No coração da capital das Filipinas , Manila, existe um lugar onde a vida e a morte dividem o mesmo espaço, literalmente. O Cemitério Norte, o maior da cidade, é lar de milhares de famílias que vivem entre túmulos, lápides e mausoléus, formando uma comunidade tão viva quanto qualquer bairro tradicional.
Ali, o que para muitos é sinônimo de silêncio e solidão, tornou-se cenário de conversas animadas, crianças brincando nos corredores e pequenos comércios improvisados. Os mausoléus, originalmente erguidos para abrigar os restos mortais de famílias abastadas, foram adaptados como moradias. Portas de madeira, ventiladores, cortinas e até televisores dividem espaço com jazigos centenários.
Problema social
O arquipélago das Filipinas possui mais de sete mil ilhas e forma um dos países com a pior distribuição de renda do Leste Asiático.
Segundo o Grupo Banco Mundial, ''1% dos que mais ganham, juntos, captura 17% da renda nacional, com apenas 14% sendo compartilhados pelos 50% mais pobres''.
A vida no cemitério é resultado de um contexto social complexo. A falta de moradia acessível em Manila, cidade de quase 2 milhões de habitantes, e o alto custo de vida empurraram milhares para essa alternativa incomum.
Embora não haja título de propriedade, a ocupação é tolerada por muitos parentes dos falecidos, que veem no cuidado dos túmulos uma forma de manter o local preservado.
Entre as lápides, surgem padarias improvisadas, oficinas de reparos e bancas de comida. Festas de aniversário, casamentos e até torneios de basquete já foram realizados no interior do cemitério. Para os moradores, trata-se de um espaço seguro e comunitário, onde todos se conhecem e ajudam, mesmo que seus vizinhos silenciosos estejam seis palmos abaixo.
No entanto, a realidade é ainda mais dura do que o fato de viver num lugar incomum.
Falta acesso regular a água potável, saneamento e serviços públicos básicos. Além disso, as autoridades locais têm discutido planos para realocar essas famílias, o que desperta debates sobre direitos humanos e moradia digna.
O Cemitério Norte de Manila mostra que a vida pode florescer nos lugares mais improváveis. Ali, entre histórias de amor, luta e resistência, a morte não é o fim, é apenas mais um vizinho.