Já passava da meia-noite quando os dois traficantes se sentiram seguros para sair do esconderijo e regressar aos pontos de venda de drogas. Um deles portava um fuzil Colt M4 calibre 5.56 e o outro uma submetralhadora 9mm com dois sistemas de mira: um a laser e outro holográfico. O comércio de venda da morte, sob o formato de crack, cocaína e maconha, voltava à normalidade. Só que não. Sem saber, os dois terroristas urbanos eram observados por uma equipe de operadores do COE, os "Fantasmas Verdes" da Policia Militar do Estado de São Paulo.
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O COE
é uma Tropa de Elite altamente treinada no uso de equipamentos, técnicas operacionais e armamentos especializados, aptos a operar em qualquer tipo de terreno e clima, pelo tempo que for necessário, de forma autônoma sem apoio de outras forças. Por motivos de segurança, a maioria de suas missões não são divulgadas e são executadas com extrema discrição. Os seus uniformes de camuflagem verde e sua silenciosa forma de agir, os transforma em verdadeiros Fantasmas Verdes.
"Fazemos essas operações regularmente e dessa vez o foco foi a comunidade Vila dos Pescadores, em Cubatão, litoral de São Paulo. Usando material de inteligência e de várias denúncias anônimas, identificamos a localização aproximada de várias biqueiras (pontos de venda de drogas). O objetivo desta missão era interditar estes pontos, aprender drogas e prender os traficantes", relata o Comandante dessa operação, um Tenente PM do COE, que anteriormente serviu na ROTA, também como Tenente.
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"Não sabíamos a localização precisa das biqueiras, e como essa comunidade é populosa, com muitas viela e becos, iriamos gastar muito tempo até achar nossos alvos, perdendo o elemento surpresa. Para resolver essa situação, optei por uma ação noturna dividida em duas fases. Na primeira o contingente completo de PMs entraria na comunidade usando um procedimento de tomada de território dinâmico e bastante visível, com objetivo de forçar a fuga dos traficantes. Após um certo tempo, sairíamos da comunidade, mas continuaríamos a vigiar ocultamente a movimentação da comunidade", disse o Tenente.
O objetivo desta observação era de monitorar o retorno dos traficantes, identificando com precisão suas características físicas e os locais exatos das biqueiras. Uma vez que alvos e locais estivessem definidos, o Tenente daria inicio à segunda fase da operação: uma ação de choque que consiste numa tomada extremamente rápida, precisa e enérgica, sem dar tempo para que os criminosos reajam, evitando o conflito armado. Mas as vezes as coisas não saem como o planejado.
"Executamos a primeira fase da tomada da Vila dos Pescadores por volta das 21hs, em dois pontos de assalto distintos. A medida que íamos evoluindo no terreno, alguns dos nossos PMs paravam e faziam a segurança do perímetro, enquanto os outros seguiam em frente. Este é um dos procedimentos padrões que possuímos: terreno ganho não é perdido, e as costas dos Operadores que avançam estão sempre protegidas. Em pouco tempo o tráfico desapareceu, todos fugiram e atingimos o objetivo dessa fase. Ainda ficamos um bom tempo patrulhando até que dei a ordem de retirada. Montamos um ponto de observação fora do perímetro da comunidade e, usando visores noturnos, aguardamos em silêncio" continua relatando o Tenente.
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Cerca de meia hora mais tarde a espera começou a produzir resultados. Os traficantes deram ordens para que a população voltasse para as ruas para testar a presença da Polícia, antes de sair dos seus esconderijos. O plano original estava funcionando exatamente como previsto, mas não por muito tempo.
Mais meia hora se passa e, se sentindo seguros, dois traficantes aparecem na rua, um portando um fuzil Colt M4 calibre 5.56 e o outro uma submetralhadora 9mm. Ao ver essas armas, o objetivo da missão mudou imediatamente e sua periculosidade escalou. A apreensão de drogas foi temporariamente colocada de lado, e a prioridade passou a ser a captura das duas armas de guerra, que além de serem usadas pelos traficantes nas comunidades, também são alugadas para criminosos as usarem em assaltos em centros urbanos. O COE finalmente consegue a localização exata e a identificação positiva dos criminosos. Hora de iniciar a segunda fase dessa operação.
Quando o Tenente iria iniciar a ação de choque para prender os dois traficantes, aquele que portava o fuzil M4 5.56 com dois carregadores circulares contendo 100 (cem!!!) munições, começou a caminhar na direção dos PMs do COE. Desconfiado de algo, ele cometeu um erro do qual iria se arrepender dolorosamente: decidiu abrir fogo contra os Fantasmas Verdes. O outro bandido, sem muita imaginação, cometeu o mesmo erro e acionou o gatilho da sua submetralhadora 9mm.
