras ações. Ao ser preso, em 2008, o traficante era considerado foragido por ter descumprido as regras da liberdade condicional que havia conseguido no ano anterior.
A liberdade do criminoso colocou em alerta as autoridades de Segurança Pública do Rio. Em abril deste ano, traficantes entraram em guerra em São Gonçalo após Thomar Jayson Vieira Gomes, o 3N, que comandava o tráfico no Complexo do Salgueiro para Rabicó ter desafiado o chefe. Segundo fontes do EXTRA, Rabicó determinou que outro comparsa, Antonácio do Rosário, O Schumaker, de 35 anos, executasse 3N para tomar o controle do Salgueiro.
Ao saber dos planos do chefe, 3N se antecipou, matou Schumaker e passou a fazer parte de outra facção criminosa. O receio era de que, em liberdade, Rabicó quisesse se vingar do antigo comparsa. Na nova quadrilha, 3N vem tentando, com frequência, dominar o Salgueiro.