“Por - que foram fazer isso ao Carlinhos? Ele era uma criança ainda. Não fazia mal a ninguém.”, assim, expressava-se, inconsolável, Dona Brígida Furlan Jeffrey, durante o velório de seu filho, em Santos-SP. Ao seu lado, muito abatido, seu esposo, Sr. Benedito Jeffrey, pai do Soldado Antônio Carlos Jeffrey, e o casal de irmãos.
Leia também: No dia da Consciência Negra, saiba quem foi o comandante José Pedro de Oliveira
Dona Brígida tinha razão... “Carlinhos”, seu filho, com apenas 20 anos de idade, solteiro, recém-saído da adolescência, como muitos até os dias atuais, deixou sua família para ingressar na Força como bombeiro. ANTÔNIO CARLOS JEFFREY alistou-se na Força Pública (atual Polícia Militar do Estado de São Paulo-PMESP) no dia 19 de julho de 1968 deixando para trás a cidade de seus pais e sua família, Santos-SP, para a realização de um sonho, pois almejava ser guarda-vidas nas praias do litoral Paulista. Salvar vidas era sua missão. Iniciou sua carreira no Corpo de Bombeiros da Força Pública, cursando, na ESCOLA DE BOMBEIROS, a formação de soldados.
A Escola de Bombeiros localizava-se na Invernada do Barro Branco, na zona norte de São Paulo. 19 de setembro de 1968, exatamente, três meses depois de seu ingresso na Força Pública. Pela primeira vez tiraria o serviço de sentinela em um dos postos do Quartel.
Início da madrugada de 20 de setembro, 01h00h, sexta-feira. O “ Soldado -Aluno” Antônio Carlos desloca-se para a guarita, em substituição de outro colega, que estava de serviço, o também “Soldado-Aluno” Dalmiro Della Rosa, com mesma idade de Antônio Carlos, 20 anos. Estava armado com uma metralhadora marca INA, calibre 45, com carregador municiado com 30 cartuchos. O local era distante uns cem metros da Escola, que ficava em uma elevação.
Uma pequena rua sem saída, na época, sem asfalto, que dava acesso à Av. Engenheiro Caetano Álvares nas proximidades da Rua Sargento Advíncola, local do posto.
De repente, um VW Fusca bordô, em alta velocidade, sem placas, aproxima-se do novato, que tentou pará-lo. Sem pestanejar, fuzilam-no com quatro tiros de revólver. A metralhadora INA e seu carregador foram por eles subtraídos, evadindo-se em alta velocidade.
Os assassinos pertenciam ao grupo intitulado “Vanguarda Popular Revolucionária- VPR” que, pelas armas, tentavam instaurar no Brasil um estado comunista.
Leia também: O dia que o terror alcançou a Força Pública e fez sua primeira vítima
Apesar de rapidamente assistido por um vizinho, que morava aproximados cento e cinquenta metros do posto, e por um colega de serviço, que presenciou ocorrido, em outra guarita, da entrada da Escola, já encontraram “Carlinhos” sem vida. Possivelmente o alvo principal fosse a reserva de armas do CENTRO DE FORMAÇÃO E APERFEÇOAMENTO - CFA, pois existia uma quantidade significativa de armamento.
Era o segundo policial abatido naquele mês. O primeiro, no dia sete de Setembro, em situação similar, fora o soldado JOSÉ CUSTÓDIO DE SOUSA, 27 anos, solteiro, há seis anos na Força Pública, metralhado durante aquela madrugada, quando no serviço de sentinela no prédio do DEOPS-Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo, no Largo General Osório, no centro da Capital.
Menos de três meses antes, outra vítima, MÁRIO KOZEL FILHO, soldado do Exército Brasileiro, que prestava o tempo de serviço militar obrigatório. Kozel, na madrugada de 26 de junho de 1967, estava de sentinela no Quartel General do II Exército, no bairro do Ibirapuera, na Capital Paulista. Por volta das 04h30, uma camioneta, carregada com 50 quilos de dinamite investiu contra o Quartel do Exército, chocando-se no muro. O motorista, que antes saltara, conseguiu fugir.
Com o impacto, O soldado Kozel fora averiguar a situação, tristemente, justamente no momento da explosão, dilacerando e matando o jovem militar. Outros três soldados, também conscritos, ficaram muito feridos na ação da mesma VPR.
Ao saber sobre a execução do soldado Jeffrey, o governador do Estado, Dr. Abreu Sodré, enviou ao Comandante Geral da Força, coronel Antônio Ferreira Marques um telex, com o seguinte teor:
“Com consternação, transmito a V. Exª as condolências do governo do Estado e do governador pelo covarde e insidioso atentado que vitimou, no cumprimento do dever, o soldado-aluno Antônio Carlos Jeffrey, da Escola do Corpo de Bombeiros. Tal atentado, perpetrado com crueldade, repugna a consciência cristã e democracia do povo brasileiro, pois para alcançar sinistros desígnios não hesitam seus celerados autores, como já o fizeram, vitimando o jovem soldado do Exército Mario Kozel Filho, em sacrificar vidas humanas. Rogo a V. Exª expressar aos seus comandados a solidariedade do governador do Estado e à família enlutada os meus sentimentos de profundo pesar.”
O secretário de segurança, o saudoso Heli Lopes Meireles, suspendeu o expediente do dia 21 de setembro, a partir das 15h00, para facilitar a participação dos servidores da secretaria. O Governador não compareceu ao enterro.
Leia também: Conheça a história da Revolução Esquecida de 1924
O Sd. Jeffrey foi velado, a partir das 18h00 do dia 20 de setembro, no Salão Nobre do Corpo de Bombeiros da Força Pública, na Baixada Santista. O Quartel, conhecido por “Castelinho”, ficava na Praça Tenente Mauro Batista de Miranda, no centro de Santos. Desativado em 2008, suas instalações transferidas para o bairro de Gonzaga. O velho prédio, preservado, está contido na área que é da Câmara Municipal da cidade.
No dia seguinte, 21 de setembro de 1968, seu corpo foi saudado com 3 salvas, sete tiros cada, por 10 soldados do Corpo de Bombeiros local, ao som da Marcha Fúnebre, sob os acordes da Banda da Instituição.
Às 09h00, o corpo do soldado Antônio Carlos Jeffrey foi colocado no carro nº 105 do Corpo de Bombeiros, com o caixão encoberto pela Bandeira do Brasil, em sua última viagem terrena, com destino ao Cemitério da Filosofia, no bairro de Sabó, também em Santos. A frente do cortejo, batedores da Guarda Civil. As ruas repletas de populares, que se despediam do herói. o silêncio eram suas homenagens. Uma multidão seguia o carro dos Bombeiros. Ao fundo, o som das sirenes das viaturas que acompanhavam o extinto. Chegada ao Cemitério. No entorno do local de sepultamento aproximadamente 1.500 pessoas. Como se observa, os anos 60 e 70 estão repletos de nomes das forças de segurança que foram assassinados por terroristas e guerrilheiros, sendo que o principal nome na Corporação é o Capitão Alberto Mendes Junior.