Segundo colegas, Carlos Fernando Dias Chaves vivia dizendo que
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Segundo colegas, Carlos Fernando Dias Chaves vivia dizendo que "ia matar"

Um dia após o sargento Carlos Fernando Dias Chaves confundir um macaco hidráulico com uma arma e matar dois jovens na Pavuna, Zona Norte do Rio, um colega de batalhão do PM afirmou, numa ligação telefônica, que o praça “estava trabalhando com ódio”. Num diálogo entre dois agentes do 41º BPM (Irajá) interceptado com autorização da Justiça no dia 30 de outubro de 2015 — os crimes aconteceram no fim da tarde do dia 29 — , um dos policiais, ao comentar os homicídios, afirmou que o sargento “ficava falando que ia matar, matar e com isso deixou de ser profissional” e que “qualquer um que ele pegasse, ia matar”.

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As escutas, obtidas com exclusividade pelo EXTRA, fazem parte de um Inquérito Policial Militar (IPM) que investiga o recebimento de propinas por PMs do 41º BPM na época dos assassinatos dos mototaxistas Thiago Guimarães Dingo e Jorge Lucas Martins Paes. No diálogo, um oficial do batalhão, que teve seu sigilo telefônico quebrado, pergunta a um praça como a ação aconteceu.

O policial responde que os demais PMs que patrulhavam o local na ocasião “disseram para o Carlos Fernando não atirar, eles gritaram para não atirar, dizendo ‘ninguém atira, não atira, não é arma’”. Em seguida, o PM completa: “O Carlos Fernando mirou e atirou e ninguém entendeu nada”. Quatro anos depois, o sargento ainda não foi julgado nem preso pelos crimes — o processo contra ele segue em andamento na 4ª Vara Criminal da capital.

Durante a conversa, o policial também afirma que o sargento tentou fugir do local do crime: “Carlos Fernando foi até o rapaz e, ao verificar que estava morto, disse para ‘meter o pé’”. Em interrogatório no Tribunal de Justiça, Carlos Fernando afirmou que confundiu um macaco hidráulico que um dos jovens carregava na garupa da moto com uma submetralhadora. No depoimento, o sargento acusou os jovens de fazerem “disque drogas” e disse que só atirou porque pensou que sua equipe estava “em iminente perigo”.

‘Rapaz era de família’

Durante o diálogo interceptado, um dos policiais diz, ao descrever o homicídio, que uma das vítimas “tinha 16, 17 anos, trabalhador, com mãe e pai ali mostrando que o rapaz era de família”. No momento em que foram assassinados, Thiago Dingo, de 24 anos, e Jorge Lucas Paes, de 17, estavam a caminho de uma oficina mecânica. Eles pretendiam devolver um macaco hidráulico que pegaram emprestado para ajudar um conhecido a consertar uma Kombi quebrada.

Um dos jovens, Thiago, havia acabado de saber que seria pai. Comprou enxoval, desistiu do curso de informática que fazia e passou a dobrar o horário de trabalho. Ele não viu Alice nascer, 50 dias depois do crime.

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Sem três dedos do pé

Um ano e dois meses antes de matar os mototaxistas, Carlos Fernando foi atingido por um tiro de fuzil no pé esquerdo disparado por um traficante durante uma operação no Chapadão. Foi operado e teve três dedos do pé decepados. Após oito meses afastado da corporação, o sargento foi considerado apto a voltar ao patrulhamento pela Junta Médica da PM. “Eu trabalho sem metade do pé”, disse Carlos Fernando, em audiência na Justiça.

Durante sete anos, Carlos Fernando foi policial do Batalhão de Operações Especiais (Bope). Desde 2010, estava lotado no 41º BPM, onde integrava o Grupamento de Ações Táticas (GAT), formado por agentes com perfil mais operacional. Em juízo, vários policiais do 41º BPM descreveram Carlos Fernando como “aguerrido”, “proativo”, “com ímpeto de proteger a sociedade”.

Licença médica

Atualmente, o sargento está de licença da corporação para tratamento de saúde. Antes, ele já havia sido transferido do 41º BPM — onde trabalhava desde 2010 no Grupamento de Ações Táticas (GAT), formado por agentes com perfil mais operacional — e só trabalhava em atividades burocráticas no 39º BPM (Belford Roxo).

A PM do Rio tem um histórico de casos em que agentes confundem outros objetos com armas. O mais recente é o da menina Ágatha Vitória Sales Félix, de 8 anos, morta por um tiro disparado por um policial militar no Morro da Fazendinha, no Complexo do Alemão.

De acordo com a Polícia Civil, o PM deu um “tiro de advertência” para forçar a parada de dois homens que estavam em uma motocicleta. O agente alegou que um dos homens portava uma arma. No entanto, segundo testemunhas, o objeto que ele segurava era uma esquadria de alumínio.

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Em setembro do ano passado, o garçom Rodrigo Serrano, 26 anos, foi morto no Chapéu-Mangueira, em Copacabana, por um PM que, segundo testemunhas, confundiu o guarda-chuva que o homem segurava com um fuzil. Até hoje, o caso segue sob investigação.

Em 2010, no Andaraí, um policial do Bope matou um morador depois que confundiu uma furadeira com uma arma. Dois anos depois, o agente foi absolvido do crime.

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