"O tiroteio que se seguiu foi intenso, conseguimos retornar o fogo e alvejar os dois criminosos. Um dos deles caiu sobre o fuzil M4 e foi preso imediatamente, enquanto que o outro fugiu e se escondeu na casa de uma família, ameaçando matar todos, se a Policia fosse avisada. Localizamos ele com facilidade, seguindo seu rastro de sangue. Os dois foram levados para o hospital pelo SAMU e Bombeiros para receber atenção médica", finaliza o Tenente. Desde a saída da sua Base, no dia 9 às 16hs, até o retorno, os Operadores do COE trabalharam 23 horas consecutivas.
Nos somos covardes?
Aproveitando essa operação feita pelos Fantasmas Verdes, finalizo esse texto com a história real de um inacreditável assalto seguido de morte, que aconteceu há exatos 3 anos, quase que no mesmo local desta ocorrência do COE.
Trata-se de um pequeno comerciante da cidade de Cubatão que, ao estacionar o carro na frente da sua residência e ver sua esposa e filho de oito anos entrando em casa, sofreu uma tentativa de assalto por cinco terroristas urbanos armados. Um dos criminosos, disparou uma pistola austríaca Glock calibre .40, acertando um tiro de raspão na sua cabeça e outro na sua perna.
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O comerciante, que é praticante de tiro esportivo, portava sua pistola Imbel .40 legalizada e documentada pelo Exercito Brasileiro, com licença para ser transportada separadamente da munição. Ao se dar conta do que ocorria, ele conseguiu carregar a arma, reagir, matar o criminoso que atirava com a Glock e ferir um outro, enquanto os três restantes fugiram. O veículo do comerciante foi alvejado nove vezes.
Este cidadão reagiu em legitima defesa, protegeu sua vida, da esposa e do filho, e defendeu sua propriedade, usando uma arma 100% legalizada. O que ele fez é certo? No nosso país, não é. Mesmo duplamente ferido, ele foi preso. E o que aconteceu com sua esposa que entregou a arma? Também foi presa por porte ilegal. As leis brasileiras tratam o cidadão que age como um herói como um bandido.
Nossa sociedade se organizou de uma forma macabra, ridícula e perigosa. Para não ter problemas com a lei, o comerciante deveria ter se rendido, entregue sua arma aos cinco terroristas urbanos, permitindo que eles o assaltassem, entrassem na sua casa e barbarizassem sua família. Este é o cenário que nossa sociedade aceita que aconteça. Toleramos e estimulamos a nossa vitimização, a covardia é um valor que cidadãos de bem são levados a aceitar silenciosamente.
Sabe quem é o responsável por essa situação, que nem Kafka e Orwell imaginaram nas suas mais selvagens previsões? Você e eu. Essas são as leis que os políticos, eleitos por você e por mim, votaram e aprovaram. E sabe o que nos dois fazemos nas eleições seguintes? Comemoramos nossa desgraça e passamos atestado de idiotas reincidentes, ao votar nos mesmos crápulas e canalhas de sempre.
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Mas calma, você e eu formamos uma dupla imbatível no quesito da estupidez contínua. Nos conseguimos piorar ainda mais este infindável ciclo infernal de Dante. O que acontece quando os filhos e filhas, netos e netas dos políticos-canalhas originais que elegemos atingem a maioridade? Nos votamos neles. Criamos e mantemos uma verdadeira monarquia hereditária, onde a corrupção é passada de pai para filho com as nossas bênçãos.
- Como é possível que uma sociedade que deseja ser justa, produtiva e democrática crie leis que impeçam seus cidadãos de se defenderem, como no caso do nosso comerciante de Cubatão?
- Como é possível aceitar a existência de leis que libertam criminosos perigosos sem que cumpram as penas a que foram condenados, como no caso dos nossos políticos corruptos que traíram e estupraram a pátria, ou como aquela assassina que mandou matar o pai e mãe e foi solta no dia dos pais para ir curtir uma balada?
- Como é possível produzir leis que não permitem que a Polícia atue na defesa da sua população, punindo nossos homens e mulheres de uniforme quando fazem seu trabalho, resultando no assassinato de 500 agentes da lei apenas em 2017?
Resposta: elegendo durante décadas os mesmos corruptos, criminosos e lesas-pátrias de sempre. Simples assim.